IRPAA - Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada

Viver no sertão é conviver com o Clima

Formulário de Busca


Notícias

Vovós e vovôs são sinônimos de tradição, afeto e fonte de saberes

Vovós e vovôs são sinônimos de tradição, afeto e fonte de saberes

A tradição cristã católica reverencia o pai e a mãe de Maria, portanto, a avó e o avô de Jesus, Santa Ana e São Joaquim, no dia 26 de julho. Por esse motivo, a data é celebrada como “Dia dos Avós”. Quando falamos dos vovós e vovôs, geralmente nos vêm à lembrança aquela referência de uma pessoa carinhosa, cuidadosa, sábia e que tem muito a ensinar; também são figuras que ocupam um lugar de exemplo por toda a sua trajetória, muitas vezes de superação e dedicação à família.

No contexto das comunidades rurais, sejam elas tradicionais ou não, esse vínculo afetivo e de respeito aparenta ser ainda mais acentuado. É comum ouvir relatos de pessoas mencionando idosas/os como um exemplo a ser seguido, como fonte de conhecimento das tradições, entre tantas outras coisas.

Obviamente, estamos vivendo tempos em que não necessariamente ser avó ou avô significa já estar na terceira idade. Mas, sim, o termo faz jus e é carinhosamente atribuído a quem está nessa fase da vida. E quando o assunto é sobre pessoas idosas, muitos são os elementos que podemos debater. Por exemplo, de acordo com o Censo Demográfico de 2022, o Brasil está envelhecendo; comparado com a pesquisa de 2010, a quantidade de pessoas com 65 anos ou mais teve uma alta considerável; saiu de pouco mais de 14 milhões, para mais de 22 milhões.

Outro aspecto, é que, infelizmente, também sobem os números relacionados à violência contra pessoas idosas. Segundo informações publicadas em um artigo realizado por pesquisadoras da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), as denúncias notificadas apenas durante o período de 2020 até 2023 chegou a 408.395 mil; 19,9% dessas denúncias foram da região Nordeste, que tem o terceiro maior número de idosos do país. Esses quantitativos foram evidenciados, no artigo, a partir dos dados de denúncias registradas no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

As estatísticas acendem um alerta de cuidado; e fica o questionamento: como estamos cuidando das pessoas idosas? E, ainda, para além dos números, que são importantes para enxergarmos a realidade, adentramos em reflexões filosóficas e existenciais; afinal, na normalidade da vida, todo mundo quer “envelhecer”; e bem, com saúde, qualidade de vida, sendo bem cuidado. Por que não proporcionar isso a quem amamos, aos nossos familiares? Vale refletir sobre isso.

Retomando o papo sobre o contexto das comunidades, podemos abrir um leque de muitas outras discussões relacionadas a esse tema, como os desafios atuais da sucessão rural, as necessidades por políticas públicas e o envolvimento da juventude.

Alguns dos ensinamentos dessas pessoas que são referências e que têm muito a ensinar vêm da Comunidade Tradicional de Fundo de Pasto Bom Jardim, em Canudos-BA. Antonildo Damaceno, de 68 anos, que foi sempre ativo na lida da roça e no cuidado da criação, aprendeu, com os ancestrais, as práticas de reza, para cuidado dos animais; nos contou que “nunca chamou um veterinário”. Essa missão precisa ser repassada para as próximas gerações; por isso, seu Antonildo conta que vai seguir a tradição de passar para duas pessoas. “É obrigado! Cuido daqui de casa, cuidar das minhas palavras, das minhas orações. Eu já venho com muitos anos rezando e quando a gente cai na idade, tem que ensinar a dois filhos, ao menos um deve aprender, que né possível!? (...) pra gente ter quem fique cuidando da mesma coisa, igual”, enfatiza.

Além da transmissão de saberes para os descendentes, Antonildo, que ainda trabalha como vaqueiro, partilha um pouco da sabedoria adquirida com o tempo: o segredo é viver sossegado, trabalhando, cuidando da família, sem se envolver em confusão. “Se a gente vive sossegado, a pessoa vive bem. Em vez de viver ‘um ano’, você vai viver ‘dois, três’ (a mais), se você viver sossegado (...) Com as experiências da gente, tudo vai à frente, né!?”. Ele destaca ainda que vem contribuindo, na medida do possível, com os mais jovens para que os conhecimentos não se percam.

“Quem mora mais eu tem aprendido, e vão aprender muitas coisas, porque o ‘véi’ ainda tem alguma coisa para ir ensinando (...) Eu peço assim que eles cuidem na vida direitinho, peço atenção às campeagens (por exemplo, cuidar da criação na Caatinga), como é que é que se precisa tudo. Se não, finda [de] nós ficar sem jovens de labutar com os bichos”.

Dona Lídia Dantas, de 68 anos, esposa do seu Antonildo, enfatiza que tem muita vitalidade. “Faço minhas coisas, me sinto bem, tô ótima. Pra mim é um orgulho Deus ter me dado esse tanto de vida já. Espero em Deus que ele me dê mais”. Ela complementa a mensagem do companheiro, na esperança de que as novas gerações mantenham vivas as tradições como o artesanato, o cuidado com a roça e a participação na comunidade, com a associação. Inclusive, o envolvimento com a associação é algo que também faz parte da rotina de Lídia.

“Estamos aqui na luta! (...) Incentivo os jovens que resgatem as coisas boas do passado, que não deixem morrer, coisas bonitas de tradição, que não deixem isso se acabar. Procure conhecer nossas histórias, pergunte a quem sabe explicar, incentivar, depois vocês vão agradecer. E quem aprende vai passar de um para o outro”, enaltece dona Lídia.

Depoimentos como esses se repetem por muitas outras comunidades. Apesar dos desafios com as juventudes, entre as novas gerações, felizmente, há pessoas que buscam e vêem nos/as idosos uma fonte de conhecimentos; e que reverenciam, respeitam e cuidam.

Assim como para as famílias, também é preciso trazer para esse debate que os governos não podem se isentar da responsabilidade do cuidado com as pessoas idosas. Há muito o que fazer, desde proporcionar acessibilidade nas vias públicas até o fornecimento de medicamentos de uso contínuo, por exemplo. E tem mais: quantos espaços de lazer, socialização e de cuidado para esse público você conhece? Quantas políticas públicas? Coisas básicas, como praças bem cuidadas para serem frequentadas ainda faltam. Que sejam cobradas sempre, principalmente nos períodos eleitorais.

Até que essa evolução, enquanto sociedade, não chegue, podemos seguir fazendo o que compete e é possível individualmente: no zelo, no cuidado; pedindo, aceitando e agradecendo pela benção de tê-los/as. É uma benção!

Texto: Vagner Gonçalves - Eixo Educação e Comunicação do Irpaa
Fotos: Vanderlei Leite - Eixo Produção Apropriada do Irpaa
 


Veja também

< voltar    < principal    < outras notícias

Página:

Vovós e vovôs são sinônimos de tradição, afeto e fonte de saberes

Para:


Suas informações:



(500 caracteres no máximo) * Preenchimento obrigatório




Campanhas

Newsletters

Cadastre seu e-mail para receber notícias.

Formulário de Contato





Faça sua doação


Copyright © 2005 - 2009 IRPAA.ORG Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada - IRPAA
Avenida das Nações nº 04 - 48905-531 Juazeiro - Bahia, Brasil
Tel.: 0055-74-3611-6481 - Fax.: 0055-74-3611-5385 - E-mail: irpaa@irpaa.org - CNPJ 63.094.346/0001-16
Utilidade Pública Federal, Portaria 1531/06 - DOU 15/09/2006 Utilidade Pública Estadual, Lei nº7429/99
Utilidade Pública Municipal, Lei nº 1,383/94 Registro no CNAS nº R040/2005 - DOU 22/03/2005