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26.03.2024

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Seminário de jovens debate formação política e perspectivas da juventude do campo no Sertão do São Francisco

Foi fazendo memória às pessoas que marcaram as lutas sociais no Brasil que o Seminário da Juventude do Semiárido, realizado em Juazeiro-BA, deu início às atividades. O momento foi um convite à reflexão sobre a história de Canudos; a luta liderada por Luiza Mahin no período colonial; a atuação em defesa da Convivência com o Semiárido por Dom José Rodrigues; a liderança de Margarida Alves em defesa da classe trabalhadora; e o símbolo de resistência do povo negro, Marielle Franco.

O encontro reuniu, entre os dias 22 e 23 de março, cerca de 30 jovens entre técnicos/as e estudantes da República do Irpaa, indígenas e integrantes do Curso de Jovens Lideranças. O momento foi o ponto de partida para uma agenda de lutas e atividades organizativas no território do Sertão do São Francisco.

Importante destacar que o evento contou com a participação de Maicon Caatingueiro, diretor de Apoio e Fomento à Produção (DAFP) da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), do Governo do Estado da Bahia, que apresentou algumas iniciativas direcionadas à juventude. Além da presença da Coordenadora de Juventude do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Duda Vasconcelos, que ressaltou os desafios enfrentados pela juventude rural no acesso ao crédito e à terra. Ela mencionou ainda que a reforma agrária e a política de crédito fundiário podem ser estratégias para melhorar a qualidade de vida dos jovens no campo.

Os jovens também participaram de uma análise de conjuntura facilitada por Eduardo Mara, educador social, professor universitário e militante da Consulta Popular. Ele abordou o crescimento do fenômeno do neofascismo representado no Brasil pelo bolsonarismo e a dinâmica de lutas de classes na sociedade, mencionando a importância de políticas públicas, espaços de debates e construção de pontes para a sensibilização da classe trabalhadora.

Em outra linha de reflexão, Adrielly Regis, militante do Movimento Popular pela Soberania na Mineração (MAM), contribuiu com reflexões sobre a necessidade de várias frentes para promover direitos mínimos e a importância da promoção de políticas públicas junto à juventude rural, que, segundo ela, "é uma categoria frequentemente marginalizada".

Sobre esta discussão, o colaborador do Irpaa, Rubens Silva, que integra a equipe técnica do Projeto Pró-Semiárido, destaca as contribuições do encontro para a sua atuação com jovens nas comunidades. "Me deu a ideia de realmente fazer análise de conjuntura junto com essa juventude que a gente acompanha dentro dos territórios, daqui do Juazeiro e Sobradinho. Essa discussão política onde a gente fala sobre a situação do país, de como está andando, é muito interessante para nós entendermos onde a gente está inserido." Ele destacou a necessidade de unidade e ação coletiva para enfrentar os desafios políticos contemporâneos, ressaltando a importância de superar diferenças individuais em prol de um objetivo comum.

Essa reflexão é corroborada por Angela Souza, bolsista do projeto Baraúnas dos Sertões, atuante na Comunidade Tradicional de Fundo de Pasto Jatobá Beiro Rio, em Pilão Arcado-BA, ao enfatizar que a partir do Seminário foi possível "dialogar com outras juventudes, ter novas experiências, estar disseminando e fortalecendo a luta". Ela chama a atenção para a urgência da pauta. "É um desafio muito grande ser jovem hoje em dia, porque ainda no discurso, para todo mundo, a juventude é o futuro e a gente sabe que não é isso, a juventude é agora, a juventude é o presente, a juventude é o hoje".

Ao abordar a estrutura da sociedade atual, Antonio Marcos, estudante da República do Irpaa, enfatizou a importância do debate sobre a influência não apenas do governo, mas também de diversas instituições como famílias, igrejas, mídia, escolas e na construção social. "Eu pretendo sempre levar esses conhecimentos para ir passando de pessoa para pessoa, e é um tema que deve ser debatido amplamente na sociedade. E ter sempre ali uma lógica participativa, tudo no coletivo, para que todos possam obter o conhecimento. E eu pretendo fazer isso, adquirir os conhecimentos, e levá-los para as comunidades”.

Em outra linha de percepção, a colaboradora do Irpaa, Alane Naiara Nunes, destacou a importância do encontro como um momento crucial para a juventude do campo, ressaltando a integração, os debates e a participação dos representantes de órgãos governamentais como uma oportunidade para expressar suas pautas, demandas e realidades. “Se tornou um momento de escuta, de olho no olho, onde pudemos colocar as nossas pautas, as nossas demandas, as nossas realidades, para que isso seja levado em consideração no processo de construção de políticas públicas. É necessário que eles conheçam as nossas realidades, que haja esses momentos com mais frequência para que essas políticas públicas sejam construídas de forma a atender a juventude do campo”.

A avaliação de Alane tem como pano de fundo as dificuldades de acesso aos espaços de participação social enfrentadas pela juventude, como conferências e fóruns, principalmente pelos jovens do campo. “As vagas acabam sendo limitadas, ou seja, temos poucas vagas para atribuir às nossas representações, e ainda enfrentamos a dificuldade de ter voz e fazer com que nossas demandas sejam aceitas e respeitadas dentro desses espaços, que sejam levadas em consideração”.

Ao término do evento, foi elaborada uma agenda coletiva de ações, com a participação das representações de diversas organizações, visando incidir politicamente nas questões abordadas e promover a mobilização e organização para superar as dificuldades e promover a inclusão da diversidade de jovens que vivem no campo.

Texto e fotos: Eixo de Educação e Comunicação do Irpaa