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Hidroestesistas/Buscadores de Água Subterrânea participam de formação e assumem compromisso com atuação responsável e comunitária

Hidroestesistas/Buscadores de Água Subterrânea participam de formação e assumem compromisso com atuação responsável e comunitária

Há 30 anos o Irpaa desenvolve atividades de identificação e formação de hidroestesistas, que são as pessoas que têm o dom da sensibilidade para encontrar locais com água no subsolo. E, com essas ações, são trabalhados assuntos relacionados às características dos subsolos do Semiárido, detalhes sobre a capacidade de recarga das fendas (espaços entre as rochas, onde as águas se acumulam), formas de identificação de sais presentes na água, gestão responsável e destinação comunitária das águas, entre outros. O curso proporciona ainda atividades práticas para o aperfeiçoamento das técnicas.

O jovem técnico em Agropecuária, Manoel Barbosa, colaborador da Associação Regional de Convivência Apropriada ao Semiárido (ARCAS), de Cícero Dantas/BA, descobriu o dom dessa sensibilidade na Escola de Formação, realizada neste mês pelo Irpaa. Manoel ficou para participar também do curso para hidroestesistas e destaca que já está ciente da responsabilidade que todos devem ter. “Foi muito bom, porque eu tive muitos conhecimentos sobre a área. O uso errado desse dom pode gerar várias consequências”.

Esse compromisso com a missão, principalmente com o zelo e defesa da Caatinga em pé, foi um destaque para a jovem Tamildes Oliveira, do Acampamento Estrada da Liberdade, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Campo Formoso/BA. “Tudo isso vai sendo uma descoberta, entendendo a importância da conscientização das comunidades sobre essa questão da biodiversidade da Caatinga e a importância das plantas nativas para a preservação da água. [...] É um dom, como a gente percebe mesmo, cada pessoa tem a sua forma de identificação. Ao decorrer do curso a gente vai descobrindo como a gente se vê nessa função de hidroestesista, vai se conectando com a natureza”, ressalta Tamildes, que também integra a Cooperativa Agropecuária Familiar Orgânica do Semiárido (Coopervida).

O experiente hidroestesista Josemario Gonçalves, conhecido também por “Bubu”, é um dos orientadores. Ele avalia positivamente esse aperfeiçoamento e pontua que todos/as têm a missão de “levar para sua comunidade, para sua organização local a responsabilidade de fazer esse processo, não só da marcação, mas o processo de gestão, do uso correto da água subterrânea, compreender que nem todas as águas servem para o consumo humano, animal e também para irrigação, devido aos sais”. Bubu enfatiza ainda a compreensão deles/as de olhar para esse bem como algo finito e que “pode vir a secar, devido ao mau uso. Então, o hidroestesista também leva consigo essa bagagem do gestor de água subterrânea”.

A utilização das águas subterrâneas de forma descontrolada é responsável por um cenário cada vez mais preocupante. Já existem lugares, a exemplo da cidade de Lapão/BA, que tem notificação com alerta do risco de desabamento de áreas residenciais, como consequência do alto número de perfuração de poços.

Outro aspecto que tem ganhado, infelizmente, defensores é a prática da chamada agricultura biossalina. Em resumo, depois de um tempo, o solo da área que foi irrigada com água salobra, precisa ser deixado de lado e nem há consenso sobre o tempo que ele estaria regenerado, fértil novamente. Uma questão que não é compatível com as condições de terra da maioria das famílias agricultoras do Semiárido brasileiro, nem com o cuidado da biodiversidade.

Ter um poço para chamar de seu e fazer o que bem entender, embora pareça ser o ideal e almejado por muitas pessoas, é errado. Além de ser uma ação degradante, pode colocar em risco a própria saúde. O colaborador do Irpaa, André Rocha, ressalta que é preciso muita cautela. “Mesmo que tenha a baixa quantidade de sais, que seja doce, o uso doméstico muitas vezes é comprometido, se não passar por um tratamento, devido à infiltração de agrotóxicos, de coliformes, que hoje já são comuns em poços de média profundidade, inclusive”, alerta.

André destaca que a utilização dessas águas deve ser apenas de forma emergencial, a prioridade é das tecnologias já consolidadas de captação de água de chuva. “Em primeira mão: a cultura da captação, o manejo e gestão da água de chuva captada no telhado, no terreiro, nas grotas, nos riachos. Por último, a utilização dos poços, sobretudo em regime comunitário, para possibilitar o uso por pessoas próximas que não tiveram a oportunidade de encontrar na sua propriedade um poço”.

Para contribuir nesse compromisso de sensibilização das pessoas e evitar o agravamento do cenário de perfurações excessivas e de mau uso, “é muito importante que os hidroestesistas tenham esse trabalho de militância, de defesa, de desenvolvimento educativo e cultural das pessoas para o uso consciente responsável das águas subterrâneas”, conclui André Rocha.

As atividades do curso acontecem em Juazeiro desde a última terça-feira(25) e terminam hoje. O evento contou com a participação de 5 representantes de organizações parceiras dos estados da Bahia e Pernambuco. Essa formação proporcionada pelo Irpaa se estende no monitoramento e acompanhamento das ações iniciais dos/as participantes nas suas instituições e localidades.

De acordo com levantamento feito pelo Irpaa, aproximadamente, pouco mais de 100 hidroestesistas atuam em diversos cantos do Semiárido nesse trabalho de defender e garantir o acesso emergencial à água de forma sustentável, proporcionando independência para as famílias de comunidades, frente à politicagem dos carros-pipa, nos picos de escassez das estiagens prolongadas.

Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa

*Editado em 31/07/2023
 


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