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ASA dá mais um passo em direção ao seu Programa de Saneamento do Semiárido e realiza a 2ª Caravana de Saneamento Rural

ASA dá mais um passo em direção ao seu Programa de Saneamento do Semiárido e realiza a 2ª Caravana de Saneamento Rural

De 23 a 26 de outubro, técnicos e técnicas da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), representando sete estados, percorreram 400 km no semiárido baiano para visitar experiências de saneamento rural.

Com foco na gestão coletiva destes sistemas, a caravana visitou a zona rural de Juazeiro e os municípios de Jaguarari, Jacobina e Quixabeira. Com técnicas e modelos variados, as estruturas de saneamento rural têm a função de coletar as chamadas “água cinzas”, provenientes de ralos e pias, e também as “águas fecais” oriundas de fossas para serem tratadas e, em alguns casos, utilizadas na irrigação.

Essa é a segunda caravana realizada em 2024 e organizada pelo GT de Saneamento Rural da ASA. Em setembro, o grupo percorreu 400 km do Sertão do Pajeú à Chapada do Apodi.

A gestão comunitária do saneamento rural

O Semiárido brasileiro já possui experiências com tecnologias de tratamento de águas totais (cinzas e fecais) em escala familiar e comunitária consolidadas. Em Quixabeira (BA), a Escola Família Agrícola (EFA) de Jaboticaba, que atende 233 estudantes, do 8º e 9º ano do ensino fundamental e do 1º ao 4º do ensino médio, possui um sistema de tratamento de águas totais com reator UASB e lagoas de polimento ou desinfecção (foto). Toda a gestão do tratamento das águas é realizada pela própria escola, e inclui a direção, professores, estudantes e colaboradores.

Agrocaatinga irrigada
Em 2024, a EFA de Jaboticaba colheu 730 kg de abóbora, 4. 800 kg melancias, 69 kg de maxixe e 120 kg de milho verde. São 3 hectares de policultivo de frutíferas irrigadas com água de reúso, aquela água tratada pelo sistema de saneamento da escola.

A instituição mantém ainda uma área de Agrocaatinga, agrofloresta adaptada à Caatinga, com maracujá do mato, forrageiras, plantas nativas e frutíferas. Em 2020, outras 16 EFAs conquistaram seus próprios sistemas de saneamento, via projeto executado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), que faz parte da ASA.

Iracema Lima dos Santos, diretora da escola, conta que para que o sistema de saneamento funcione, o trabalho de educação ambiental precisa ser intenso. Quando os estudantes chegam pela primeira vez na EFA, eles são convidados a conhecerem o sistema e aprendem as regras para seu bom funcionamento.

A escola teve que construir uma uma caixa de sedimentação para evitar o entupimento de bombas, por exemplo. A professora de matemática, Thais da Silva Ribeiro, uma das responsáveis diretas pelo funcionamento do sistema de saneamento na escola, conta que desconfiou que a demanda estava sendo maior que a capacidade de tratamento. Levou as e os estudantes, que estavam aprendendo funções matemáticas, para calcular o volume de esgoto gerado e confirmaram que precisavam de uma quarta lagoa de desinfecção.

Tratamento de águas cinzas e fecais para reúso em sistemas agrícolas: uma bandeira da ASA


Na foto, o teste de cores indica uma boa redução da quantidade de matéria orgânica da água. Para que seja utilizada na irrigação, a quantidade de matéria orgânica precisa ser menor que 1%. Na comunidade Açude da Rancharia, zona rural de Juazeiro (BA), a água, tratada pelo sistema baseado em biodegradação e desinfeção por radiação solar, é reutilizada para irrigação de forrageiras e frutíferas. Em novembro, a ASA discutirá em seu encontro nacional, o X EnconASA, uma proposta de saneamento rural para todo o Semiárido, com reúso de água para atividades agrícolas.

A gestão comunitária do saneamento rural requer educação ambiental de toda a comunidade
Em um sistema de gestão de saneamento comunitário, todos os usuários precisam contribuir. Não jogar resíduos sólidos e nem gordura na pia, dentre outras práticas, são essenciais para o bom funcionamento das tecnologias de tratamento.

Adailton Almeida, presidente da Associação dos Moradores Criadores e Produtores Rurais de Açude da Rancharia e Vizinhanças (AMCPRARV), que gerencia o abastecimento da água e o tratamento do esgoto de 36 famílias sem a presença do estado, mostra as regras que todos os usuários devem seguir, inclusive os visitantes.
“Impactou muito na comunidade. Foi um desafio, a responsabilidade era grande, porque partimos do nada. Se desse errado, seria ruim para as outras comunidades", comenta Adailton quando relembra da implantação do sistema.

Experiências prévias: tecnologias comunitárias e seus desafios de gestão

Em 1983, o banco público alemão KFW, junto com os Governos da Bahia e Ceará, incentivou a construção de sistemas simplificados de água e esgoto em áreas rurais. Anos depois, constatou-se uma falta de manutenção nesses sistemas. A solução foi promover centrais de associações para reduzir custos de gestão. Na foto, o sistema de tratamento de esgoto da comunidade Olhos D’Água do Goes, na divisa com Miguel Calmon (BA).

O sistema é gerido pela Central de Associações Comunitárias para Manutenção dos Sistemas de Saneamento. Um dos grandes desafios da comunidade é que o Rio Itapecuru está muito poluído, completamente eutrofizado, ou seja tomado por plantas e assoreado e sem fluxo. O esgoto, mesmo quando tratado, deve ser despejado em fluxos de água contínuos, para que a matéria orgânica contida nele possa ser diluída.

Central de Associações Comunitárias para Manutenção dos Sistemas de Saneamento
A Central de Associações Comunitárias para Manutenção dos Sistemas de Saneamento tem sede em Jacobina - BA, é composta por 75 associações de moradores e atua na gestão do abastecimento de água e tratamento do esgoto em comunidades rurais que querem aderir à sua prestação de serviço.

A atuação da Central se dá por meio de autorizações concedidas pelos municípios e sua função não é a de estruturar sistemas de saneamento e sim realizar a gestão. A Central Jacobina atua em três territórios no sertão da Bahia, atende 10 mil casas e 154 comunidades, conectadas por 38 sistemas. No Ceará existe a SISAR, com funcionamento semelhante.

Na foto, Jafitania Araújo Vieira, coordenadora social da Central, mostra o almoxarifado, com peças utilizadas na manutenção do sistema. Ela destaca que um dos grandes desafios da Central é incluir mulheres em sua estrutura. Hoje, a grande maioria dos presidentes de associações e dos operadores do sistema ainda são homens.

O abastecimento recebe mais atenção e investimento do que o esgotamento


"Tratar esgoto é desconfortável, ninguém quer fazer”, resume André Rocha, colaborador do IRPAA e integrante do GT de Saneamento Rural, ao analisar que, historicamente, o abastecimento recebeu mais investimentos do Estado, e o esgoto foi esquecido, principalmente nas áreas rurais. Na foto, o sistema de abastecimento de água do povoado Jenipapo, em Jacobina.

Já na comunidade Juacema, município Jaguari, há 20 anos, o Estado construiu um sistema de saneamento rural baseado em uma lagoa de estabilização facultativa, onde há desenvolvimento de bactérias aeróbicas e anaeróbicas. Hoje, a lagoa, super dimensionada para o tamanho da comunidade, se encontra com rachaduras e tomada pela vegetação, sem cumprir sua função.

Texto e fotos: Lívia Alcântara / AsaCom 


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