IRPAA - Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada

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22.07.2023

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Escola de Formação para Convivência com o Semiárido chega à 29ª edição com enfoque na formação de jovens influenciadores

Durante doze dias, cerca de 40 jovens ligados a organizações sociais e movimentos populares de municípios da Bahia, do Piauí e de Alagoas participaram da 29ª edição da Escola de Formação de Juventudes para Convivência com o Semiárido (EFJCSA).

Encerrada nesta sexta-feira (21), a escola teve início no dia 10 de julho e contou com mais de 100 horas de atividades, vivências e troca de informações sobre diversas temáticas que visam aprofundar o conhecimento acerca dos conceitos e práticas que são a base para a consolidação da proposta de Convivência com o Semiárido, difundida pelo Irpaa há mais de três décadas.

A Escola foi realizada no Centro de Formação Dom José Rodrigues (CFDJR), popularmente conhecido como "a Roça do Irpaa", localizado no Jardim Primavera em Juazeiro-BA. O centro possui tecnologias que permitem a demonstração das formas de Convivência, resultado de pesquisas e experiências desenvolvidas pela instituição.

O jovem Denis Teixeira, militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) da Bahia, afirma que a escola proporcionou importantes mudanças em sua vida e suas percepções sobre a região começaram a mudar já no início da formação. "Desde o primeiro dia fiquei maravilhado em conhecer um semiárido enquanto um lugar também com muita potencialidade. Isso fica ecoando ainda nas nossas cabeças e com certeza muda quando a gente olha para o meio que a gente está e aí a gente percebe mais alternativas para gente pensar a convivência com o lugar que a gente mora."

O objetivo da EFJCSA é fomentar a implementação dos conhecimentos compartilhados nas comunidades de origem dos jovens participantes. Para atingir esse propósito, a escola promove a discussão de uma ampla gama de temas relevantes, abrangendo questões como o acesso à água e à terra, a produção agroecológica e animal adaptada ao Semiárido, a educação contextualizada, a educomunicação, a comunicação popular e comunitária, a preservação da biodiversidade da Caatinga, as políticas públicas e os direitos da juventude, bem como questões de gênero e diversidade.

Além disso, aborda práticas de organização popular e associativismo, bem como técnicas relacionadas à produção fotográfica, audiovisual, grafite e expressão corporal. Por meio desses debates, a EFJCSA busca fortalecer o conhecimento e as ações voltadas ao desenvolvimento sustentável e social nas comunidades de origem dos participantes.

Durante a formação, os participantes tiveram a oportunidade de compreender formas apropriadas para viabilizar uma produção agropecuária familiar adequada ao Semiárido. Estudaram a natureza no Semiárido, os regimes de chuvas, os tipos de solos e conheceram as diversas formas de captação, armazenamento e uso da água, manejo correto para aprimorar o criatório, além das formas ecológicas para o cultivo sem prejudicar o solo e a caatinga, utilizando técnicas simples e conhecendo tipos de culturas que melhor se adaptam ao clima da região. Também foram apresentadas tecnologias de saneamento básico rural e reúso de águas, além da produção de biogás.

Layane Souza, que veio de Campos Alegre de Lourdes-BA, destaca que um dos momentos mais marcantes foi a prática de hidroestesia, que consiste em identificar fendas de água no subsolo: “Foi muito interessante porque era uma coisa que eu nunca vi, tanto eu como os meus colegas. A gente fez a prática, sentiu e teve uma noção de como é realmente” Ela destaca ainda a importância de debates sobre Recaatingamento, criação apropriada e a oportunidade de saborear o queijo do leite de cabra. “Fez uma grande diferença porque tinha coisas que eu não tinha contato e aqui além das palestras, a gente teve a prática”.

Estudante da Escola da Família Agrícola de Sobradinho (EFAS), Layane pretende replicar uma série de práticas que aprendeu na EFJCSA. “Chegar lá em casa eu já estou planejando ir na roça da minha mãe, pra gente fazer algo e já tenho várias ideias também para levar para a Escola, que é a parte do registro [das atividades] no Instagram, pra gente tá movimentando as redes”.

O curso ofereceu ainda informações sobre o beneficiamento e comercialização de produtos típicos da agricultura familiar de forma justa e participativa, a partir da organização das comunidades rurais. Também foram discutidas as ameaças enfrentadas pelas Comunidades Tradicionais de Fecho e Fundo de Pasto em relação à especulação e implantação de empreendimentos como mineradoras, parques eólicos e outras investidas do agronegócio, que fragilizam a permanência dos jovens no campo. Todas essas temáticas foram trabalhadas a partir de metodologias participativas, considerando o saber e a vivência dos envolvidos, possibilitando a construção do conhecimento de forma coletiva.

Edilene Ananias, natural de Piripiri-PI, compartilhou entusiasmadamente sua experiência e destacou a importância da abordagem da escola. "Eu adorei, aqui é tudo dentro da nossa realidade que mora no campo." A surpresa positiva veio com a dinâmica da escola, que ofereceu atividades matinais e abordou temas inesperados, como o recaatingamento. "Eu não esperava. Imaginei que a gente ia ficar só em aula e oficinas, conversas, mas aí apareceu pra gente ir para as atividades matinais e isso me surpreendeu muito e me chamou atenção a ideia do recaatinagmento".

O leque de abordagens da escola também impressionou Edilene, pois, segundo ela, para quem vive no campo esses debates nem sempre estão acessíveis. "Todos os assuntos foram bem importantes pois quem vive no campo não tem muito acesso a isso, principalmente em relação à comunicação, e eu tenho certeza que essa experiência valeu a pena. Levarei muitos conhecimentos para onde moro."

Além dos espaços formativos realizados na Roça do Irpaa, os/as participantes também fizeram visitas ao Parque Estadual de Canudos, à sede da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC), à Barragem de Sobradinho e à Escola Família Agrícola de Sobradinho. Esses momentos aconteceram de forma articulada com as temáticas trabalhadas nos dias de formação da Escola, onde os participantes tiveram a oportunidade de discutir as questões hídricas do Semiárido, a ocupação e uso da terra, os valores das comunidades e dos povos tradicionais.

“Quando a gente vai em Canudos, escuta a história de Antônio Conselheiro e do Belo Monte, isso é importantíssimo para a gente entender e saber a importância da luta para a juventude camponesa, da gente tá nessa caminhada, para que a gente continue de geração em geração com pessoas ocupando esse território”, destacou o Denis Teixeira.

Paulo César, colaborador do IRPAA e integrante da comissão organizadora da 29ª EFJCSA, ressaltou a riqueza da experiência vivenciada durante o evento. "Foi uma experiência muito rica desde a troca entre os próprios jovens até os conteúdos que foram conduzidos durante todo esse tempo."

Como tradição nas edições anteriores da Escola, uma solenidade marcante encerrou o evento, na qual todos os jovens receberam certificados de participação e fizeram um juramento solene de retornar para suas comunidades e aplicar o conhecimento adquirido em suas respectivas organizações. "Foi um momento de muita emoção, muitos jovens se emocionaram. Nós da comissão também ficamos emocionados porque foi uma vivência muito intensa, onde os laços de amizades também foram fortes. Eu diria que muitos são pra toda a vida", concluiu.

A Escola de Formação para Convivência com o Semiárido é realizada anualmente desde 1992, com o propósito de capacitar multiplicadores para promover a Convivência com o Semiárido. A cada edição, representantes de instituições de diversos estados da região participam do evento. Ao seu término, eles assumem o compromisso de compartilhar os conhecimentos adquiridos em suas comunidades e regiões, superando as dificuldades existentes e incentivando as práticas já existentes em seus territórios.

Texto e Fotos: Eixo de Educação e Comunicação do Irpaa