IRPAA - Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada

Viver no sertão é conviver com o Clima

Formulário de Busca


Notícias

Experiências de Fundo Rotativo Solidário em Monte Santo inspiram grupos do Território Sertão do São Francisco a seguirem implementando essa iniciativa

Experiências de Fundo Rotativo Solidário em Monte Santo inspiram grupos do Território Sertão do São Francisco a seguirem implementando essa iniciativa

Nos primeiros anos da década de 1980, os altos índices de desnutrição infantil mobilizaram ações da Pastoral da Criança na região de Monte Santo-BA. A partir deste trabalho desenvolvido, surgiu um grupo de mães que passaram a buscar saídas, no combate à fome, com a produção de hortas e a criação de galinhas. Daí em diante, tudo foi uma história inspiradora de união e solidariedade. Resultado: foi criada uma associação; houve muitas práticas de Fundo Rotativo Solidário (FRS), a exemplo da “Cabra Solidária”; e um trabalho incansável de dezenas de grupos produtivos que, atualmente, podem celebrar a conquista de uma unidade de beneficiamento bem equipada e que, apenas em 2023, produziu quase 30 toneladas de polpa de frutas.

Foi essa trajetória com ações de economia solidária desenvolvidas e apoiadas pela Associação Regional dos Grupos Solidários de Geração de Renda (Aresol), que um grupo de mais de 30 pessoas do Território Sertão do São Francisco conheceu na última semana. A entidade fez parte da programação de um intercâmbio, realizado nos dias 7 e 8.

Entre os destaques do debate na sede da Aresol ficou evidente a importância da integração das políticas públicas com o trabalho de assessoria técnica contínua dos grupos produtivos e de fomento realizados pelo Estado. É o que afirma um dos fundadores e atual tesoureiro da entidade, José Elias Andrade. Em determinado momento do bate-papo com a turma, ele questionou o porquê de ter tantos incentivos para o setor privado, enquanto para os pequenos produtores a ajuda não chega como deveria. E, ainda, que o “fundo rotativo é um recurso que permanece vivo”.

Por isso, José Elias defende que o fomento em fundo rotativo precisa continuar. “A gente percebe que precisa de mais investimento, ou seja, estar aumentando esse fundo. E, pra mim, só tem uma alternativa, é a gente cobrar do estado que ele fomente esse recurso, porque ele vai desvalorizando(…) E o estado fomentar para a gente permanecer com esse fundo vivo e abrangendo mais grupos ou pessoas individuais”.

Ao todo, 128 grupos produtivos são assessorados pela Aresol, metade deles acessa um fundo rotativo, que é para iniciativas em projetos coletivos, com valor de até 20 mil reais. O recurso impulsiona o trabalho de muitas famílias. Um dos exemplos é o grupo Juventude a Caminho, da comunidade Tapera. O coletivo teve origem há 15 anos, a partir das ações vinculadas à Pastoral da Juventude Rural. Desde então, passou a ser fundamental para garantir o engajamento da juventude com a comunidade, isso, porque o grupo conta com a colaboração de quem passou pelo mesmo; jovens que saíram para estudar fora, mas retornaram para continuar ajudando.

A primeira vez que o grupo acessou o fundo da Aresol foi em 2006, com o valor de 5 mil reais para investir em freezer e embalagens. Nos anos seguintes chegou a fornecer polpa de frutas para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

O fato é que, além das atividades iniciais, os/as integrantes do grupo se juntaram e fortaleceram também uma associação comunitária. A entidade local conseguiu, através de edital do governo do Estado da Bahia, a construção de uma unidade de beneficiamento. Quando estiver funcionando, uma das máquinas poderá processar por hora até 200 potes de produto, que pode ser, por exemplo, geleia. Todos esses assuntos foram abordados com as pessoas que participaram da atividade e visitaram as instalações.

Diante de tudo o que pôde vivenciar e no sentido de reconhecer o valor dessa iniciativa, a presidente da Associação Comunitária de Agricultores Familiares de Tapera e coordenadora do grupo produtivo, Maria Cleonice Costa, avalia que o FRS é “uma possibilidade de gerar renda, garantir o jovem no campo; garantir também a segurança alimentar desse povo no campo. Porque o fundo rotativo, ele tem acesso a não somente a questão do grupo produzir produtos agroecológicos da própria comunidade; mas, numa perspectiva de demonstrar o quão importante é trabalhar com os frutos nativos da Caatinga, da comunidade, com a ação do retorno para esse sujeito que vive no campo”.

Maria Cleonice também ressalta que o trabalho garantiu a independência financeira das mulheres. Atualmente o grupo produtivo da comunidade tem 9 pessoas e, desse total, 7 são mulheres. O futuro, depois da unidade de beneficiamento, é promissor para potencializar essas ações. “O trabalho do grupo é empoderar mulheres, empoderar jovens para não ter a falta de informação e de possibilidades de ações dentro da nossa comunidade (...) E isso, acredito que a unidade vai gerar renda e outras particularidades, a acessar outros mercados; acredito muito que, com essa unidade, a gente vai ter o registro sanitário da infraestrutura e também de produtos”, pontua, esperançosa, Clarice.

A história dessas ações na comunidade Tapera chamou a atenção de uma das participantes do Intercâmbio justamente pelo protagonismo feminino e também pela oportunidade de conhecer outros exemplos de sucesso. Jaciara Ladislau, que coordena o grupo de FRS da Feira Agroecológica de Sento Sé, destaca o aprendizado de que “o trabalho de gestão tem que ser trabalhado nos grupos. Se a gente não tiver essa base do trabalho de gestão, a gente não consegue o nosso objetivo, de alcançar os fundos rotativos estruturados, digamos assim. E também as experiências; aqui teve êxito nos fundos rotativos porque as mulheres acessaram, a maioria foi mulheres que acessaram. Na conversa da comunidade Tapera, a gente vê que foram as mulheres que acessaram, que estão gerindo. A gente tem a certeza que quando a mulher tá a frente das organizações, dos grupos, se torna uma realidade visível esse trabalho que a mulher faz”, enfatiza.

A programação incluiu uma visita à Escola Família Agrícola do Sertão (Efase), de Monte Santo. Na Efase, além de conhecer o trabalho desenvolvido com os/as estudantes da região e as práticas produtivas, houve um momento para debater mais detalhes do tema do intercâmbio. Nas discussões, as pessoas que participaram puderam conhecer as iniciativas realizadas pelos grupos e entidades presentes e propor ações para intensificar os trabalhos. Entre as sugestões foram destaques a necessidade de: materiais didáticos sobre o assunto; a cobrança por políticas públicas de fomento e assessoria específica; ter atenção com o lançamento de editais de fomento; estratégias para ampliação dos valores dos fundos já existentes; mais planejamento dos grupos e criação de uma rede, para apoio mútuo, de quem está desenvolvendo ações de FRS.

“O que precisa é que as pessoas conheçam essa ferramenta que é o fundo rotativo solidário, a partir daí, aprender com essa experiência. A gente vê que o resultado desse momento é que os grupos voltam mais animados para continuar consolidando essas experiências e se fortalecendo. E também buscar outras pessoas que podem também se somar neste trabalho”, avalia o colaborador do Irpaa, Judenilton Oliveira.

Nilton, como é conhecido, ressalta também como ponto positivo a animação de quem participou do intercâmbio. “Outro resultado que a gente viu, que superou as nossas expectativas, é de outros grupos que estavam aqui, tipo a ATAF, outras comunidades que vieram, a Coopervida, a Rede Mulher, já também visualizam possibilidades; já saem daqui com o compromisso de implementar esse trabalho com as iniciativas que eles já tem, para que o fundo rotativo seja esse instrumento tanto de fazer esse debate, da perspectiva de discutir outras economias nesse sistema excludente que a gente vive, para poder mostrar que a gente pode garantir geração de renda, potencializar a produção das comunidades, envolver jovens e mulheres. E que isso é possível a partir de formação, conhecimento e organização dessas pessoas”.

Além do coletivo e entidades mencionadas por Nilton, estiveram nesse intercâmbio jovens da República do Irpaa, representantes e agricultores/as das feiras agroecológicas de Remanso e Sento Sé. Todos já realizam atividades de FRS.

Como encaminhamento, de acordo com Nilton, os/as envolvidos/as retornaram com a “parceria fortalecida e com esse compromisso com esses grupos que vão continuar fazendo esse trabalho. E a gente, agora tem o desafio de garantir que eles continuem animados para que daqui a um ano a gente possa apontar outros desafios e ver o que a gente já superou. Então, o saldo é muito positivo desse momento que a gente teve aqui”, conclui Nilton.

Um aspecto importante sobre o tema e que dá base para essas outras formas de economias, é que, antes de tudo, tem que haver organização social. E o FRS é apenas um elemento, porque existem outras práticas que evidenciam o fortalecimento do vínculo entre as comunidades, seja com relações de trocas, mutirões solidários e doações; ou com o compromisso das pessoas para manter o ciclo girando. Então, está muito além do fator "financeiro".

Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa

 


Veja também

< voltar    < principal    < outras notícias

Página:

Experiências de Fundo Rotativo Solidário em Monte Santo inspiram grupos do Território Sertão do São Francisco a seguirem implementando essa iniciativa

Para:


Suas informações:



(500 caracteres no máximo) * Preenchimento obrigatório




Campanhas

Newsletters

Cadastre seu e-mail para receber notícias.

Formulário de Contato





Faça sua doação


Copyright © 2005 - 2009 IRPAA.ORG Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada - IRPAA
Avenida das Nações nº 04 - 48905-531 Juazeiro - Bahia, Brasil
Tel.: 0055-74-3611-6481 - Fax.: 0055-74-3611-5385 - E-mail: irpaa@irpaa.org - CNPJ 63.094.346/0001-16
Utilidade Pública Federal, Portaria 1531/06 - DOU 15/09/2006 Utilidade Pública Estadual, Lei nº7429/99
Utilidade Pública Municipal, Lei nº 1,383/94 Registro no CNAS nº R040/2005 - DOU 22/03/2005