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Fortalecimento das comunidades tradicionais contribui para a preservação ambiental no Semiárido

Fortalecimento das comunidades tradicionais contribui para a preservação ambiental no Semiárido

Desmatamento da Caatinga e a instalação de empreendimentos minerários e de geração de energia “renovável” (parques eólicos e solares) em áreas que deveriam ser de preservação e/ou territórios de comunidades tradicionais são alguns dos fatores que colaboram para a destruição do meio ambiente. Assim, o fortalecimento e defesa das comunidades tracionais, a exemplo dos Fundos e Fechos de Pasto, contribuem para a preservação ambiental, pois cuidam do bem comum.

Alegando gerar energia sustentável, as empresas chegam a burlar o processo legal para implantação do empreendimento, desmatam milhares de hectares de Caatinga e geram vários outros transtornos. O modelo atual de geração de energia eólica, tem como locais prioritários, ambientes que geralmente são refúgio de espécies ameaçadas ou em processo de extinção, locais de recarga de água subterrânea e de nascentes, ou ainda áreas suscetíveis à desertificação.

Estudos divulgados recentemente concluíram que 13% da área do bioma Caatinga está em estado de desertificação e que 50% já foi desmatada. Os dados são de uma pesquisa realizada entre 2014 e 2021, por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade Federal do ABC (UFABC) e da Universidade de São Paulo (USP).

Outro estudo, publicado em 2012 por pesquisadores da Embrapa Semiárido, constatou índices elevados (acima do que permite a legislação) de ferro, cádmio, cromo e níquel na água do lago de Sobradinho-BA. Os metais verificados nas amostras podem provocar doenças nos sistemas respiratório e digestivo. Uma das possíveis causas para a contaminação é a utilização de fertilizantes e agrotóxicos pela atividade agrícola na região.

Assim, uma das formas de combater a degradação da Caatinga no Semiárido é o fortalecimento do modo de vida das comunidades tradicionais. Segundo a agricultora Ana Lúcia Silva, “a comunidade tradicional zela pela permanência da Caatinga, das áreas coletivas. Todo esse cuidado que a gente vem tendo, passando de geração em geração, que leva décadas, séculos […] Aí esses empreendimentos de energia eólica, energia solar, as mineradoras, isso tudo vem destruindo tudo que nós construímos. Isso é muito desafiador!”, destaca a agricultora da comunidade Lagoa do Meio, do Distrito de Massaroca, em Juazeiro.

Ana Lúcia ressalta ainda o importante papel do poder público na preservação do meio ambiente. “A gente precisa que, realmente, os governantes nos assegurem esse cuidado. Se nós cuidamos da nossa comunidade, da nossa Caatinga, que o governo incentive mais ainda. A gente pede aos governantes que incentivem e não facilitem a entrada desses grandes empreendimentos nas comunidades tradicionais”, apela.

Judenilton Oliveira, colaborador do Irpaa, complementa a fala de Ana Lúcia e ressalta que é fundamental a atuação do Estado para garantir a existência das comunidades tradicionais. “As comunidades dentro desses territórios precisam disputar para garantir áreas livres dos grandes empreendimentos. Áreas de serra, de nascentes, áreas que são consideradas santuários ecológicos [...] o Estado Brasileiro precisa reconhecer esses espaços como áreas livres de qualquer empreendimento, porque esses espaços já cumprem um papel social, ambiental, ecológico e econômico muito grande”, expõe Judenilton.

A Caatinga preservada é um espaço fundamental para a geração de renda, algo que já acontecia há séculos, que foi fortalecido na última década com a implementação de diversas políticas públicas apropriadas ao Semiárido e que geralmente é desconsiderado pelas grandes empresas que chegam às comunidades. Para Judenilton, a renda que os grandes empreendimentos prometem gerar se transforma em prejuízo para as comunidades e para o meio ambiente. “Por mais que falem em melhorar a renda, a gente vê que, a longo prazo, a destruição desses biomas traz um prejuízo muito maior”, alerta. “Essas empresas acabam cooptando lideranças e a juventude para trabalhar para elas e depois submeter essas comunidades aos seus interesses, tirando assim toda a dignidade e destruindo o modo de vida. Junto com esse modo de vida vai a preservação e a conservação desses biomas”, complementa Judenilton.

José Moacir dos Santos, presidente do Irpaa, também reforça a importância das comunidades tradicionais, que há muito tempo vivem de forma harmônica com o ambiente natural. Segundo Moacir na região “temos uma outra proposta que já vem se dando há mais de 200 anos, que é a conservação, um modo de vida onde as pessoas vivem em comum Convivência com a Caatinga em pé”.

Para o presidente do Irpaa, “a própria Secretaria de Meio Ambiente do Estado (da Bahia) reconhece que as áreas ocupadas por essas comunidades (indígenas, quilombolas e de Fundo de Pasto) são as áreas mais conservadas. Então, fortalecer e garantir a permanência dessas comunidades no campo é uma contribuição enorme para a preservação do bioma Caatinga”, enfatiza José Moacir. “Se a gente quer defender a conservação da caatinga, a gente precisa também defender a vida do povo no campo”, ressalta Moacir.

Na opinião de André Rocha, colaborador do Irpaa, há uma ideia equivocada de preservação e recuperação, o que leva as pessoas a imaginar que pequenas ações garantem grandes resultados. “As pessoas fazem o plantio de árvores por aí, depois voltam pra casa com sensação de dever cumprido. Mas não voltam oito, quinze dias ou um mês depois pra ver que as mudinhas morreram”, afirma André. Ele explica que ações como o plantio de mudas são importantes, mas convida a população a refletir sobre medidas mais efetivas como o repúdio aos produtos que degradam o meio ambiente e a defesa dos povos tradicionais, projetos e programas que contribuem para a manutenção da vida no planeta.

Texto e foto: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa 


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