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Combatendo as cercas e convivendo com o Semiárido

Combatendo as cercas e convivendo com o Semiárido

Em Juazeiro, cercado por terras utilizadas para o agronegócio, existe o Centro de Formação Dom José Rodrigues. Este espaço pertence ao Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), que, fundado há 27 anos, trabalha em prol da valorização da cultura semiárida e da convivência com esta região.

O Centro foi fundado logo após a oficialização do Irpaa, que aconteceu em 17 de abril de 1990. O nome que dá título ao local homenageia o bispo emérito da Diocese de Juazeiro, Dom José Rodrigues, primeiro presidente e um dos fundadores do Instituto. Ele, junto com outras pessoas empenhadas na observação da região, percebeu que por mais que o local fosse considerado uma região que apresentava más condições de vida, o Semiárido possuía potencialidades, desde que se pautasse a convivência, e não o combate à seca.

Hoje, o Irpaa conta com mais de 100 colaboradores/as, divididos em cinco Eixos temáticos, sendo estes: Clima e Água, Terra, Produção, Educação e Comunicação. De acordo com Érica Daiane Costa, jornalista e colaboradora no Eixo Comunicação, apesar da defesa da Convivência com o Semiárido ser feita em conjunto, existem peculiaridades e estas devem ser consideradas. “Quando se fala em educação deve-se falar também da produção, que vai falar da água, e quando se fala da terra também se fala da mídia, ou seja, por haverem especificidades, é que existem os eixos”, mas a integração de todos esses é indispensável, explica Daiane.

Educação Não Formal

A partir do estudo e da formação específica de cada Eixo, são desenvolvidos trabalhos voltados para as viabilidades do Semiárido, a exemplo das capacitações para grupos específicos, como agricultores/as familiares, professores/as, estudantes. Estas formações abrangem também os/as moradores/as da República do Irpaa, localizada no Centro de Formação. Fundada na década de 1990, a República abriga atualmente 16 estudantes, sendo estes filhos e filhas de agricultores/as. O requisito para conseguir a moradia é a participação ativa em suas comunidades e o objetivo é capacitá-los/las de modo que retornem para compartilhar tais conhecimentos em seus locais de origem. Além de morarem na República, os/as jovens recebem uma bolsa-auxílio mensal e desenvolvem trabalhos no campo.

Hoje estudante de pedagogia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Auriele Santos, de 20 anos, reside na República do Irpaa desde o ensino médio, em que fez o curso técnico em agropecuária. A estudante, que veio da comunidade indígena Tuxi, localizada no município de Abaré (BA), afirma que a entidade foi de fundamental importância na sua construção educacional, profissional e humanística. “Quando viemos para cá, viemos pensando prioritariamente na nossa formação profissional, mas de acordo com as vivências humanísticas, fomos nos tornando pessoas melhores, que ao invés de termos apenas uma formação, queremos passar para outras comunidades, e até para a minha, os trabalhos que são desenvolvidos”, afirma. Esses/as estudantes da República participam também das escolas de formação que são promovidas pelo Instituto e que acontecem no local.

Comunicação para Convivência com o Semiárido

Uma das formações realizadas pelo Irpaa anualmente é o Curso de Promoção das Viabilidades do Semiárido, voltado para estudantes de comunicação social, que acontece anualmente. Em sua sétima edição, o evento, que ocorreu entre os dias 18 a 20 de agosto, abordou temáticas relacionadas aos cinco Eixos e em específico a comunicação. A democratização da mídia, a quebra de estereótipos sobe o Semiárido e o seu povo por parte dos meios de comunicação de massa, foram alguns dos subtemas abordados durante os três dias de formação.

Segundo Luana Dias, estudante do 6º período de jornalismo da Uneb, que participou do curso pela primeira vez, é muito importante repercutir uma informação livre de estereótipos. “Se a mídia mostrar uma produção real, sem pobreza e miséria, e mostrar a arte, cultura, culinária, ajudaria muito a desconstruir essa ideia preestabelecida de que o Semiárido é apenas o que a mídia mostra, e isso, no curso acontece convivendo com as várias formas de possibilidades, entrando em contato com as cisternas, com os animais e com as produções no geral”, opina Luana, que também é monitora de um projeto que Iniciação Científica que pesquisa o jornalismo contextualizado e sua representação na mídia.

Para além do que é mostrado na mídia convencional e de todo preconceito existente em relação ao Semiárido, existe uma contracorrente, que contraria a ideologia capitalista vigente na atualidade. O Irpaa, em seus 27 anos de existência, luta em prol de políticas públicas que favoreçam o bem-estar do povo em seu território de origem, oferecendo meios viáveis de produzir e sobreviver no Semiárido, quebrando o pensamento retrógrado de que a seca deve ser combatida. Relembrando as palavras de Dom José Rodrigues, “Não falta água, falta justiça”.

Por Mayane Santos, Mônica Odilia e Moisés Cavalcante – Estudantes do Curso de Comunicação Social da Uneb- Campus III 


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