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Escolas Famílias Agrícolas avaliam tecnologia de Saneamento Rural, celebram resultados e debatem próximas ações

Escolas Famílias Agrícolas avaliam tecnologia de Saneamento Rural, celebram resultados e debatem próximas ações

Desde o ano de 2020, quando iniciou a implementação nas Escolas Famílias Agrícolas (EFA’s), as Estações de Tratamento de Esgoto (ETE’s) com reator UASB abriram novos horizontes. As tecnologias possibilitaram avanços em diversos aspectos, principalmente no saneamento básico das escolas, no cuidado com o meio ambiente e na contextualização do ensino, com abordagens sobre o tema nas disciplinas e projetos pedagógicos. Também, com o reaproveitamento da água na irrigação, potencializou a produção de frutíferas, forrageiras e a criação animal.

No total, 17 EFA’s, que são filiadas à Rede das Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido (REFAISA) e à Associação das Escolas das Comunidades e Famílias Agrícolas da Bahia (AECOFABA), receberam as tecnologias. Nos dias 13 e 14 de setembro, mais de 30 representantes de 16 escolas se encontraram em um Seminário Interdisciplinar para intercambiar saberes e práticas político-pedagógicas envolvendo o tema Saneamento Rural. O evento aconteceu na EFA de Jaboticaba, em Quixabeira-BA.

A programação de atividades teve espaços dedicados à apresentação das experiências nas EFA's, de como cada uma faz a gestão do sistema, de que forma está superando os desafios, os resultados, entre outros. A EFA de Jaboticaba, por exemplo, destacou que depois da implementação conseguiu proporcionar aos alunos um laboratório vivo, com a Agrocaatinga, e intensificar a produção de frutíferas com a água de reúso, gerando uma economia de mais de 13 mil reais apenas em 2022. Nesse mesmo sentido, a EFA de Caculé-BA enfatizou que, com a capineira irrigada, consegue uma produção de 21 toneladas de matéria verde por ano.

A professora e técnica de campo da EFA Avani de Lima Cunha, de Valente-BA, Vanessa Oliveira, avalia o seminário como importante para essas trocas de conhecimentos. “Vai agregar muito no nosso cotidiano da EFA, já que tivemos essas trocas de experiências. Vamos levar para a realidade da EFA algumas experiências que percebemos que podem dar certo”.

Wilton Jânio Silva, professor e monitor da EFA Padre André, de Correntina-BA, também ressalta a relevância desse intercâmbio de saberes entre as escolas. “Você vê que é o mesmo sistema, só que com práticas diferentes; que, às vezes, uma dificuldade encontrada em uma EFA é a solução de outra. Então, essa troca de experiência é muito importante, inclusive para levar e implantar isso na EFA, na qual a gente tem algumas dificuldades, mas não sabia como resolver e agora já sabe!”

Outro destaque das apresentações é o quanto as escolas estão desenvolvendo ações de promoção da importância dessa tecnologia. “A EFA vem fazendo ações de sensibilização de pessoas sobre o tema, passamos para os estudantes, as famílias dos estudantes e mais pessoas, visitantes, em feiras de agricultura familiar, e outros eventos que participamos, a importância desse tema em si e como vem transformando a vida da escola (...) Vem nos dando um bem-estar, a partir desse reaproveitamento do esgoto doméstico, também servindo como laboratório de conhecimento para a escola”, afirma a professora Vanessa Oliveira.

Esse trabalho de incidência política, de seguir em reivindicação, foi enfatizado pela diretora da EFA de Jaboticaba, Iracema dos Santos, durante a avaliação final do seminário. Ela afirma que é preciso “manter o foco no sistema, nas famílias, nos tornar multiplicadores, fazer com que esse sistema se multiplique. O esforço que nós estamos fazendo, interno, vai valer a pena, porque lá na frente, nós diremos que nós fomos construtores dessa política pública, e para isso a gente precisa empenhar, se comprometer, levantar bandeira, demarcar espaço. Não é ninguém que vai trazer, precisamos ir à luta. (...) Força, coragem, alegria! Insiram outras pessoas, outros vão se ver, é importante, vamos trazer outros (órgãos públicos, entidades) para se engajar conosco”.

Iracema conclamou as mulheres presentes no evento a se envolverem mais com o tema e trazer outras para uma atuação engajada. “As meninas, que somos minoria aqui, vamos trazer mais mulheres! Eu digo todo dia que equidade de gênero não é questão de discurso, é questão de prática; viva a equidade de gênero”, convocou.

Na programação do Seminário Interdisciplinar, teve ainda um momento para debater diversos aspectos do tema água como um assunto gerador de discussões no ensino e na atuação das escolas. A outra atividade foi com trabalhos em grupos para sistematizar quais os desafios, os avanços e as ações que podem ser desenvolvidas na gestão dos sistemas, na educação e na incidência política.

Durante a partilha das discussões, os grupos apresentaram desde temas que foram consenso, a partir do que foi evidenciado pelas EFA’s, como a eficiência e adaptação para melhorias do sistema e avanços na aceitação dos produtos irrigados com água de reúso, até os desafios para consolidação de uma política pública e a inserção desse tema nos projetos pedagógicos das escolas. A partir de agora, todos os tópicos elencados devem nortear os planejamentos e as próximas ações das entidades envolvidas.

Em relação aos assuntos que envolvem principalmente a Educação Contextualizada com o Semiárido, a colaboradora do Irpaa, Thaynara Oliveira, pontua que “foi muito importante essa devolutiva e essa sistematização para impulsionar esse debate e para que os educadores e as educadoras que estavam aqui possam estar incidindo politicamente para poder, de fato, essa inserção ser efetivada no projeto pedagógico da escola”.

Culminância de ações

O colaborador do Irpaa André Rocha afirma que os resultados são frutos de um longo processo, que envolvem diversos aspectos, que perpassam a experimentação da tecnologia, “tanto no Centro de Formação do Irpaa, quanto em comunidades de Juazeiro, Sento Sé e Curaçá; em seguida, nas EFA’s, para que tivesse a participação do povo”; depois, no “processo de formação, tanto em comunidades, quanto nas redes (de entidades). Com assessoria nas escolas, que são agentes multiplicadores dessa proposta”; e ainda no trabalho de “Incidência política, dos diálogos com as diversas esferas, que têm potencial para assumir essa demanda do Saneamento Básico com um direito básico humano”.

André avalia que o Seminário “foi um intercâmbio muito rico, porque no corpo a corpo a gente ganha eficiência na troca desses saberes. Então, tivemos a percepção de que a experiência deu certo e está dando certo. As escolas se apropriaram, assim como as famílias vêm se apropriando, e vêm trabalhando tanto a dimensão da gestão da tecnologia enquanto componente da estrutura da escola; vem dando certo o trabalho de contextualização do ensino e também demonstraram que vêm cumprindo muito bem o papel de ajudar as comunidades, as famílias dos estudantes, as organizações do entorno da escola, do território onde as escolas estão inseridas, para que haja uma incidência política, um despertar popular e uma mobilização social para reivindicação do direito ao saneamento enquanto um dever do estado”.

O evento, que foi o primeiro encontro presencial entre as EFA’s contempladas com as ETE’s, teve um tom também celebrativo e, de acordo com André, evidencia a importância das escolas na continuidade dos trabalhos, para além do projeto que foi executado. “Aqui nós tivemos uma continuação do trabalho de assessoria, oportunizando partilha de saberes, mas tivemos a constatação, a consagração de um trabalho que alcançou o seu objetivo e que tem grande potencial de contribuir ainda mais, com a participação dessas EFA’s, na construção da política, do movimento de garantia do Saneamento Rural”.

O Padre Xavier Nichele, fez questão de convidar os/as participantes para um momento especial de conclusão do Seminário. Durante a missa, ele destacou a importância do agir de cada um/a, para que seja atuante com esperança: “Se se perde essa esperança, a qualidade de tudo aqui perde força. Quando uma política não tem uma esperança forte, ela perde, ela desune”, alertou.

O padre Xavier é uma referência na EFA de Jaboticaba por ser o iniciador das atividades ainda no ano de 1992, com uma turma de 37 alunos/as do ensino fundamental. A escola só conquistou a autorização de funcionamento em 1994. Somente em 2006 passou a ter turmas de ensino médio.

O religioso enfatiza a importância da parceria com o Irpaa e afirma que é preciso que todos/as sigam atuando para convencer mais pessoas. “Desde que começamos aqui, o Irpaa estava muito presente e retorna com o Saneamento. Entendi também que é um saneamento da mente, sanar o corpo e sanar a mente. Senti que as EFA’s se expressaram de uma forma convincente. A técnica entra, mas a técnica tem que ser sempre acompanhada com espírito profundo de convencimento, que chega então ao coração. E no coração encontramos a maior motivação, porque no coração que está o Senhor da vida!. Fiquei muito alegre de sentir esta animação que o Irpaa faz do corpo e da mente”.

As ações desse projeto são realizadas pelo Irpaa, com o apoio da Cáritas Alemã.

Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa


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