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05.03.2024

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Recaatingamento é tema de formações e integra novo projeto com atividades em 4 municípios baianos

Quando o assunto é Recaatingamento, é preciso entender que as comunidades precisam estar no centro e serem as protagonistas das ações, que a Caatinga em pé é vida para os povos, a fauna e a flora. Além disso, ter um olhar sensível e ações educativas para mudar os hábitos que degradam o bioma. Esses assuntos são geralmente abordados pelo Irpaa em formações, eventos e palestras; e são associados a outros temas da Convivência com o Semiárido, como o entendimento das características do clima, a importância de cultivos e produção animal apropriadas à região. Também com as discussões da necessidade de acesso à terra e defesa dos territórios tradicionais frente aos grandes empreendimentos que promovem a degradação da Caatinga.

Tudo isso esteve presente, por exemplo, ao longo dos debates da palestra realizada no Festival do Umbu, em Uauá-BA, na tarde da última sexta-feira (1). O momento contou com a participação de um público muito diverso, de crianças a idosos, estudantes a professores. Oportunidade que a aluna Raquel Santos, do curso de Agropecuária do CETEP Semiárido Nordeste 3, de Ribeira do Pombal-BA, aproveitou para conhecer mais sobre a temática. “E algo novo para mim, gostei bastante e achei muito interessante”, pontuou Raquel, que disse ainda ter compreendido a importância das comunidades desenvolverem as ações.

O colaborador do Irpaa, Luís Almeida, enfatiza que a palestra conseguiu evidenciar que é possível a harmonia entre a presença humana e as práticas de extrativismo, por exemplo, como formas de fazer uso sustentável do bioma. “O Recaatingamento preza muito e tem como princípio central essa proposta da conservação da Caatinga, através do uso sustentável e também a recuperação de áreas que estão em processo de degradação para voltarem ao potencial de uso. Um desses usos é o pÅ•oprio extrativismo do umbu, mas não só do umbu, de diversas outras plantas, da criação animal, com sustentabilidade; ou seja, conseguir fazer o uso e ir perpetuando a tradicionalidade, as comunidades de fundo de pasto ao longo do tempo”.

Luís destaca também que o momento serviu para reflexões sobre os desafios da Caatinga na atualidade, porque ainda tem “muito desconhecimento sobre o clima semiárido, as especificidades da Caatinga e, no contexto de mudanças climáticas, isso ainda é mais agravado”. Em relação à crise climática, ele enfatiza ainda que a metodologia do Recaatingamento se mostra como um caminho já consolidado.

“Então, a gente discutir coletivamente com diversos públicos; tinha estudantes, pessoas da área técnica (...) conseguir colocar reflexões para essas pessoas, para a gente avançar coletivamente. É estratégico, nesse cenário de mudanças climáticas, a gente ter uma proposta consolidada, fortalecida, que a gente enxerga, que é o Recaatingamento; essa proposta mais acertada para esse cenário que a gente vive hoje”.

Um dos assuntos levantados durante as discussões, através da participação do público presente, foi em relação às contrapartidas para as comunidades que fazem Recaatingamento e que precisam isolar uma área. Entre os exemplos, foi socializado detalhes dos dados das áreas que já fizeram Recaatingamento, que demonstram entre os resultados o ganho de peso da criação. Outra informação é a de que as tecnologias sociais que chegam às comunidades, como as que fazem o tratamento do esgoto e o reúso das águas, aliadas ao trabalho de assessoria técnica, representam muitos avanços para as famílias e comunidades; e que elas reconhecem isso.

Nesse sentido, a necessidade da potencialização das políticas públicas foi outro elemento de destaque, tendo em vista que é um direito da população e é dever dos órgãos do Estado incluir as tecnologias, a Ater, entre outras, nos editais públicos.

Ao final da palestra foram apresentados detalhes das ações do novo projeto “Recaatingamento: recuperação e conservação da caatinga", que também vai desenvolver atividades em Uauá. A iniciativa chega para intensificar o trabalho que já acontece atualmente em 40 comunidades de 15 municípios, em 4 Territórios de Identidade; e que envolve mais de 600 pessoas desenvolvendo ações de educação ambiental contextualizadas nos territórios tradicionais.

Além desse tema, o Irpaa montou uma área de exposição e mediou outros espaços de formação, com temas relacionados às mudanças climáticas e educomunicação, por exemplo; e mobilizou mais de 300 pessoas em caravanas. A coordenadora administrativa da instituição, Nívea Rocha, destaca que, por oportunizar essa troca de saberes, o Festival do Umbu “é um espaço potente e estratégico para debater e reafirmar as pautas necessárias, urgentes e emergentes demandadas pela nossa sociedade, pelos nossos agricultores, grupos de economia solidária, cooperativas. Faz toda essa interlocução, inclusive com os parceiros locais, de apoio às políticas públicas e parceiros e organismos diversos que tem no nosso território. Como a gente percebeu na oficina de Recaatingamento, há uma demanda urgente de continuar apostando na valorização da Caatinga em pé (…)”.

A diversidade de vozes e abordagens em eventos como esse contribuem para potencializar a defesa da Caatinga, a valorização dos povos do Semiárido e a reivindicação de políticas públicas. “A Convivência com o Semiárido é a Caatinga em pé, são as comunidades estruturadas, as mulheres ocupando seu lugar de fala, as juventudes ocupando seu lugar de fala, os agricultores e mulheres com autonomia, são as organizações fortalecidas e os parceiros que executam a política pública compreendendo esse lugar e trabalhando para fortalecer ainda mais as nossas demandas sociais, econômicas e estruturais”, complementa Nívea.

Recaatingamento em Curaçá, Uauá, Canudos e Abaré

Esse novo projeto, que foi iniciado em dezembro de 2023, vai atender 11 das 40 comunidades que já fazem o Recaatingamento e terá ações nos municípios de Curaçá, Uauá, Canudos e Abaré.

O objetivo é contribuir para inverter o processo de desertificação no bioma Caatinga através do manejo sustentável dos bens naturais nas comunidades tradicionais agropastoris e extrativistas. Desta forma, pretende contribuir para a conservação ambiental deste bioma e, consequentemente, ampliar a proteção da biodiversidade e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

Apresentação do Projeto - Serra dos Campos Novos - Uauá

Apresentação do Projeto na comunidade Serra dos Campos Novos, Uauá-BA

Ao longo de 30 meses, serão realizadas atividades comunitárias, municipais e regionais, que visam fortalecer as comunidades tradicionais para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e o combate da desertificação nos territórios. As primeiras atividades já vêm acontecendo, entre elas estão a apresentação do projeto nas comunidades, reuniões de formação com a equipe e com os financiadores.

Reunião em Brasilia com Equipe do MMA

A iniciativa está sendo realizada pelo Irpaa, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), através de recursos do Fundo Clima e do Fundo Nacional de Meio Ambiente. O projeto deve alcançar diretamente mais de 400 pessoas e 1.200 indiretamente.

Texto: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa
Fotos: Eixo Educação e Comunicação e Eixo Produção Apropriada, do Irpaa

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