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Seminário de Mudanças Climáticas marca formação modular com Escolas Famílias Agrícolas

Seminário de Mudanças Climáticas marca formação modular com Escolas Famílias Agrícolas

Mudança no clima é um processo natural, isso é certo. Já a aceleração das alterações no clima tem causa e é, cada vez mais, urgente debater: por quê? As respostas para essa pergunta são indiscutíveis: as diversas degradações ambientais causadas pela ganância humana, pelo sistema econômico capitalista que visa apenas o lucro; o consumismo; ações de mitigação ineficientes e tantas outras.

Esses temas estiveram entre as reflexões provocadas durante o Seminário de Mudanças Climáticas, realizado com a participação de professores/as e monitores/as das Escolas Famílias Agrícolas (EFA’s); no total, 27 Escolas estiveram representadas. A atividade, que aconteceu entre os dias 27 e 29 de novembro, em Jacobina-BA, fez parte do cronograma de uma formação modular com as EFA’s. Após 5 oficinas territoriais, agregando as Escolas por proximidade, esse próximo módulo, com seminários, conta com a participação de todos/as participantes, sendo, portanto, uma oportunidade de integração e aprofundamento de temas específicos.

A programação do Seminário começou na noite do dia 27, com um bate papo que contou com a participação do filósofo, compositor, cantor e assessor das pastorais sociais, Roberto Malvezzi. Gogó, como é conhecido popularmente, conduziu, de forma remota, um momento de reflexões importantíssimas sobre o nosso lugar no universo; as características e extinções do planeta Terra ao longo do tempo e as relações com a “terra”, principalmente as questões que envolvem afetividade com a natureza e o entendimento de Território como lugar de ancestralidade, por exemplo.

Seguindo a temática do evento, Malvezzi fez abordagens mais amplas; mas, ao relacionar com a realidade atual, não perdeu de vista questões fundamentais. Entre as discussões, pontuou ainda que, quando as pessoas pensam no futuro, o que necessitam para realizar os sonhos, observa o fato de que quase não mencionam o óbvio: precisamos de água! Além disso, reforçou que a humanidade precisa se atentar para as principais causas da emergência climática: o desmatamento dos biomas, inclusive tendo a agropecuária em escala como vilã; e a emissão de gás carbônico.

Para compreender melhor as mudanças climáticas, é fundamental se apropriar de assuntos relacionados ao clima. Por exemplo, quais as especificidades do Semiárido? O que temos de desafios atualmente? O que está proposto, principalmente em relação à transição energética, é o caminho? Essas foram algumas das perguntas que nortearam as discussões no segundo dia da atividade, conduzidas por colaboradores do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa).

A professora e monitora da EFA de Anagé-BA, Geisa Ribas, destaca que esses assuntos abordados no seminário trouxeram “questões que a gente não estava discutindo ainda e a gente poder levar isso para nossas escolas. Eu acredito que é de grande valia falar sobre o clima, nossa vegetação e cultura; tudo isso foi discutido de forma leve e abrangente, dentro da nossa realidade. Também falamos sobre as políticas públicas que a gente tanto prega e tanto busca, mas voltadas exclusivamente para nossa realidade. Então, não apenas trabalhar as questões de mudança do clima, mas quais práticas estão fazendo com que o clima mude”.

Nesse sentido, para não perder de vista as questões “macro”, mas também olhar para as “responsabilidades locais” e o que temos de caminhos, o colaborador do Irpaa, André Rocha, complementa:

“Precisa desta atualização para entender o próprio clima como ele é, mas agora nesse contexto de mudanças, entender também as mudanças climáticas globais que impactam o território, seja com o crescimento e expansão do território, transformando climas de outras regiões que não eram, agora em Semiárido; ou, a própria experiência de Convivência com o Semiárido, na sua natureza, que agora pode muito bem se aplicar a esse processo de adaptação às mudanças, ou de combate às causas das mudanças climáticas, de mitigação do impactos indesejados, e assim poder estar contribuindo para a melhoria contínua desse processo de contextualização do ensino das EFA’s”.

A programação do último dia provocou reflexões para evidenciar as potencialidades, com o entendimento de que existem caminhos de convivência com a realidade climática, que o Semiárido tem comunidades resilientes, com experiências exitosas. Entre os destaques, o convidado, Giovanne Xenofonte, ressaltou: a força da agricultura familiar, que tem práticas resilientes ao clima; a importância das outras economias existentes nas comunidades, como as relações de troca e a renda não monetária realizada pelas mulheres nos agroecossistemas; o Recaatingamento e o reúso de águas. Giovanne, que integra a Assessoria de Coordenação da Associação Programa Um Milhão de Cisternas para o Semiárido (AP1MC), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), ressaltou ainda a importância das experiências de descentralização do acesso à água, como do Programa Cisternas, e agora com os novos programas da ASA: de saneamento rural com reúso de água e de 1 milhão de tetos solares.

“Refletir sobre esses conteúdos, sobre nossos ganhos e, acima de tudo, refletir sobre o que está acontecendo na nossa prática cotidiana ajuda muito nesse processo de construção do conhecimento. Então, eu acho que saímos daqui com um conjunto de pessoas mais preparadas, vamos dizer assim, pra fazer essa reflexão com seu público lá nas comunidades. A gente ganha muito com isso, principalmente no que diz respeito a qualificar a nossa ação, nossa reflexão sobre as nossas práticas e a nossa resistência, sobretudo, ao que nos agride hoje: o agronegócio, que tenta cooptar a agricultura familiar. A gente saiu se entendendo melhor enquanto agricultores e agricultoras, professores e professoras; e também mais resistentes a todas essas ameaças que chegam em nosso Território (Semiárido)”, enfatiza Giovanne.

Potencializar a resistência às ameaças exige atitude. Isso é o que a coordenadora pedagógica da EFA Mãe Jovina, de Ruy Barbosa-BA, Jaíne Moraes, destaca. “Nosso futuro precisa das ações, porque sem as ações a gente não consegue construir o mundo que a gente quer, o Brasil que a gente quer; a gente não sobrevive a teorias”. A educadora frisa ainda que vai levar à frente o trabalho de multiplicação dos saberes, um dos objetivos do evento. “Somos agentes que vamos compartilhar essas informações com nossos educandos, com nossa equipe; aprendemos algumas temáticas que são importantes e que vamos trabalhar dentro do ambiente escolar”, conclui.

Essa missão de multiplicar os conhecimentos foi ressaltada durante a avaliação. As pessoas que participaram reafirmaram a importância de pautar nas diversas atividades junto aos/às estudantes e comunidades os temas discutidos no evento, principalmente as ameaças ao bioma Caatinga e às comunidades tradicionais. Este último assunto se relaciona com o debate da transição energética, que é utilizada para “justificar” ações equivocadas e degradantes de empreendimentos, que vêm impactando negativamente as comunidades tradicionais. O assunto foi um dos destaques pontuados pelo assessor internacional da Cáritas Alemanha, Markus Breuss, que também esteve presente no seminário. “Temos que apoiar nossas comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, que estão defendendo (a Caatinga, os modos de vida). Comprovadamente, onde tem indígena, comunidades tradicionais, a terra está mais preservada que em outros lugares. Então, é uma linha de argumentação muito importante também”.

Pelo modo como os empreendimentos energéticos têm sido implementados, André Rocha ressalta que vão na contramão da dita “sustentabilidade”. “Nesse processo de transição energética, o que existe muito é um contraditório, em que, na necessidade de mudar a matriz energética do petróleo para as energias renováveis, o que deveria ser limpa se torna suja quando a aposta é na instalação de grandes usinas, eólica ou solar, que na sua própria instalação já causa uma degradação enorme; e ainda deixando de fora as comunidades, que não participam do processo e não ganham nada com isso. Pelo contrário, ficam com a degradação dos territórios, sejam ambiental, cultural e toda riqueza indo parar na mão de poucos. Então, nós fizemos uma discussão que esse modelo não se aplica à nossa realidade e não é, de fato, gerador de sustentabilidade”.

Na sequência dessa formação modular com as EFA’s, ainda serão realizados mais dois seminários. O próximo, com o tema Educomunicação, está previsto para março de 2025. A iniciativa é uma realização do Irpaa, em parceria com a Rede das Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido (Refaisa) e a Associação das Escolas das Comunidades e Famílias Agrícolas da Bahia (Aecofaba); com o apoio da Cáritas alemã.

Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa


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