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Água da chuva deve ser armazenada em todas as regiões do Brasil

Água da chuva deve ser armazenada em todas as regiões do Brasil


Há alguns anos, a concepção da Convivência com o Semiárido vem quebrando o paradigma do “Combate à Seca”. A proposta começou a ganhar força nos anos de 1990 e hoje a Convivência com o Semiárido é uma política de Estado em Pernambuco e na Bahia. Contudo, essa conquista só foi possível graças ao esforço de diversas organizações da sociedade civil – a exemplo de instituições como o Irpaa e a Asa (Articulação do Semiárido brasileiro) – e principalmente do envolvimento das famílias agricultoras que acreditaram e vivenciam essa proposta.

Entre muitas ações pautadas pela proposta da Convivência com o Semiárido encontram-se: a criação de animais e cultivo de plantas adaptadas, o desenvolvimento e acesso às tecnologias sociais que possibilitam a captação e armazenamento de água da chuva, a promoção da educação contextualizada nas escolas, a educação para a preservação da Caatinga, das águas, da biodiversidade, a valorização do saber e cultura popular.

A efetivação destas proposições têm transformado positivamente a vida do povo sertanejo e despertado o olhar para a necessidade da convivência com os demais biomas existentes no Brasil. Isto é, para além do Semiárido, onde predomina o Bioma Caatinga, há também a necessidade de avançar na lógica da Convivência, uma vez que o uso inadequado dos bens naturais tem afetado negativamente o ambiente, seja natural ou social. Exemplo disso, pode ser constatado na Floresta Amazônica (Região Norte do país), onde uma das carências de Belém, no estado Pará, é o acesso à água para o consumo humano, apesar de possuir uma certa abundância em água. Isso ocorre devido a contaminação dos rios e igarapés, seja pela ausência de saneamento básico, pelas atividades portuárias, industrial ou de mineração, entre outras.

“Aqui em Belém há uma ineficiência no nosso abastecimento, acaba muitos bairros tendo essa precariedade, tanto de quantidade e qualidade... a água que cai na torneira chega ser péssima, há muita contaminação”, diz Rômulo Ferreira, representante da Associação de Engenheiros Sanitaristas do Pará.

Essa precariedade do acesso à água na região não é apenas na zona urbana do estado, as famílias que vivem nas ilhas também sofrem com essa triste realidade. Rozilda Nascimento, moradora da Ilha das Onças, complexo que fica a cerca de vinte minutos (de barco) de Belém, diz que tinha exclusivamente o Rio Furo Grande como fonte de água: “eu bebia água do rio mesmo”. Porém, devido a contaminação da água, o consumo da mesma resultava em algumas doenças como diarreia, amebíase e outras e, segundo a professora Vânia Neu, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), “muitas vezes as pessoas não sabem que essa água não tem uma boa qualidade e que é isso que causa essas doenças”.

Experiência de aproveitamento da chuva no Pará

Foi essa realidade que despertou a professora Vânia Neu, a desenvolver o projeto de sustentabilidade na ilha, onde uma das ações é captar água da chuva, por meio de canaletas instaladas nos telhados das casas de madeira, e armazenar em caixas de plástico, as “cisternas” do Belém. “Esse projeto da água da chuva foi uma das melhores coisas que aconteceu, foi muito bom”, afirma Rozilda que complementa que hoje não falta água de qualidade para toda a família. Pensando no problema do esgotamento sanitário da comunidade, foi instalado o banheiro ecológico, uma alternativa de saneamento descentralizado apropriada ao meio rural.

A história da família de Rozilda comprova a necessidade de expandir a implementação de alternativas de captação e armazenamento de água da chuva para além do Semiárido brasileiro e a importância da universalização do acesso à água de qualidade para beber e produzir alimentos. Nessa linha, João Gnadlinger, colaborador do Irpaa, defende que é preciso desbloquear o potencial de aproveitamento da água da chuva para o Brasil, e isso significa “primeiro desbloquear nosso entendimento da captação da água de chuva, a chuva cai em cima da terra em todo lugar... então tem que desbloquear a mente, a visão, a política, o conhecimento, os meios financeiros para a captação de água se tornar uma realidade no Brasil inteiro”, pontua João.

A captação de água da chuva é um dos exemplos que demonstra a necessidade de expandir a ideia de apreender a conviver com a realidade de cada região, respeitando seu bioma, suas riquezas, seu povo e toda sua cultura.
Texto e foto: Comunicação Irpaa


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