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Juventude da 29ª Escola de Formação para Convivência com o Semiárido conhece lugares que marcam a história da região

Juventude da 29ª Escola de Formação para Convivência com o Semiárido conhece lugares que marcam a história da região

Aprender sobre a história não contada nos livros didáticos da Guerra de Canudos e da construção da barragem de Sobradinho; conhecer a experiência exitosa da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc); e a Pedagogia da Alternância e outras tecnologias apropriadas na Escola Família Agrícola de Sobradinho (EFAS). Esses foram alguns dos objetivos das visitas realizadas pelos jovens que participam da 29ª edição da Escola de Formação de Juventudes para Convivência com o Semiárido (EFJCSA) do Irpaa.

Este ano, a Escola de Formação conta com a participação de 40 jovens vindos/as de diversas instituições e movimentos sociais dos estados da Bahia, Piauí e Alagoas, que durante 12 dias compartilham saberes, realizando atividades práticas, teóricas e visitas a lugares que marcam a história da região. Temáticas e discussões que despertam e estimulam os/as jovens a serem lideranças comunitárias e influenciadores da Convivência com o Semiárido.

Ao visitarem o Parque Estadual de Canudos, na última sexta-feira (14), eles/elas tiveram acesso à história de Antônio Conselheiro e da Guerra de Canudos de uma forma diferente do que é, convencionalmente, replicado em diversos ambientes. Canudos passa uma mensagem de luta contra a escravização, provocada por um sistema opressor que explora o mais pobre; mostra a importância da organização do povo, da luta por respeito e dignidade.

A história de Canudos tem muito a ensinar ao Brasil, principalmente a luta pela vida e dignidade, que foram negadas aos mais vulneráveis. Assim como nas “[...] reivindicações dos camponeses e das camponesas na luta diária por nossos direitos, pela alimentação, por uma vida digna, pelo Bem Viver no nosso campo. (...) A gente luta e acredita que uma nova sociedade é possível e Conselheiro nos mostrou isso”, conta a jovem Cláudia de Jesus, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

Nesse sentido, a jovem Débora da Silva, integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), destaca sobre a importância de conhecer a história não contada. “Quando a gente passa a conhecer esses lugares, começa a conhecer a verdadeira história, porque nos livros conta apenas por ‘alto’, não conta os detalhes, não conta como de fato aconteceu (…), com isso a gente passa a conhecer mais as nossas origens, a nossa história”, frisa Débora.

No mesmo dia a turma também conheceu a Coopercuc, em Uauá, uma cooperativa que tem como “carro chefe” o beneficiamento do umbu, fruta nativa da Caatinga. Durante a visita, a diretora executiva e secretária da Coopercuc, Jussara Dantas de Souza, apresentou as instalações e contou a história da instituição. “Receber aqui os visitantes, principalmente, jovens é estimular a conhecer a história da cooperativa e replicar essa história, porque eu tenho certeza que tudo isso que eles vivenciaram aqui, eles vão levar para casa deles, contar para os pais o que viram aqui, e vão tentar colocar em prática alguma coisa, alguma ideia nova. É de grande importância fazer conhecer a nossa história, conhecer os nossos desafios, as nossas conquistas, o caminho trilhado pela Coopercuc durante todo esse tempo”, falou, empolgada, Jussara.

“A Coopercuc tem uma importância muito grande também, porque mostra que um fruto que para muitas pessoas pode achar simples, mas pra quem vive no Semiárido, sabe da importância. Através desse fruto começou a gerar renda, a cidade é reconhecida, dá toda uma visibilidade para as pessoas, que hoje tem a sua autonomia, tem a sua própria fonte de renda”, destaca Débora.

No domingo (16), a programação de visitas foi em Sobradinho/BA. A turma subiu o morro do cruzeiro, que fica ao lado da barragem. De lá, com visão panorâmica do lago e do entorno, as discussões foram sobre diversos aspectos, entre eles: o contexto político, social e econômico da construção do reservatório na época da ditadura militar, o modelo de cultivo do agronegócio e da produção de peixes em tanques-rede e o alto nível de evaporação do lago nas condições climáticas do Semiárido.

A visualização contrastante da agricultura irrigada no entorno da barragem com a informação de que existem pessoas da região que ainda não possuem acesso à água, instigou a jovem Rayssa Sousa, da Escola Família Agrícola da Região de Alagoinhas (EFARA). “Acho desumana, fico triste com a situação. Porque os grandes empresários têm em grande escala e os pequenos produtores não tem nada. E era o mínimo, né? Esse tanto de água que tem aqui”.

Diante das discussões sobre a origem da cidade e também do que observou, Rayssa enfatiza que é importante um olhar mais crítico para o modelo de grandes empreendimentos, que são geradores de desigualdade e não apropriados à região. “O capitalismo erra, errou e errará em todas as formas que ele tentar se aplicar, porque, por exemplo, Sobradinho surgiu por meio da divisão de classes, de separar os pequenos produtores com os grandes empresários [...]”, afirma.

Rayssa destaca que resumiria a vivência de conhecer a região de Sobradinho e quais os ensinamentos que ficam no termo “resistência”, ainda mais pela resiliência do povo que ainda precisa de políticas públicas, da garantia dos direitos.

A juventude também conheceu a Escola Família Agrícola de Sobradinho (EFAS), desde a forma como acontece a Pedagogia da Alternância, com os/as estudantes passando 15 dias na EFA e 15 dias com as famílias, até as práticas de Convivência com o Semiárido que são desenvolvidas no local. O debate foi marcado pelos depoimentos de alunos que vivenciam esse tipo de Educação e que avaliam o quanto mudaram de vida a partir da experiência e conhecimentos adquiridos.

Além de afirmar que gostou de conhecer como funciona uma EFA, com a Pedagogia da Alternância, o jovem do Povo Indígena Tuxi, de Abaré/BA, José Hilton dos Santos, destaca as possibilidades do cultivo consorciado “Agrocaatinga” e os resultados das práticas agroecológicas; principalmente pelo fato dos/as alunos/as “[...] Terem conseguido pegar uma terra que não estava dando produtividade, fizeram o manejo com composto e agora eles estão conseguindo tirar outras produções como goiaba, acerola, entre outros”.

A colaboradora do Irpaa que está integrando a equipe de organização da Escola, Ana Paula Alexandria, destaca que essas vivências em espaços de luta e história são importantes para que as juventudes “descubram o quanto de valor existe na terra onde eles moram e que eles possam também levar essa valorização, inclusive da importância do jovem na sociedade, no campo e façam essa construção social de igualdade também junto às comunidades”.

A programação da EFJCSA começou no dia 10 de julho e termina na próxima sexta-feira. As atividades acontecem no Centro de Formação Dom José Rodrigues, em Juazeiro/BA, onde a turma está aprofundando diversos temas da Convivência com o Semiárido e ainda com atividades práticas realizadas por colaboradores/as e estudantes da República do Irpaa.

Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa
 


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