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Ensino da agroecologia no Nordeste é tema de encontro em Juazeiro

Ensino da agroecologia no Nordeste é tema de encontro em Juazeiro

Pesquisadores/as, professores/as, estudantes, militantes e representantes dos poderes públicos ligados a instituições de educação que trabalham a agroecologia no Nordeste estiveram reunidos/as esta semana em Juazeiro (BA). O evento, que teve início no dia 15 e encerrou nesta quinta-feira (18) na Universidade do Vale do São Francisco – Univasf, teve como propósito aprofundar o debate acerca dos desafios e perspectivas do ensino da agroecologia em nível médio, técnico e na pós graduação.

O “I Encontro dos cursos e iniciativas de ensino em agroecologia do Nordeste”, como foi intitulado, reuniu experiências e também discutiu estratégias de fortalecimentos das mesmas. O vice presidente da Associação Brasileira de Agroecologia – ABA, Flávio Duarte, destaca que “o ensino da agroecologia tem um papel fundamental para a agricultura familiar, para os filhos de agricultores (...) e esse encontro possibilitou a gente vivenciar uma outra dinâmica, uma outra didática, outra metodologia para o ensino da agroecologia”.

Só na Bahia existem hoje mais de 68 cursos de agroecologia, seja em Institutos Federais, Centros Territoriais ou Universidades. Além disso, diversas iniciativas de educação não formal também tem contribuído com a expansão do debate dentro da meio acadêmico. A estudante de engenharia agronômica da Universidade do Estado da Bahia, Tâmara Reis, é integrante do Grupo de Agroecologia Umbuzeiro (Gau) e esteve participando do encontro numa perspectiva de conhecer um pouco como está a discussão em outros espaços e identificar como pode ser feita uma articulação em nível de Nordeste. Para a ela, as principais resistências que ainda existem é a inclusão da pauta dos movimentos sociais dentro dos cursos e a distorção do conceito de agroecologia, inclusive por parte de professores/as.

Uma das experiências socializadas no encontro foi do Programa de Pós Graduação em Agroecologia da Universidade Estadual do Maranhão, sobre a qual a professora Maria Rosangela Silva ressalta a dificuldade da formação social do corpo docente, porém relata que o curso hoje vem se aproximando da comunidade e buscando também discutir políticas públicas em nível estadual, atentando para a diversidade existente no Maranhão, especialmente por está situado em áreas de transição. “Formamos vários profissionais que hoje discutem agroecologia, que hoje discutem o estado do Maranhão numa perspectiva agroecológica. Estamos começando a colher os frutos, que é a juventude que se formou, que estão passando nos concursos, que tem essa vontade de fazer algo novo”, avalia a professora.

Um dos temas pautados nos Grupos de Trabalho foi a construção das diretrizes nacionais curriculares para o ensino da agroecologia, uma contribuição que, de acordo com Flávio Duarte, a região Nordeste quer dar para o país. Além disso, foram pensados encaminhamentos também relacionados à formação inicial e continuada de professores/as e organização e articulação entre os estados.


Por que a agroecologia emerge?


Um dos participantes do encontro que trouxe grandes contribuições foi o pesquisador da Embrapa, José de Souza Silva. Ele lembra que o desenvolvimento chegou como uma promessa do capitalismo, consolidando a sociedade industrial, mas que hoje há uma crise civilizatória e, consequentemente, uma crise do desenvolvimento.

A agroecologia, como um modo de vida que convive e respeita a natureza, é uma emergência dentro desse paradigma de uma sociedade capitalista sustentada nas promessas de progresso e desenvolvimento. Na opinião do pesquisador, é preciso deixar de lado a lógica do desenvolvimento e repensar os modos de vida, começando pela mudança dos indivíduos para assim expandir para o coletivo. Nesse sentido, Souza defende que não há eficácia em apostar no “desenvolvimento sustentável”, “desenvolvimento rural”, “desenvolvimento territorial”, uma vez que não se rompe com essa lógica. “Nesse momento a humanidade precisa de alternativas ao desenvolvimento e não alternativas de desenvolvimento”, resume.

Durante o evento, ele pontuou que é preciso refletir sobre os conceitos, a exemplo da diferença entre informação, conhecimento e sabedoria. Outro elemento que para ele precisa ser observado é a crise do paradigma, entender que as pessoas estão dentro de um paradigma – o do capitalismo com suas promessas de progresso – porém construindo um novo paradigma, do qual a agroecologia faz parte. “Existe uma crise de sentido no mundo, é uma mudança de época histórica, portanto existe rupturas e emergências. A agroecologia é uma emergência, o Irpaa é parte dessa emergência”, acredita José de Souza.

“A agroecologia jamais poderá ser integralmente bem sucedida dentro do capitalismo, porque o capitalismo viola o humano, o social, o cultural, o ecológico, o espiritual, o ético”, diz Souza, apontando como referência o “bem viver”, uma paradigma em construção no mundo, porém com forte experiência na região andina, especialmente no Equador e na Bolívia. Para tanto, ele cita a urgência em aproximar os discursos da prática, chamando atenção para a educação como uma arte de mudar pessoas para que estas mudem as coisas a partir da sua ação cotidiana.

Texto e fotos: Comunicação Irpaa


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