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Tema da Violência de Gênero é debatido com agricultoras em Casa Nova

Tema da Violência de Gênero é debatido com agricultoras em Casa Nova

Quais os tipos de violência contra a mulher? Quais as consequências e como enfrentar? Essas foram questões centrais que reuniu cerca de 40 mulheres, na sede do município de Casa Nova, nos dias 24 e 25 de maio deste ano. O evento foi realizado pela Rede Mulher do Território Sertão do São Francisco, composta por entidades sociais como o Irpaa, Sasop, CPT e mulheres dos municípios de Casa Nova, Remanso, Pilão Arcado, Campo Alegre de Lourdes, Sento Sé e Uauá. A atividade teve apoio da Assessoria de Gênero do Pró Semiárido, projeto da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado da Bahia.

O momento também foi de escuta, de acolhimento e reflexões coletivas sobre casos de violência contra a mulher no município de Casa Nova. Na ocasião, as mulheres denunciaram a ausência de políticas públicas no município, que garantam a aplicação da Lei Maria da Penha (lei 11.340/06), garantindo que as mulheres consigam denunciar as violências sofridas, sejam protegidas e também sejam acolhidas em Casa de Apoio, esta última inexistente na região.

Outra queixa apresentada foi sobre a inexistência de delegacias da mulher nos municípios do Território, com exceção de Juazeiro, além do despreparo dos profissionais das polícias no atendimento à mulher em situação de violência. Sem amparo e proteção do Estado e, às vezes, também da família, as mulheres se sentem coagidas a não denunciarem e nem conseguirem se desvencilhar da situação de violência.

Para Beth Siqueira, assessora de Gênero da Car/SDR, é preciso que seja fortalecido o coletivo de mulheres, como uma ação também de enfrentamento, além de garantir enquanto Estado a articulação entre outras secretarias na execução de políticas de forma integradas. É preciso, “além das informações e desenvolver esses encontros em parcerias, criar com elas uma relação de cumplicidade, confiança, para que juntas e informadas a gente possa acessar essas políticas, esses programas, esses órgãos, que são os legítimos responsáveis para ajudar estas mulheres a diminuir e, quem sabe, acabar com a violência”, pontuou.

Beth também avaliou o encontro: “tivemos momento de dor, mas foi um momento que essas mulheres construíram entre elas laços de união, de luta coletiva, e que através dos encaminhamentos do evento, nós vamos buscar chegar a esses órgãos, não uma, mas um coletivo, e buscar outras mulheres… para que a gente possa fortalecer a luta destas mulheres”, pontuou.

Temas como gênero, machismo, patriarcado também foram debatidos com as participantes, elencando situações vividas no cotidiano das mulheres que são emergentes da sociedade machista e patriarcal e todo o processo de opressão decorre da relação desigual de gênero. Ao longo do encontro, a turma avaliou o quanto é importante existir uma rede de apoio e acolhimento à mulher em situação de violência, assim como a necessidade de existir ações de enfrentamento, como a garantia de emprego e renda para as mulheres.

O evento teve a participação de muitas mulheres compartilhando situações de violências que viveram ou acompanharam de perto, ou de uma parente, vizinha, amiga. Na avaliação de Maria Aparecida da Silva, o evento foi muito importante: “é algo que veio nos abrir a visão sobre o que a gente não sabia”, relata. Ela recomenda ainda que as mulheres não se calem, procurem ajuda, façam algo, mas não silenciem diante da violência sofrida, recomenda a agricultora.

Na avaliação Beatriz Carvalho, da Rede de Mulheres de Casa Nova, “esse trabalho da Rede faz com que as mulheres venham abrir a mente para que não fiquem sofrendo violência calada… tem muitos casos no município, graças ao apoio da Rede Mulher, nós conseguimos libertar uma mãe de quatro filhos de uma situação de violência... muitas mulheres sofrem violência no anonimato e não consegue nem falar, mas nesses encontros a gente busca saída para que estas situações sejam revertidas”, pontuou.

E o mercado de trabalho?

As desigualdades também marcam o mercado de trabalho e as mulheres estão em desvantagem. Esta foi outra questão discutida junto às mulheres. Uma Nota Técnica do Ipea junto ao Ministério do Trabalho, divulgada em 2016, revelou que mulheres ganham 30% menos que os homens, e a situação é ainda mais desigual quando a mulher é negra, do campo e acima dos 40 anos. “Os homens continuam ganhando mais do que as mulheres (R$1.831 contra R$1.288, em 2014), as mulheres negras seguem sendo a base da pirâmide (R$946 reais, em 2014) e homens brancos, o topo (R$2.393 no mesmo ano)”, divulga a nota.

O documento também revela a taxa de pessoas inativas por sexo e cor/raça, sendo que as mulheres negras são tornadas inativas a partir dos 49 anos, encontrando barreiras para se manterem e/ou se inserirem no mercado de trabalho, enquanto que os homens brancos só encontram essa mesma dificuldade aos 65,7 anos. Nessa inatividade, não é considerado o trabalho doméstico, revelando um cenário de condições ainda mais desiguais.

Como encaminhamento, a turma se comprometeu em multiplicar as discussões para outras mulheres de suas comunidades de origem com o intuito de, através da conscientização e mobilização das outras companheiras, fortalecer a rede de mulheres para garantir uma ação ainda mais estratégica de enfrentamento à violência. “Fortalecer os grupos existentes parte da união com instituições parceiras como a Rede de mulheres, para garantir o apoio a estas atividades, construindo uma ação estratégica conjunta ainda mais ampla”, informou Beth.

Texto e Foto: Comunicação Irpaa 


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