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Cerca de 70 Mulheres debatem violência contra mulher durante a Fenagri

Cerca de 70 Mulheres debatem violência contra mulher durante a Fenagri

Canudos, Curaçá, Juazeiro, Casa Nova, Sento Sé, Remanso, Pilão Arcado, Campo Alegre de Lourdes são os municípios de origem de mais de 70 mulheres que estiveram reunidas no dia 11, no espaço da 27 ª Fenagri 2018, em Juazeiro para discutir sobre violência contra a mulher e formas de enfrentamento. O encontro foi promovido pela Rede de Mulheres do Território Sertão do São Francisco com o apoio do Governo do Estado.

Aconteceu neste dia uma palestra com a professora Tássia Rabelo da Universidade Federal do Vale do São Francisco, que debateu os tipos de violência, a cultura e as raízes do machismo na sociedade brasileira. A professora também pontuou o que precisa avançar no tocante as ações de combate ao machismo e prevenção da violência.

O outro momento do encontro foi a mesa de discussão que contou com a participação: da delegada e Coordenadora Regional da Polícia Civil, Lígia Nunes Sá, da assessora de gênero do Governo do Estado, Bete Siqueira e da representante da Rede de Mulheres do Território, Jaciara Ladislau. Elas apresentaram formas de enfrentamento, como também os desafios vivenciados pelas mulheres em situação de violência.

Na avaliação de Bete este diálogo foi importante para também avançar no trabalho da rede de mulheres e para construir parceria destas instituições com a rede. “Com a professora conseguimos pensar em elaborar um projeto de extensão rural para este trabalho de forma contínua e com o compromisso das instituições. A Delegada se colocou a serviço do diálogo querendo firmar parceria com a rede de mulheres, colocando que precisa dessa aproximação para conseguir superar os entraves e os obstáculos na execução de política púbicas em defesa das mulheres que sofrem violência”, comemora.

Rico no debate, o encontro com as mulheres foi marcado por muita participação e relatos de mulheres que sofreram violência e que se libertaram dessa situação, como foi o caso da estudante Luciana Almeida, que por 19 anos esteve num relacionamento abusivo. Luciana nos contou como foi determinante a sua inserção na rede de mulheres e a participação em espaços como esses, “eu não sabia que era uma violência psicológica o que eu vivia. Quando tive o conhecimento, participando do grupo de mulheres, que era isso, eu tomei a decisão que não queria viver mais triste, pelos cantos”, relatou.

Ela contou que retomou os estudos logo após se separar e que vem resgatando sua autonomia e autoestima com o apoio de outras mulheres e de especialistas, o que tem sido determinante para ampliar suas perspectivas de vida. Luciana incentiva outras mulheres a acreditarem que tem direito a vida digna, sem violência, “as mulheres têm que querer. No momento que eu ficava me isolando, não ganhava nada, só perdia. Me ajudou muito o grupo de mulheres. Procurem ajuda porque conseguem. As mulheres têm que dar mais valor a si e acreditar que elas são capazes de tudo”, incentiva.

Para a delegada, Lígia, a questão central é que é preciso também trabalhar na prevenção da violência, combatendo também o machismo. Na sua compreensão é preciso combater de forma planejada, não focando apenas na repressão do agressor, mas num conjunto de medidas e políticas que envolva ambos. “Não dá para pensar num combate eficiente da violência contra a mulher se a gente não pensar em todos os pormenores, tanto em relação ao agressor como em relação ao acolhimento da mulher, dos filhos. É preciso se pensar em tudo isso para que realmente funcione, e esse homem não volte a agredir, que essa mulher se sinta empoderada, encorajada a combater, e não ser vítima novamente’, declara. Ela também recebeu as críticas das mulheres presentes frente às fragilidades das estâncias dos estados no acolhimento às denúncias e punição dos agressores.

Ela aproveita para reafirma a necessidade das mulheres não desistirem de pedir apoio ou fazer denuncia, “elas podem conseguir esse apoio nas delegacias, quando não conseguirem, podem recorrer aos órgãos superiores... ela não deve esmorecer, existem outros meios de fazer essa denuncia, não podemos nos aquietar”, disse. A delegada informou que as denúncias podem ser feitas pelos: Disque 100 Direitos humanos, Ligue 180, Postos de Saúde da Família, Creas, Cras, Disque 197, Agentes comunitários, “quais quer desses órgão podem receber esta denúncia e encaminhar para a delegacia”, informou Lígia.

De todo caso, muitas mulheres colocaram em evidência as dificuldades que encontraram quando fizeram as denúncias da violência que sofreram, seja por falta de apoio da família, como também da falta de segurança, já que muitas vezes o agressor fica solto, denunciando que falta, principalmente, políticas de acolhimento para a mulher em situação de violência.

O que na concepção de Bete, apesar de existir uma estruturação no tocante a espaços de denúncias, ainda é preciso avançar e também lutar por estas políticas, que são fundamentais quando se pensa no combate à violência, sendo uma forma de garantir também a mulher sua segurança, o acompanhamento médico e psicológico, bem como a sua liberdade de ir e vir, tendo garantido seu direito à vida digna, “No território só temos uma Delegacia de atendimento á Mulher (DEAM) e nós temos uma área imensa, com um alto índice de ocorrências de violência contra a mulher. A gente vê que a violência domésticas é muito grande ainda para o aparato institucional que a gente tem”, aponta.


Tipos de violência

E o que foi posto em debate também é que, muitas vezes, as pessoas não consideram que diminuir a autoestima da parceira, privar a mulher de liberdade, de acesso a bens (casa, documentos, etc) e que as ofensas proferidas são violências. O que ainda prevalece no senso popular é que só é violência doméstica quando ela é física. No entanto, a partir da Lei Maria da Penha se instituiu cinco tipos de violência: a patrimonial, a física, a psicológica, a sexual e a moral.

“Elas conseguem perceber as diferenças entre as violências... essas violências que elas vivem. Percebo que estes eventos são um caminho, levando essas mulheres a terem uma maior compreensão do processo de organização, dos seus direitos, e de também muito rico colocar essas mulheres a refletirem com o Estado, com os órgãos responsáveis na execução das políticas”, avalia Bete sobre a realização destes encontros das redes.

Para a professora da Univasf, Tássia Rabelo, apesar da existência da Lei Maria da Penha, a violência doméstica ainda é invisibilizada. “Por causa da série de fatores, [as mulheres] não contam para a família ou quando contam, não tem apoio da família”. Ela acredita muito que com toda a fragilidade das instituições, é preciso fortalecer essa rede, união de mulheres, “ a rede é pra isso, para ajudar a quebrar esse ciclo de violência, para dizer que elas não estão sozinhas. É claro que não é tudo, mas ter uma as outras já é importante. E que elas podem ajudar outras mulheres que não conseguem fazer isso, não conseguem buscar apoio, o que é a grande maioria”, argumenta.

Esta atividade faz parte do planejamento da Rede de Mulheres para este ano, que culmina com a assembleia, que acontecerá em agosto. No próximo mês, será a vez do município de Campo Alegre de Lourdes receber esta caravana da rede de mulheres. A rede é composta por várias mulheres, associações e entidades, como o Irpaa, a CPT, o Sasop.

Texto e Foto: Comunicação Irpaa 


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