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"Se o rio morrer será a morte de todos nós", alerta Dom Luís Cáppio

A certa altura da palestra Dom Frei Luís Cáppio parou, olhou com firmeza para o público e com o punho direito fechado, chegou a dar duas batidas firmes no púlpito onde estava, ao tempo em que dizia: “O Velho Chico não pode morrer! O Velho Chico não pode morrer”. Esta fala foi uma das mais marcantes da palestra “Qual o mundo que queremos deixar para os nossos filhos?”, proferida pelo Bispo de Barra-BA, na noite da segunda (27), no auditório da Biblioteca da Universidade do Vale do São Francisco - Univasf, em Petrolina-PE.

Dom Luís, como é conhecido o religioso, chegou a fazer dois jejuns em defesa do São Francisco e contra o modelo de transposição das águas do Velho Chico. Ele recordou os momentos de dificuldade e aprendizado com os jejuns, que ocorreram em 2005 e 2007, momento em que o governo federal aprovou o projeto de transposição. “Cada dia que passava eu me sentia mais debilitado, mais próximo da morte e eu imagino que seja a mesma experiência que o Velho Chico passa. Cada dia ele [o rio] se sente mais debilitado e mais próximo da morte. E nós não podemos deixar o rio morrer, porque se o rio morrer será a morte de todos nós”, alerta o Frei.

O bispo diz perceber que o rio segue num processo acelerado de degradação. Segundo Dom Luís, o “grito” em defesa do Velho Chico “foi ouvido pela população, mas não foi ouvido pelos grandes responsáveis [os políticos], aqueles que têm o poder dos recursos na mão para dar uma outra destinação ao rio”, reclama.

Na avaliação do religioso é incorreto dizer que o São Francisco está na Unidade de Tratamento Intensivo - UTI, como é comum ouvir, tanto nas conversas do dia a dia, quanto nas produções da imprensa. “O Velho Chico não está na UTI... Está na fila do SUS [Sistema Único de Saúde] e não sabe quando será atendido”, fala Dom Luís, fazendo uma analogia entre a preocupante situação do rio e a de milhares de pessoas que aguardam em condições precárias por atendimento no sistema público de saúde.

Dom Luís voltou a se posicionar contra as transposições do São Francisco argumentando que o rio nunca teve ações eficazes de revitalização, o que o faz “morrer dando a vida”. O Bispo de Barra acredita que é preciso “manter viva a luta pela vida” do rio e fazer “tudo o que for possível” para salvar o Velho Chico. “Se o rio morrer, leva junto o nosso caixão”, aponta Dom Luís Cáppio.

A palestra foi organizada pelo Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas – CRAD/Univasf. O projeto atua diretamente para recuperação e conservação de áreas prioritárias da Caatinga, a exemplo dos trechos devastados com a construção dos canais da transposição.

Quase como uma resposta à provocação proposta no tema da palestra, o religioso disse que “as futuras gerações têm o direito de receber o rio vivo, como nós recebemos”. Ao final, enquanto o público o aplaudia de pé, Dom Luís empunhou um copo d’água e disse desejar que “os nossos filhos possam ter um copo d’água cristalina”.

Texto e foto: Comunicação Irpaa 


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