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Delegação internacional, com representantes de seis países, conhece experiências de Convivência com o Semiárido em Juazeiro-BA

Delegação internacional, com representantes de seis países, conhece experiências de Convivência com o Semiárido em Juazeiro-BA

Malhada da Areia, na zona rural do município de Juazeiro-BA, é uma das 40 comunidades que, atualmente, fazem o Recaatingamento e que vivem em harmonia com o bioma Caatinga, fazendo a gestão coletiva da área. No total, 25 famílias partilham tecnologias sociais como barreiros de trincheira e barramento de pedra de um riacho; além do cuidado com a área de 50 hectares, em recaatingamento, que já deu resultados. “A gente já vem vendo muita diferença em plantas que estavam um pouco sumidas da nossa Caatinga”, destaca o agricultor Rodrigo Nonato.

Dentro da área de Recaatingamento, que está cercada há 3 anos, a comunidade implementou uma Agrocaatinga (conhecida também em outras regiões como Sistema Agroflorestal-SAF). Em 25m x 25m, foram plantadas frutíferas e espécies nativas ou que ocorrem na Caatinga, como o umbuzeiro, angico e umburana. O que demonstra ainda mais as possibilidades de harmonia entre produção de alimentos e a conservação do bioma.

Mas, assim como ocorre em diversas regiões do Semiárido, a comunidade que é um exemplo de guardiã da Caatinga, infelizmente, sofre as ameaças da grilagem de terra.

“Quando a gente descobriu que essa terra, que era da gente, dos nossos bisavós, estava na mão de uma pessoa que tinha conseguido um documento, a gente começou se perguntar, se a terra que a gente tem, que a gente mora, que a gente cria, ia ser toda cercada, ‘a gente vai para onde?’ A gente começou a buscar os nossos direitos! Aí, veio o projeto Pró-Semiárido que, foi assim, não tem nem palavras para dizer o quanto que nos ajudou; e através de alguns apoios governamentais, a gente conseguiu reaver essa terra”, explica a moradora Iracema Lima.

O assédio criminoso de grileiros ainda persiste, só que a comunidade correu atrás para garantir o seu território e o modo de vida tradicional. “Hoje a gente tem o certificado de Comunidade Tradicional de Fundo de Pasto, tem o CEFIR (Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais) comunitário da comunidade. E, mesmo assim, até agora, há pouco tempo, a gente ainda sofre ameaças. De vez em quando alguém liga; uma pessoa ligou dizendo que era filha da mulher que era dona da terra, essa mulher a gente não conhece. Ia grilar essa terra toda e usar para botar essas placas (energia solar). Só que não conseguiu. Por quê? Graças a Deus a gente estava organizado e por causa do apoio que a gente teve também. Mas, a gente sofreu muito com isso”, desabafa aliviada e preocupada, dona Iracema.

Essa luta em defesa da área, do modo de viver coletivo e em harmonia com a Caatinga, de Convivência com o Semiárido; além da importância das políticas públicas e das tecnologias sociais, foram mostradas para visitantes de seis países na última sexta-feira (22); tendo como destaque essas palavras da dona Iracema. As falas ocorreram durante um intercâmbio, que teve, entre as atividades da programação, uma visita à comunidade Malhada da Areia.

 

Na localidade, houve ainda debate e apresentação da tecnologia de saneamento rural, com reator UASB, que faz o tratamento de todas as águas de uma casa e ainda possibilita o reúso da água na irrigação, por gotejamento, em frutíferas e forrageiras. Na área do agricultor Rodrigo Nonato, já foi possível reaproveitar pouco mais de 20 mil litros de água em apenas dois anos. Ele está fazendo a irrigação de capim, goiaba, banana e mamão.

Também como parte da programação, no mesmo dia, a turma debateu outros temas da Convivência com o Semiárido, em visita ao Centro de Formação do José Rodrigues, do Irpaa, localizado no Jardim Primavera, em Juazeiro; com ênfase nas discussões sobre produção apropriada ao Semiárido, incluindo a caprinovinocultura, a criação de galinhas e a importância dos quintais produtivos para garantir a segurança alimentar e nutricional das famílias.

 

O intercâmbio dessa delegação internacional contou com a participação de representantes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e de ministérios/secretarias de governo dos países: El Salvador, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Panamá e República Dominicana.

A programação aconteceu entre os dias 18 e 23 de março, com atividades na região baiana do Território de Identidade Sertão do São Francisco e em Petrolina-PE. Mas, especificamente, no dia 22, todos os debates e vivências inspiraram os/as intercambistas a utilizarem, no retorno às suas realidades, os conhecimentos sobre organização comunitária, defesa dos territórios e de convivência com o clima.

“Aqui nós vemos todo o esforço que vocês, das instituições, das ONGs e de todo o Estado, (através dessa ação conjunta) é possível atender uma grande quantidade de necessidades. Particularmente, acesso à água para consumo humano, produção de alimentos e saneamento (rural e com reúso de águas). Então, o que estamos levando são alternativas de como encarar esses desafios. (...) Vocês têm várias soluções que nós podemos aproveitar nos nossos países”, ressalta o Oficial de Agricultura do Escritório Sul-regional da FAO para a MesoAmérica, Julian Carrazon.

A analista de projetos da Agência Brasileira de Cooperação, do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), Carolina Eschiletti Salles, pontuou que foi importante a visita a um local em que é possível constatar a conservação da Caatinga, com “áreas que voltaram a ser produtivas e ter cobertura vegetal e, com isso, as famílias que trabalham nessas áreas conseguem tirar seu sustento, seu alimento”.

Eschiletti também enfatiza que o trabalho de Convivência com o clima semiárido desenvolvido na região é um exemplo. “Achei muito oportuno que eles tenham vindo aqui conhecer as melhores experiências que o país tem a oferecer, para que eles possam adaptar e aplicar nos seus territórios, para que os agricultores familiares deles também tenham essa ascensão na qualidade de vida, que nem estão praticando aqui”.

O coordenador institucional do Irpaa, Clérison Belém, que também acompanhou a visita à Malhada da Areia, pontua que, além da troca de saberes e da partilha de materiais didáticos, o momento serve para aproximação institucional. “A gente fica satisfeito com essas visitas e também nos colocamos à disposição para continuar nessa rede, porque em cada intercâmbio a gente faz conexões e podem surgir parcerias de ações conjuntas; tudo na perspectiva da Convivência com o Semiárido e, principalmente, nesse momento que a gente está, de emergência climática, que a gente precisa sim, conhecer e aplicar o que está dando certo no Brasil e no mundo”.

Essa missão internacional no Brasil é uma iniciativa conjunta entre a ABC/MRE e a FAO, com o objetivo de contribuir para a mitigação dos efeitos das secas em três países: Guatemala, El Salvador e Honduras. A ação proporciona ainda a troca de conhecimentos sobre o chamado “Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC)”, que aborda, por exemplo, formas de adequar o cultivo agrícola às variações climáticas.

Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa


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