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Comida saudável: uma questão de saúde para as pessoas e o planeta

Comida saudável: uma questão de saúde para as pessoas e o planeta

A saúde do planeta é colocada na pauta das discussões mundiais em, pelo menos, uma data a cada ano: 7 de abril, Dia Mundial da Saúde. Este ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS), definiu “Nosso planeta, nossa saúde” como tema motivador para os debates.

Em um mundo cada vez mais conectado é preciso estar atenta/o aos diversos fatores que podem influenciar na nossa saúde. A padronização da alimentação em detrimento da diversidade e o uso de agrotóxicos, por exemplo, são ações que têm fragilizado a saúde das pessoas e do ambiente. Sobre o assunto, nossa equipe conversou com a nutricionista Valéria Paschoal, mestra em nutrição e pediatria, diretora da VP Centro de Nutrição Funcional, docente e pesquisadora dos alimentos da biodiversidade. Valéria tem prestado serviço de assessoria, no campo da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), aos agricultores/as familiares através do Projeto Bahia Produtiva, uma ação da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), órgão ligado ao Governo do Estado da Bahia.

Nesta entrevista, Valéria fala sobre o risco do consumo de alimentos transgênicos ou cultivados com agrotóxicos, e aponta as plantas da Caatinga como “a solução da alimentação para o mundo”.


Irpaa: Para começar a nossa conversa, qual a relação entre a alimentação e a saúde?

Valéria Paschoal: A relação da alimentação com a saúde é total, aliás, já é muito conhecido aquele ditado “Nós somos o que comemos”, na verdade, o que comemos, o que digerimos, o que absorvemos, e para isso, eu tenho que ter uma alimentação natural, comer comida de verdade, que vem da terra. Essa comida que é produzida com sementes adequadas, sementes crioulas que não utiliza fertilizantes, nem agrotóxicos. Então, esse alimento produzido da forma mais natural possível, conterá a concentração de substâncias, vitaminas, minerais, muito importantes para que a gente tenha todas as células muito bem nutridas. Então, toda a matéria-prima do nosso organismo é formada por nutrientes que vem de uma alimentação adequada.

Infelizmente, quando não consumimos alimentos de verdade e consumimos produtos alimentícios (biscoitos, salgadinhos, refrigerantes) uma série de comida que a gente pensa que é alimento, tem muitas substâncias, muitos aditivos, substâncias químicas que não fazem bem para a nossa saúde. Pelo contrário, trazem muitos prejuízos para todos os sistemas do nosso organismo, principalmente para o sistema nervoso central, para o nosso cérebro. Por isso, a gente tem que priorizar a ingestão de frutas, verduras, legumes, arroz, feijão, mas que principalmente todos esses alimentos, não tenham a presença de substâncias tóxicas, de veneno.


Irpaa: Vivemos cercados e cercadas por alimentos que contém transgênicos e venenos. Como a produção agroecológica pode contribuir para a redução das doenças que a gente tem hoje?

Valéria: Quando a gente fala da questão de consumir um alimento, é consumir esse alimento sem ser de uma semente transgênica. Essa questão de ser um alimento transgênico tem um impacto na saúde humana, pois acaba tendo maior facilidade de multiplicação de fungos, que a gente acaba ingerindo por esses alimentos e tendo vários prejuízos na nossa saúde.

Um deles muito utilizado, por exemplo, no milho e na soja transgênica, é o glifosato que tem alterações importantíssimas no nosso organismo, atua na parte hepática do fígado, impedindo que faça o processo de limpeza de substâncias que não são interessantes para o nosso organismo, que é chamado processo de detoxificação, fazendo com que, as pessoas, mesmo magras, tenham uma grande quantidade de gordura no fígado. O glifosato também destrói as boas bactérias que a gente tem, por isso há pessoas com problema de obstipação, intestino preso ou diarreia; e as pessoas não sabem que se tem toda uma relação da saúde intestinal com a saúde do cérebro, do sistema nervoso central. Além disso, os agrotóxicos ficam depositados onde tem gordura e o cérebro é pura gordura, eles ficam depositados no cérebro, causando muitas doenças, entre elas: autismo, que está cada vez mais presente na nossa sociedade, alzheimer, parkinson, esquizofrenia e aumento de vários tipos de câncer.


Irpaa: Outra situação recorrente é o consumo de alimentos ultraprocessados ou alimentos muito doces ou gordurosos. O que devemos evitar e quais os danos que esses tipos de alimentos podem causar à nossa saúde?

Valéria: Quando falamos da questão de comida de verdade e dos alimentos ultraprocessados, vamos verificar que esses alimentos ricos em gordura, açúcar e sal, são responsáveis por causar vários transtornos na nossa alimentação. Então, quando a gente utiliza um alimento que tem mais gordura, que não é uma gordura boa, gera doenças como: doença cardiovascular, maior possibilidade de câncer, totalmente relacionados com a ingestão de alimentos gordurosos, gordura do mal. A ingestão de muitos doces, guloseimas, refrigerantes proporcionam maior produção de insulina, trazendo como consequência doenças complicadas como o diabetes. Chama atenção o número de crianças, adolescentes e adultos com diabetes, muitas vezes, sendo submetidos a tratamentos medicamentosos, muito complicados.

Então, quando falamos de evitar esses consumos, é pensar exatamente na prevenção da doença cardiovascular, na prevenção da obesidade, do diabetes, do câncer e pensar que esses alimentos vão estar sempre, conjuntamente, com muitas substâncias artificiais. Portanto, a gente tem que se preocupar em oferecer alimentos ricos em vitaminas, minerais, substâncias muito importantes para o nosso organismo, mas evitando toda ingestão desses produtos alimentícios.


Irpaa: No Semiárido, uma revolução aconteceu com a chegada das cisternas de produção, com isso, muitas famílias puderam cultivar e consumir alimentos crus como: alface, repolho, coentro, beterraba, dentre outros, tudo sem veneno. Qual a importância desse cenário para a alimentação e a saúde das famílias?

Valéria: As mudanças de políticas públicas podem realmente fazer uma revolução. Essa questão de chegar no Semiárido, na nossa caatinga, mais possibilidades de cisternas, trazendo água, tendo uma produção muito mais vasta de alimentos, traz uma questão fundamental de melhora da saúde das pessoas. Mas cabe novamente a gente reforçar a importância da ingestão desses alimentos. O coentro é um dos alimentos mais ricos, no mineral chamado magnésio, fundamental para fazer muitas ações do nosso organismo, melhorar o peso corporal, reduzir a possibilidade de ter diabetes, e produzir serotonina.

As folhas da cenoura que a gente muitas vezes joga fora é riquíssima em vitamina A para nossa imunidade, para crescimento das crianças, para a produção de hormônios importantes. O repolho ajuda no processo de limpeza do fígado, diminuindo a concentração de gordura. A possibilidade que a gente tem no Brasil inteiro de ter produção de comida, e cada vez mais as pessoas saberem esse valor nutricional para utilizarem, não somente plantar, mas plantar e comer.


Irpaa: Nos últimos anos tem sido crescente o incentivo, por parte do Estado da Bahia, à produção e consumo de Plantas Alimentícias Não Convencionais, as PANCs. Em outras regiões há também uma crescente produção, comercialização e consumo dessas plantas. Por que as PANCs são vistas com tanta simpatia?

Valéria: Nós estamos num projeto, inclusive, junto com o Governo da Bahia, para mostrar desde a identificação das Plantas Alimentícias Não Convencionais até a utilização. É um resgate da cultura alimentar que já teve no passado, e que por toda essa questão da globalização, nosso hábito se restringindo a poucos alimentos, fez com que essas PANCs, aquelas plantas tradicionais, que nosso avô, nosso bisavô consumia como a beldroega, o brejo, a ora pro-nóbis, a moringa. São plantas que já foram consumidas no passado, mas que caiu no desuso, e por isso, essa iniciativa do Governo da Bahia de está implementando esse conhecimento, assim nós temos uma plataforma que disponibiliza não só como você pode reconhecer, mas fazer um plantio e culinária dessas PANCs e o valor do tradicional delas.

Muitas vezes tem a PANC que está do ladinho da pessoa e ela não conhece, ou até conhece, mas não sabe que ela poderia ser bastante utilizada na alimentação humana. A exemplo da palma, do mandacaru, do xiquexique, alimentos super presentes no Semiárido, na caatinga, riquíssimos em fibra, em água. Com trabalhos científicos mostrando a importância desse consumo, por exemplo, para a redução do diabetes.


Irpaa: Valéria, certa vez você falou que as plantas da caatinga têm um alto potencial para combater doenças, pois isso é típico de plantas que enfrentam condições desfavoráveis para a vida. Fala um pouco mais sobre isso.

Valéria: Realmente, os alimentos da caatinga são a solução da alimentação para o mundo e com toda a riqueza que possuem, porque o bem que vai faltar em todos os países e não vai demorar muito, é a água. Quando a gente tem menor frequência de água, e isso é muito presente no Semiárido, as plantas que conseguem ser cultivadas, são muito mais resilientes. Quando você tem esse desgaste, a falta de água dá um sofrimento na planta, ela reage, produzindo muito mais substâncias importantíssimas para a nossa saúde, que vão ajudar a modular tanto a questão de doenças, do câncer, do diabetes, doenças cardiovasculares, porque essas substâncias vão impedir que ocorra todo o processo de oxidação que leva à maior inflamação e que vem todas essas doenças. Então, eu sempre falo que o Semiárido, a caatinga é a solução para o mundo em termos de olhar essa riqueza. A gente tem a possibilidade de levar muita comida, muita diversidade, muita saúde, consumindo os alimentos de verdade.

Texto e Foto: Eixo Educação e Comunicação
 


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