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Pipas em Curaçá: um festival de sorrisos e olhares empolgados

Pipas em Curaçá: um festival de sorrisos e olhares empolgados

O objetivo era cobrir o II Festival de Pipas de Curaçá, ou seja, o espetáculo estaria no céu. Foi para isso que me preparei, já tinha construído uma imagem na minha cabeça. Contudo, o espetáculo estava na terra, no sorriso infantil continuamente estampado no rosto, no olho que brilhava num intenso esforço para enxergar na contraluz, a pipa que voava lá longe.

Era domingo, por volta das 15h30. No campo de futebol do conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida, numa das entradas da cidade, se reunia a meninada. As conversas eram diversas, meninos e meninas de várias idades circulavam por ali. E bastava um carro diferente chegar para que todos os olhares se voltassem para o veículo na expectativa de ver pipas sendo retiradas daquele automóvel.

Celulares? Não lembro de ter visto na mão da criançada, nem mesmo enquanto esperavam a organização trazer as desejadas pipas. Até mesmo mães e pais deram um tempo para os aparelhos. A atmosfera era semelhante àquela que antecede a apresentação de alguém famosa/o. As pipas eram o João Gomes a se apresentar naquela tarde de domingo em Curaçá.

Recordo que, em uma das chamadas para o evento, a organização dizia “vamos lá criançada, deixe o celular de lado”. Parece que funcionou perfeitamente. As pipas dissiparam no céu cores e no chão estimularam pés ligeiros, que corriam de um lado para o outro obedecendo o olhar focado lá no pedacinho de papel, distante vários metros do solo e guiado por um linha.

Muitas pessoas adultas acompanhavam tudo o que rolava por ali. Algumas traziam sugestões e comentários que a organização, composta pelos grupos Pipa Nordeste Curaçá e Galeota das Artes, compartilhava através do carro de som. Duas sugestões me chamaram bastante a atenção:

a) Fazer 1.000 pipas. Como assim? Mil crianças? Parece exagero para quem lê agora sem ter ido ao campinho de chão batido. Mas para quem foi lá, faz todo sentido. Na primeira edição, a organização fez 150 pipas. Não foi o suficiente. Agora o grupo dobrou a quantidade. Durante a semana um colega exaltava o número de 300 pipas e elogiava a organização por isso. De fato foi um grande passo, mas incrivelmente não foi o suficiente para atender todas as crianças que estavam ali.

Zé Omara, pai do colaborador do Irpaa, Júlio Cézar, um dos apoiadores do evento, sugeriu para a terceira edição do festival fazer um milheiro de pipas. E eu já fiquei imaginando mil crianças correndo com uma latinha enrolada de linha na mão e uma pipa.

b) Outra pessoa disse que aquela iniciativa precisa chegar nas comunidades do interior. Imagina então, a festa nos povoados maiores e sedes dos distritos, onde geralmente os eventos reúnem o povo das comunidades ao arredor. Imagina um domingo em que, em vez de olhar os bares cheios como única opção, a criançada pode olhar o céu, se divertir e imaginar. Isso certamente ajudaria o grupo Pipa Nordeste Curaçá a alcançar um dos objetivos que é fortalecer o hábito das famílias se reunirem para soltar pipas, algo que, de acordo com o grupo, já está em processo na cidade.

O encantador II Festival de Pipas de Curaçá apresentou ainda outros elementos que jogam luz sobre o respeito e a colaboração. O homenageado da tarde foi Isaac Vieira, pipeiro que ajudou a criar o festival e esteve lá, empolgado, com olhos que brilhavam tanto ou mais que os olhos das crianças querendo enxergar a pipa voando lá no céu.

Numa das entrevistas, Denis Vieira, integrante do grupo Pipa Nordeste Curaçá e um dos organizadores do evento, exaltava a participação infantil na preparação do festival. Segundo ele, as pipas foram confeccionadas em horários opostos aos de trabalho dos adultos, que não formavam um número muito grande. A curiosidade e a expectativa levou a criançada para perto da organização. Assim, segundo Denis, todos os dias, a casa se enchia de crianças que chegavam para ajudar a montar as pipas.

O envolvimento causado pelo festival gerou lindas cenas de pais e mães brincando com filhas/os, sobrinhas/os e vizinhas/os. Cena rara que o festival parece cultivar, como quem plantou uma semente e olha atenciosamente, acompanhando o crescimento que aponta para uma planta grande, forte, que vai gerar frutos e se reproduzir em outros cantos.

Texto: Álvaro Luiz - Eixo Educação e Comunicação do Irpaa
Fotos: Pipa Nordeste Curaçá / Eixo Educação e Comunicação do Irpaa 


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