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Mesa de discussão do I SIECS tematiza “A educação do campo no Semiárido Brasileiro”

Mesa de discussão do I SIECS tematiza “A educação do campo no Semiárido Brasileiro”

“A educação do campo no Semiárido Brasileiro” foi tema de discussão no segundo dia do I SIECS, na manhã do dia 18 de novembro. Os professores Paulo Rubem, da Universidade Federal de Pernambuco(UFPE), Josemar da Silva Martins (Pinzoh), da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e a Professora Lucia Marisy, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), problematizaram o tema , que contou com a mediação da Professora Ivânia Freitas, da Uneb. Acompanharam a discussão cerca de 200 participantes inscritos/as no Seminário.

Os/as professores/as reafirmaram a necessidade de rompimento da dicotomia cidade x campo, sendo esta uma criação do capital que colocou o campo somente como lugar de produção e a cidade como local de consumo, distanciando o campo da cidade, principalmente, em relação aos direitos, como o da educação. Foi evidenciado que estas são fronteiras que estão se desfazendo, mas que é preciso se respeitar e preservar as diversidades culturais dos povos. Nisto a mesa também apontou as outras formas de produção de economia no campo, que vai além da agricultura, o que tem sido pouco discutido pela educação, sendo que estas formas diversas de economia tem peso nos avanços sociais quando se fala principalmente na distribuição de renda, considerando que ainda há muito em se avançar.

Para Pinzoh, há a necessidade de compreender a diversidade do campo e da educação contextualizada a partir dos seus povos e das suas identidades, ao mesmo tempo que exista um enfrentamento ao conceito colonial que se tem de educação do campo. Na ocasião, ele também apresentou o que considera “novas demandas do campo”, itens de cidadania requeridos pelos povos das comunidades rurais, como as necessidades hídricas e elétricas. “As comunidades querem ter energia elétrica, água encanada, querem ter direitos civis no campo. Defende-se luz para todos, mas não quer discutir produção de energia. Tem que ter uma proposta clara”, problematiza, defendendo a necessidade urgente de equacionar estas questões. E neste contexto, “discutir a educação contextualizada significa discutir esse conjunto das necessidades da vida contemporânea”, avalia.

Paulo Rubem fez um recorte macro sobre as perspectivas de que o Brasil ainda é influenciado pelas grandes corporações, e que estas determinam as políticas agrícolas no país, afastando investimentos na agricultura familiar - setor que garante a maioria dos alimentos consumidos pelos brasileiros. Na avaliação do docente, não faz parte deste projeto investir na qualidade de vida das populações rurais, já que a ideia é esvaziar o campo e garantir áreas para o crescimento do agronegócio.

Ele apontou também a ameaça à Educação do campo no Semiárido com a aprovação da PEC 55/2016, uma vez que a atual situação da educação no campo já é fragilizada: “a PEC é uma ameaça à redução do Estado brasileiro. A ideia é zerar a expansão no gasto público, principalmente, na educação, área que necessita de muito mais investimentos”, disse. Rubem reforçou a necessidade de que os diversos setores da sociedade e dos movimentos sociais precisam fazer uma frente de enfrentamento à PEC e de defesa do Plano Nacional de Educação. “Com a aprovação da PEC, o Plano Nacional de educação está morto, as metas serão engolidas por este ajuste fiscal proposto pelo governo golpista”, defende.

Para a Professora Lúcia Marisy, a Academia pode contribuir em colocar o lugar do Campo e da Educação do Campo, assim como a pauta da classe trabalhadora, na formação dos professores, nos currículos dos cursos de licenciatura. “A formação continuada dos docentes é fundamental para enfrentar esta situação que está posta. Nós precisamos nos comprometer com a população, promovendo a formação continuada dos professores”, acredita. Ela argumentou ainda que “os professores precisam ter acesso a informações específicas de pesquisas, informações que a sociedade precisa para viver melhor”.

Ana Paula Ribeiro, ex-aluna de Escola Família Agrícola - EFA, que teve a oportunidade de estudar do ensino fundamental ao médio em uma EFA, avalia que ainda há muito que avançar na educação para universalizar o ensino contextualizado. Por ter vivido na sua formação escolar uma educação contextualizada, ela definiu como Trabalho de Conclusão de Curso, pesquisar a realidade da escola tradicional no campo, o que a fez perceber as disparidades de ensino e da dinâmica pedagógica entre os dois tipos de escolas: “acredito que um dos desafios da escola tradicional do campo é derrubar os muros entre a escola e a comunidade”, avaliou.

“O que a gente busca é uma educação do campo contextualizada que valorize os sujeitos, oportunizando serem protagonistas da sua própria formação, com uma metodologia diferenciada, com uma proposta pedagógica participada, considerando o sujeito do campo como integrante de sua própria história”, defende Edmundo das Mercês, professor, representante do Território do Sisal. Para ele, espaços como o do SIECS são meios de se fortalecer a luta por este ideal de educação no Semiárido.

A programação
Na programação do Seminário do dia 18 também houve apresentação de trabalhos, tendas temáticas que agitaram a tarde do seminário, Feira de saberes e Sabores, apresentações culturais de grupos de municípios da região. Para encerrar o dia, o lançamento do Filme “Uma aventura no Semiárido”, que foi comemorado ao som do “Samba de Véio” do Rodeadouro.

O SIECS termina neste sábado (19) e está acontecendo no IFBA, em Juazeiro. O Seminário é organizado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa); Centro Territorial de Educação Profissional do Sertão do São Francisco – BA; Fórum Territorial de Educação do Piemonte Norte de Itapicuru; IF Sertão – PE; Universidade do Estado da Bahia (Uneb); Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf); Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Núcleo de Pesquisa e Extensão em Desenvolvimento Territorial (Nedet); Rede de Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido (Refaisa); Secretaria Municipal de Educação de Conceição do Coité e Grupo de Agroecologia Umbuzeiro (Gau).


Texto e foto: Comunicação Irpaa 


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