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Congresso Internacional sobre Mudanças Climáticas realizado em Juazeiro evidencia experiências de sucesso do Semiárido e as causas da degradação ambiental

Congresso Internacional sobre Mudanças Climáticas realizado em Juazeiro evidencia experiências de sucesso do Semiárido e as causas da degradação ambiental

As ações de degradação ambiental, causadas pela humanidade, têm intensificado o processo natural de mudança climática. Por isso também, a utilização do termo “emergência climática”; porque é urgente olhar para as causas e para o que pode ser feito para mitigar as consequências das alterações no clima. No contexto do Semiárido brasileiro, mais especificamente no coração dessa região, onde prevalece o bioma Caatinga, o tema foi evidenciado no I Congresso Internacional Sobre Mudanças Climáticas e Suas Consequências em Territórios Semiáridos (I CIMCCTS).

O Espaço Multieventos da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Juazeiro-BA, foi palco para a ampliação de diversas discussões relacionadas a esse assunto, com a presença de pesquisadores/as, representantes de organizações da sociedade civil, profissionais e estudantes.

O início do Congresso teve uma cerimônia de abertura com auditório cheio. Na ocasião, o público teve a oportunidade de apreciar apresentações culturais, com destaque para a Orquestra Som do Coração, de Juazeiro-BA, que, ao final, teve uma performance dos integrantes Joel e a pequena Cecília, que cantaram uma música sobre o cuidado com a Terra, que conclama: “…Cuida do mundo, cuida da vida, cuida de nós, cuida da Terra”.

Além disso, o momento contou com uma mesa política, com representantes de instituições parceiras e apoiadoras do evento. Logo no início, as falas continuaram dando o tom do que ocorreria em muitos dos debates ao longo do Congresso. Um dos destaques foi a fala da vice-reitora da Univasf, Lucia Marisy Ribeiro. Ela ressaltou o fato de que as mais impactadas pelas consequências da degradação ambiental são as pessoas pobres e dos Povos e territórios tradicionais e que, quem vive nessas localidades, são guardiões, protetores da natureza. Entretanto, Lucia Marisy destacou que é lamentável constatar que, mesmo com todas essas contribuições, as populações vêm sofrendo, inclusive “pelas violações dos direitos básicos sobre seu modo de vida, pelo não acesso à terra, à água potável e a políticas públicas como saúde e educação, essenciais para a soberania alimentar e qualidade de vida”.

A vice-reitora enfatizou ainda a causa das atuais ações de degradação ambiental da Caatinga, como a mineração ilegal e o desmatamento; e que “outro problema que já impacta a biodiversidade da Caatinga é a instalação de parques eólicos e de usinas fotovoltaicas (de energia solar), por haver perda da vegetação para a instalação dos parques, onde há muitos animais voadores, como aves e morcegos (...). Não somos contrários ao progresso, mas as inovações tecnológicas precisam ser realizadas de forma sustentável, para que os objetivos pensados possam, efetivamente, serem conseguidos”.

Também durante a mesa política de abertura, o reitor da Univasf, professor Telio Nobre Leite, destacou a importância das pesquisas, que “buscam conhecer um pouco mais sobre os impactos dessas mudanças do clima na fauna e na flora desse bioma [Caatinga], como afeta todas as populações”; além da compreensão interdisciplinar da relação entre o ser humano e o ambiente, a interferência dos interesses políticos e econômicos.

Télio reafirmou o compromisso da Instituição em contribuir no combate ao negacionismo, “especialmente o negacionismo climático, que está muito em voga, com forças econômicas, políticas, muito fortes”. Ele pontuou ainda que a Univasf “vem para se somar a um conjunto de instituições que já existiam, que conhecem tão bem o Semiárido, e com o compromisso, com a vocação, de contribuir com o desenvolvimento desse território, e quando a gente fala desenvolvimento, a gente está falando não só de desenvolvimento econômico, a gente está falando de desenvolvimento social, de forma sustentável”.

Logo após a mesa de abertura, houve a primeira conferência do Congresso. Entre as discussões, o representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Brasil, Jorge Robayo, destacou informações e dados relevantes sobre o tema do evento. Ao citar diversos exemplos, ele afirmou que a agricultura vem sendo impactada pelas mudanças climáticas de forma que já há implicações na segurança alimentar. Robayo também frisou que o contrário ocorre: o setor agrícola influencia na mudança do clima, por exemplo, pelo fato de ser um dos maiores emissores de gases de efeito estufa. Como alguns dos caminhos para mudar esse cenário, o representante da FAO/Brasil apontou: agricultura consorciada, sistemas agroflorestais e agricultura de conservação.

Demonstrando entusiasmo com a proposta do Congresso e com a riqueza de práticas e conhecimentos do Semiárido brasileiro, Jorge Robayo enfatizou: “As experiências, os comentários, as recomendações que saírem desse evento serão muito bem utilizadas pela nossa Organização para compartilhar não somente dentro do país, mas em todo o planeta; esse é um dos nossos objetivos, compartilhar experiências, conhecimentos, ao redor do mundo para fazer frente às mudanças climáticas (...)”.

A programação do Congresso teve grupos de trabalho (GT’s) com temas diversos. Entre eles, foram apresentados, por exemplo, estudos sobre Marcos Legais do país, relacionados às mudanças climáticas; e sobre a experiência de Saneamento Rural Comunitário, com reúso de águas, em Açude da Rancharia, comunidade rural do município de Juazeiro. O evento contou ainda com outras conferências, mesas de debates e oficinas.

Uma das mesas, realizada na noite da quarta-feira (21), provocou reflexões sobre a importância da Agroecologia como uma alternativa para o enfrentamento às mudanças climáticas e a efetivação da justiça social. Participaram dos debates pesquisadores/as da Univasf, o zootecnista e coordenador de projetos no Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), André Rocha; e o presidente da Reserva da Biosfera da Caatinga, Francisco Campelo. Na ocasião, o professor da Univasf, Helder Ribeiro, destacou as ações do Núcleo de Estudos Sertão Agroecológico, mencionando, com um dos exemplos, as parcerias para trabalhar com o Recaatingamento; além da defesa da Agroecologia como uma ciência interdisciplinar que se relaciona com as dinâmicas da vida.

Durante a fala nessa mesa, André Rocha, apresentou detalhes da expansão da região semiárida e de diversos temas relacionados à Convivência com o Semiárido, desde o distribuição das chuvas, que demonstram, por exemplo, que a aridez não é uma novidade no Semiárido brasileiro; até as ações em rede para garantir o estoque de água e as sementes crioulas.

Outro aspecto muito enfatizado por Rocha foi a necessidade de pautar a degradação ambiental. Ele utilizou como exemplo os impactos da degradação ocasionada no Rio Salitre, em Juazeiro, que enfrentou muitos conflitos por água em seu entorno. A partir dos anos 80, com o uso contínuo da irrigação, o volume de água retirado foi maior do que a oferta, fazendo com que o rio deixasse de ser perene. Portanto, o que ocorreu foi “não por mudança do clima, mas por conta de uma má gestão hídrica, um modelo de desenvolvimento que não tinha sustentabilidade”.

Esse exemplo, destacou André, evidencia os impactos causados pelo agronegócio, da agricultura em escala de irrigação. No entanto, as pautas na TV abordam mais a economia de água nas casas, para onde, segundo o pesquisador, se destina cerca de 6%. Esse é o “número nacional e que não difere do mundo, em que 72% da água retirada das fontes é simplesmente destinada para esse modelo de produção (irrigação do agronegócio) (...) Essa conta nunca vai fechar se a gente não trabalhar os grandes vilões da retirada, do uso da água”.

André Rocha enfatizou ainda que a diminuição das chuvas, por exemplo, está relacionada às mudanças climáticas, mas a queda na absorção de água para o subsolo é consequência da ação humana. Para ilustrar isso, ele contextualizou com dados do aquífero Urucuia, mencionando um estudo encomendado pelo Comitê da Bacia do Rio São Francisco, que constatou: “11% de redução das chuvas no oeste da Bahia. Porém a infiltração de água para o subsolo reduziu 34%, isso não é fruto da mudança do clima, isso é fruto da degradação. (...) a gente precisa também falar disso”, alertou.

Essa mesa, que discutiu Agroecologia, contou com muita interação das pessoas presentes no auditório, que questionaram, por exemplo, sobre geração de renda e as políticas públicas de fomento para a agricultura familiar, que ainda são pequenas em comparação aos apoios destinados ao agronegócio.

Sobre a participação em espaços do Congresso, o colaborador do Irpaa André Rocha ressalta a necessidade e a relevância de pautar a Convivência com o Semiárido, que vem sendo implementada “há mais de 30 anos e tem transformado a realidade, sobretudo, de agricultores e agricultoras que vivem na Caatinga (...) cuidando da Caatinga, desenvolvimento sistemas de base agroecológica e trabalhando nessa sustentabilidade que precisamos garantir. Então, é oportuno a sociedade civil vim para aprender e também para colocar os acúmulos, seus ensinamentos, suas práticas daquilo que vem dando certo; para poder ganhar espaço nas políticas públicas; partilhar para que outras regiões possam estar levando isso, aprender com outras experiências que outras regiões trouxeram; então, é de fundamental importância essa interação”.

A presidente do Congresso, professora da Univasf, Yariadner Spinelli, avalia que a iniciativa levantou muitas reflexões sobre o que precisa ser feito para mitigar as consequências das mudanças climáticas, além da preocupação com o que estamos deixando para as próximas gerações. Ela complementa que o evento foi uma “oportunidade de discussão nacional e internacional. Nós tivemos nomes de grande contribuição para esse tipo de pesquisa e para a sociedade. (...) Esse evento vem para contribuir nessa discussão e vai ser muito produtivo para toda população. Tivemos aproximadamente 1.000 inscritos, tivemos muitos mini cursos, palestras, debates, ocorreu também a feira agroecológica e da economia solidária. Eu acho que o objetivo do evento foi atingido”.

O I CIMCCTS foi realizado pela Univasf e a Universidade do Estado da Bahia (Uneb), através do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial (PPGADT), além do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural da Univasf e da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) do Governo do Estado da Bahia. O Congresso contou com o apoio de diversas instituições, entre elas o Irpaa, que foi um dos organizadores da Feira realizada no espaço.

As atividades do Congresso aconteceram entre os dias 20 e 24 de agosto e também reuniu palestrantes de outros países como México e Turquia.
 

Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa


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