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Estados da Bacia do São Francisco discutem questão energética

Estados da Bacia do São Francisco discutem questão energética

O Plano de Energia 2030, elaborado pelo Governo brasileiro, através do Ministério das Minas e Energias, prevê o crescimento em dobro do consumo do petróleo, energia nuclear, carvão, entre outras fontes de energia no país. De acordo com o plano, o Nordeste será uma região em que terá oferta de energia aumentada, com previsão de empreendimentos como usinas nucleares e hidrelétricas, principalmente na região da Bacia do São Francisco.
 
Esta é uma das preocupações que teve destaque no Seminário sobre Matriz e Fontes Energéticas, realizado entre os dias 27 e 29 em Juazeiro, região norte da Bahia. O evento, organizado pela Articulação Popular São Francisco Vivo, reuniu representantes de organizações populares dos estados de Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Alagoas e Bahia, com o objetivo de iniciar a formação de lideranças dessas regiões sobre o tema, aprofundando o debate sobre a urgente necessidade de investir nas alternativas ao atual modelo adotado.
 
A abertura do Seminário contou com a assessoria do professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), Célio Bermann, um dos principais especialistas do Brasil no assunto, que trouxe a discussão sobre o tema com foco na atual conjuntura global e nacional. De acordo com os dados apresentados pelo professor, a previsão de crescimento do consumo de energia elétrica é de 5% ao ano, enquanto estima-se 3,8% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no mesmo intervalo de tempo. Atualmente a indústria é responsável por 48,4% do consumo de energia no país, quase metade da produção, sendo 26,5% gastos pelos setores de cimento, siderurgia, ferroligas, não ferrosos (alumínio), química, papel e celulose.
 
Energia para que e para quem”, questionam os movimentos sociais
 
No Nordeste, a construção das Hidrelétricas de Riacho Seco e Pedra Branca, na região dos estados da Bahia e Pernambuco, prevê o aumento da oferta de energia gerada a partir do potencial hídrico. Além desses projetos, está previsto para 2019 o início da operação da primeira usina Central Nuclear no Nordeste e para 2021 a segunda Central, ambas na região de Itacuruba, a 470 km de Recife - PE, o que pode gerar impacto direto para uma população de 4 mil habitantes.
 
Para o representante da comunidade quilombola Mata de São José, Raimundo Manoel Gonçalves, morador de área que poderá ser atingida pela barragem de Pedra Branca, pela transposição e pela ferrovia transnordestina, as fontes energéticas já existentes precisam serem melhor utilizadas. Na opinião de Raimundo, “essas fontes são suficientes para gerar energia para o povo, para o bem estar da população. O Brasil tem uma produção de energia excedente e esta energia não pode ser mercadoria, não pode ser usada para o lucro de poucos”, defende. Segundo José Manoel, que é militante do Movimento de Atingidos por Barragens – MAB, “a maioria das famílias que foi atingida por barragens retrocedeu em sua forma de vida, pois antes tinha seu sustento tirado da própria roça e hoje vive em situação de miséria. Então não dá para pensar em barragem diante de um cenário desse”, conclui.
 
 
Brasil pode se tornar um país com potencial atômico
 
 
A energia nuclear foi tema de uma das palestras durante o evento. As informações, apresentadas pelo físico Heitor Scalambrini – professor do Departamento de Energia Elétrica Universidade Federal de Pernambuco – foram complementadas com o depoimento de moradores/as da região de Caetité (BA), que há mais de dez anos convivem com as consequências da extração de urânio, e de Floresta (PE), que começam a luta contra a implantação de centrais nucleares no São Francisco.
 
Os dados trazidos por Scalambrini, apontam que o Brasil é o sexto país em reserva de urânio no mundo e que um acordo nuclear entre Brasil e Iraque confirma que o país poderá fornecer combustível nuclear para a utilização pacífica do Iraque, porém não há como ter este controle. Uma análise histórica conclui que a produção de energia sempre esteve associada ao interesse militar e que o Brasil pode vir a se tornar um país com potencial atômico.
 
O processo de “renascimento” da energia nuclear ganha força com importantes como as indústrias fabricantes de reatores e equipamentos auxiliares, setores das forças armadas, empreiteiras e, inclusive, intelectuais pesquisadores do assunto. De acordo com o professor, que é representante da Fundação Heinrich Boell, no Brasil, sempre se falava da necessidade de uma alta produção para garantir segurança energética para as gerações futuras, quando na verdade as reais razões eram as estratégias militares e econômicas, sem se preocupar com a democratização do acesso ou com os danos causados ao meio ambiente. Ele reconhece que “não há como produzir energia sem impactar o meio ambiente, o que temos que fazer é escolher as formas que menos impacta. Depende de como será usada. As fontes que menos são as que menos são utilizadas”.
 
Hoje a população de Caetité sofre com alto índice de morte por câncer e causas desconhecidas, consequência da radioatividade oriunda da exploração do Urânio. Recentemente mais de 5 mil pessoas daquela região se mobilizaram para impedir a entrada de material radioativo na cidade. Ao mesmo tempo permanece firme o indicativo de instalação de seis reatores em centrais nucleares na cidade de Itacuruba, o que configura-se como um complexo nuclear no Vale do São Francisco. Itacuruba velha já foi inundada pela hidrelétrica de Itaparica na década de 1980, apesar da contestação das comunidades ribeirinhas e movimentos sociais. Mais uma vez igrejas, escolas, organizações sociais e movimentos populares da região avançam no processo de resistência e enfrentamento contra tais projetos sustentados pelo governo.
 

 


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