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Brasil e China discutem captação de água de chuva

Políticas de acesso à água e segurança alimentar e nutricional - Um diálogo entre as experiências na China e no Brasil”. Este foi o tema do Simpósio realizado dia 5 de outubro, em Brasília, pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), com o apoio da Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva (ABCMAC).
No período da manhã, houve uma palestra com o pesquisador Zhu Qiang, especialista em captação de água pluviais da Universidade de Tsinghua e do Departamento de Recursos Hídricos da Província de Gansu da China. O pesquisador foi um dos idealizadores do Programa “Providenciando água para uso humano e para animais”, conhecido como “1+2+1”. Seu trabalho foi referência para a elaboração do Programa Um Milhão de Cisternas, no Brasil.
Zhu Qiang iniciou sua apresentação compartilhando informações sobre a situação dos recursos hídricos na China. O país tem a sexta maior quantidade de recursos hídricos no mundo. Mas, devido à grande população, a disponibilidade de água per capita é de um quarto da média mundial. Além disso, a distribuição dos recursos hídricos é desigual, nos aspectos espaciais e temporais.
De 1988 a 1994, o Instituto de Pesquisa de Gansu para Conservação de Água (GRIWAC) iniciou, com o apoio do governo, um projeto de extensão sobre captação de água de chuva. A idéia era atender a demanda de uso doméstico e de produção.
Em 1995, uma grave seca atingiu o noroeste da China. “Milhões de pessoas e os animais estavam sob a ameaça de sede”, explicou Zhu Qiang. Com base nos resultados positivos do projeto de extensão, o governo lançou o Programa “1+2+1”, visando solucionar os problemas de consumo para a população rural na região onde não havia água disponível. O governo apoiou as famílias com o fornecimento de 1,5 tonelada de cimento para a construção de uma superfície de captação composta por telhas e pátio revestido de concreto, dois tanques de armazenamento para uso doméstico e irrigação da horta e um pedaço de terra para cultivo de hortaliças e árvores frutíferas.
“Talvez, o papel mais importante do projeto tenha sido fazer com que as pessoas reconheçam a importância da água de chuva”, avalia Qiang. As ações continuaram, na Província de Gansu. E permanecem até os dias atuais. Há razões para o sucesso do Programa: “Destacamos as atividades iniciais de investigação e demonstração, o apoio governamental e a motivação das famílias”.
Entretanto, há desafios a serem superados: os pontos fracos são o abastecimento doméstico, o monitoramento e a melhoria da qualidade da água. “Embora os agricultores tomem cuidado na limpeza da área antes da chuva, é preciso dar mais atenção à qualidade. Quanto à irrigação, problemas de gestão foram responsáveis pela baixa eficiência. Além disso, alguns agricultores têm dificuldade para aceitar novas idéias”, explicou Qiang.
Experiências Brasileiras
No período da tarde, houve um painel sobre “Políticas governamentais de acesso à água e segurança alimentar: uma reflexão sobre os impactos sociais e sustentabilidade”. As apresentações foram iniciadas pelo o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, Crispim Moreira, que apresentou iniciativas do governo brasileiro para acesso à água e segurança alimentar e nutricional, com base nos seguintes temas: consumo humano, produção de alimento e educação. “As atividades integram um conjunto de ações que nasceu em janeiro de 2003, quando o presidente Lula elegeu o combate à fome como prioridade e instalou uma estratégia política, conhecida como Fome Zero”, contextualizou Moreira.
Na sequência, a representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Dione Freitas, destacou quatro políticas públicas ligadas à agricultura familiar: Pronaf Semiárido, Programa Garantia Safra, Lei sobre Alimentação Escolar (Lei N. 11.947/2009) e projeto de lei em tramitação sobre assistência técnica e extensão rural. Já o chefe da Unidade de Gestão de Recursos Hídricos da Codevasf, Elton Cruz, explicou o que é o Programa Água Para Todos: “A proposta é levar água potável às comunidades rurais. Nesta primeira etapa, serão atendidos 106 municípios. As atividades devem envolver comunidades ribeirinhas que estão num raio de 15 quilômetros à margem do rio São Francisco”. O Programa prevê construções de cisternas de placa e o equipamento de poços já existentes, dentre outras ações.
Na última parte do Simpósio, foi abordado o tema “Experiências na Implantação de Projetos de Acesso à Água no Semiárido Brasileiro”. O representante da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), Naidson de Quintella, destacou iniciativas da sociedade civil organizada. Quintella também criticou o entendimento de que o Semiárido seria uma região inviável: “Essa concepção marcou, durante muito tempo, a leitura do que era a região. Essa seria povoada por pessoas incapazes que deveriam, portanto, receber políticas, doações etc. A ASA parte de uma perspectiva diferente. Propõe um Semiárido decente, que respeite a realidade do seu povo. Para tal, enquanto um conjunto de organizações da sociedade civil, a ASA lança um novo olhar sobre a região. Em vez do combate a seca, a proposta é buscar a convivência com o Semiárido”, explicou Quintella.
A explanação seguinte foi realizada pela superintendente de Inclusão e Assistência Alimentar da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza do Estado da Bahia, Ana Torquato, que apresentou o Projeto Cisternas nas Escolas. “Como metodologia, priorizamos a integração entre as esferas de governo – federal, estadual e municipal – e a sociedade civil organizada. Há um controle social ativo”, explica Ana.
Por fim, o gestor de programas nos Convênios Municipais de Alagoas, Edilson Ramos, compartilhou informações sobre o processo de construção de cisternas nos municípios. “Nessa modalidade, buscamos aperfeiçoar a realidade local partindo da importante metodologia desenvolvida pela ASA”, explicou Ramos.
Encaminhamentos
Após as palestras, a moderadora e conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Elza Braga, sugeriu alguns encaminhamentos, considerando as reflexões dos/as palestrantes e participantes. “Precisamos construir um espaço mais amplo para discutir as políticas de acesso à água. Além disso, como foi dito, é necessário criar novas dinâmicas, aprimorando as reuniões e intercâmbios que já ocorrem. Podemos, ainda, buscar o aprofundamento do intercâmbio com a China, visto que ambos os países podem se beneficiar com a troca de conhecimentos”, propôs.
A diretora do departamento de política de segurança alimentar e nutricional do MDS, Neila Batista, informou que o governo brasileiro buscará formas para manter essa dinâmica entre os dois países. Quanto às ações de acesso à água e segurança alimentar e nutricional, “ainda existem desafios institucionais, como o marco legal e o financiamento de políticas públicas. Para encontrarmos soluções, precisamos fortemente da participação da sociedade civil”.
Depoimento

João Gnadlinger integra a diretoria da Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva (ABCMAC). Ele participou das articulações para a realização do Simpósio “Políticas de acesso à água e segurança alimentar e nutricional - Um diálogo entre as experiências na China e no Brasil”. Em depoimento ao Portal da RTS, João Gnadlinger fez um breve histórico sobre diálogos entre Brasil e China:

“Em 1995, tivemos o primeiro contato com a China. Já em 1999, o professor Zhu Qiang veio ao Brasil e falou que, na China, havia um milhão de cisternas implementadas. Na ocasião, ele também apresentou o Programa “1+2+1”. Essas informações influenciaram o pensamento, no Semiárido, sobre captação de água de chuva, inspirando a criação do Programa Um Milhão de Cisternas.

Em 2003, num simpósio de captação de água de chuva, nos lembramos novamente da experiência chinesa. Como consequência, já em 2004, aconteceu uma reunião no Dia Mundial da Água, em Juazeiro, onde foi formado um grupo de trabalho e surgiu a idéia do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). Posteriormente, a ASA assumiu a iniciativa. Evidentemente, as tecnologias são brasileiras, são experiências das pessoas do Semiárido, mas tivemos uma influência da China.

Neste ano, a ABCMAC realizou o 7o Simpósio de Captação e Manejo de Água de Chuva (28 de setembro a 1o de outubro) e, na preparação, pensamos numa participação internacional. Consideramos importante convidar o professor Zhu Qiang para falar sobre as ações atuais do Programa “1+2+1”, na China. Sua participação foi possível, com o financiamento do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Daí, aproveitamos sua presença no Brasil para realizar, também, este encontro em Brasília.

Avalio que essas articulações foram positivas. É importante que o diálogo Brasil-China prossiga. Também existem outras demandas internacionais. Eu participei do Fórum Mundial da Água, na Turquia, no início deste ano. Falamos sobre sistemas de captação de água de chuva, utilizados no Brasil. Recentemente, recebi uma correspondência de uma instituição que quer construir cisternas. De onde você pensa que vem esse pedido? Vem dos Estados Unidos, na Califórnia”.

 

Por Michelle Lopes – Assessora de Comunicação da RTS

(com informações da Ascom/MDS)

 


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