IRPAA - Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada

Viver no sertão é conviver com o Clima

Formulário de Busca


Notícias

Incidência política e participação social marcam o Encontro Estadual do Consórcio das Juventudes da Bahia

Incidência política e participação social marcam o Encontro Estadual do Consórcio das Juventudes da Bahia

Com uma população de mais de 3 milhões de jovens com idades entre 15 e 29 anos, a Bahia lidera rankings preocupantes quando o assunto são políticas públicas para a Juventude, de acordo com dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Há déficit de oportunidades de emprego, geração de renda, evasão escolar, segurança, acesso à cultura, ao lazer e uma série de direitos que, em muitos casos, quando chegam, contemplam um percentual baixo de jovens, em sua grande maioria das grandes cidades do estado. Para jovens que residem no campo, a realidade pode ser ainda mais dura: falta de tudo e mais um pouco, mas principalmente, o direito garantido de permanecerem no campo com oportunidades dignas de viver bem, com acesso a direitos básicos que, em outras palavras, lhes são negados.

Foi partindo desse contexto que o Movimento de Organização Comunitária (MOC), o Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP) e a Escola Família Agrícola de Monte Santos (EFASE) reuniram mais de 50 jovens de comunidades rurais de três territórios da Bahia para o Encontro Estadual do Consórcio das Juventudes. Realizado nos dias 3 e 4 de maio, em Conceição do Coité-BA, Território do Sisal, no espaço da Mansão do Pai Bico, o evento elencou três objetivos: resgatar a caminhada do Projeto Consórcio das Juventudes e prospectar possibilidades do futuro em articulação e/ou Rede, coletivo; intercambiar experiências para incentivar protagonismo juvenil e auto-organização; e aprofundar reflexões sobre políticas públicas para as juventudes do campo com debates a partir das problemáticas e anseios dos/as jovens.

Com uma programação marcada por rodas de conversa, mediadas por jovens de organizações sociais, coletivos e do Governo da Bahia, o encontro foi, na avaliação de Vaninha Cunha, técnica do Movimento de Organização Comunitária (MOC), e integrante do núcleo animador do Consórcio das Juventudes, responsável pela gestão de processos coletivos uma oportunidade para “fortalecer a participação, o protagonismo, a auto-organização”.

Ela afirma que uma das estratégias do Consórcio é o intercâmbio entre jovens de diferentes realidades. “Tem uma galera que já são jovens lideranças nas suas comunidades, mas tem jovens que estão chegando nesse processo de formação política agora. Então, a gente sempre traz esse fortalecimento do que são as políticas públicas para a juventude, se de fato são efetivas, se chega até eles e elas, se eles conhecem essas políticas”.

O evento foi dividido em três momentos, começando com uma memória sobre a trajetória e os avanços alcançados a partir do trabalho desenvolvido através do Consórcio, seguido por um intercâmbio de experiências para incentivar o protagonismo juvenil e auto-organização, e finalizado com o aprofundamento da reflexão sobre políticas públicas para as juventudes, com foco no campo, com debates a partir das problemáticas e anseios dos/as jovens.

Para facilitar e contribuir com essas dinâmicas, duas jovens do Território Sertão do São Francisco participaram do evento. Representando o Coletivo de Jovens da Região de Curaçá, Uauá e Canudos (Coletivo CUC), Natália Cardoso, natural da comunidade Tradicional de Fundo de Pasto Esfomeado, em Curaçá-BA, e estudante da Escola Família Agrícola de Sobradinho (EFAS), falou sobre a trajetória, destacando avanços, desafios e perspectivas ao longo dos 4 anos da organização.

Já o Coletivo Carrapicho Virtual, formado por jovens educomunicadores da região do Salitre, em Juazeiro, foi representado por uma de suas fundadoras, a jovem Manuela Carneiro, salitreira e estudante de Ciências Sociais pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). Ela destacou a importância da auto-organização, da união entre as juventudes de uma mesma comunidade ou território e do papel fundamental que a educomunicação desempenhou para que o Carrapicho Virtual passasse de sonho à realidade, com apoio da comunidade e uma série de atividades de formação política, técnica e cultural através de iniciativas de 15 jovens de comunidades do Salitre.

Esse momento de partilha de experiências de jovens lideranças e auto-organização contou ainda com a participação de Izana Silva, do Grupo Prosperar – sediado na comunidade de Bastião, no município de Retirolândia-BA, que há mais de 15 anos possibilita geração de renda às mulheres em alternativa ao trabalho com os grandes produtores de Sisal a partir da produção de tempero, beiju tradicional, sequilhos, bolo e broas. E da Secretária de Juventudes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Cândida, que também preside o Sindicato de Trabalhadores Rurais de São Félix, destacou em sua participação quais caminhos teve que percorrer para ocupar estes espaços de decisão e de incidência política.

Quem também trouxe grandes contribuições para o centro do debate, em dois momentos diferentes, foi a jovem Keu Silva, que é produtora cultural, pesquisadora, especialista em agroecologia e a primeira mulher e primeira pessoa do campo a presidir a Associação Cultural e Beneficente Revolution Reggae (ACBRR), fundada há mais de 19 anos em Conceição do Coité-BA.

Partindo de questionamentos como: “O que é ser jovem no Brasil? Por que não estamos à frente dos espaços de poder? e Quais medidas o estado vem adotando para contemplar as juventudes? Keu Silva, que também é fruto dos espaços formativos do Consórcio, destacou os desafios enfrentados devido à falta de políticas públicas adequadas para os jovens, tanto em nível estadual quanto federal. Ela enfatizou que, apesar da existência de legislação, muitas dessas políticas ainda não alcançam uma grande parte da população jovem, principalmente no campo.

“A gente traz esse momento para eles fazerem o levantamento de desafios e possibilidades a partir do que as experiências têm fornecido, a partir da perspectiva deles, pra ter esse olhar muito nesse sentido de entender qual é a dinâmica. A dinâmica tem oferecido de fato oportunidades, tem sido acolhedora, tem permitido que esses jovens se apropriem desse espaço, se sintam pertencentes a esse espaço? E aí eu acho que o movimento que a gente tem feito, e o movimento do próprio consórcio nos dá esse norte. Porque a gente jovens de uma leva de três gerações já do consórcio e que têm mantido uma constância de produções, de participações e que tem permitido essa possibilidade de diálogos e construções”, Keu Silva.

De acordo com o coordenador Geral de Políticas Públicas de Juventude do Governo da Bahia, Nivaldo Milet, que também participou do encontro, foi um momento de grande importância para reconhecer o potencial e as demandas de uma juventude engajada, consciente de suas necessidades e disposta a influenciar as políticas públicas através do diálogo e da participação ativa. “Eu vejo uma juventude emancipada, que ainda precisa se emancipar numa perspectiva de renda, de oportunidade, mas uma juventude que sabe o que quer, que sabe onde quer estar, e que tem disposição de cobrar do governo às demandas. Isso para mim é muito importante porque vendem a gente como se a juventude não soubesse o que quer, e nós não somos isso. Então, é uma juventude... diversos territórios aqui presentes, que têm o debate político na ponta da língua, que sabe a necessidade de a gente construir caminhos a partir da escuta colocada aqui”, destacou Nivaldo Milet.

Apesar dessas colocações, a participação do representante do Governo foi bastante criticada na plenária de avaliação, em razão da supressão do debate que deveria ter acontecido entre o gestor e a juventude. Assim, poucas pessoas apresentaram questionamentos, dos quais somente alguns foram respondidos. Essa situação reforça algo que foi pontuado ao longo do evento: de que o Estado precisa ouvir mais para conhecer melhor a diversidade de realidades que constroem essa população formada por milhares de jovens no estado.

O Irpaa também esteve presente no evento. A convite do Consórcio e representando a Comissão de Juventudes da instituição, o colaborador Danilo Souza, participou do evento com a mediação de um debate sobre a realidade de jovens que vivenciam as problemáticas que envolvem a invasão de Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto por parte de grandes empreendimentos eólicos, minerários ou de energia solar, entre outros.

Para Vaninha Cunha, foram debates fundamentais para aguçar o olhar dos/das jovens que vivenciaram o evento. ‘Então a gente traz esses debates, a gente traz esse processo de formação coletiva, trazendo jovens de três organizações, de três articulações diferentes, e esse encontro a gente contou também com a participação de outras organizações que somam, que têm expertise nesses processos, que somaram para a gente ampliar mesmo os horizontes de como é que a gente pode pensar, a continuação desse projeto coletivo.”

Texto: Eixo de Educação e Comunicação do Irpaa
 


Veja também

< voltar    < principal    < outras notícias

Página:

Incidência política e participação social marcam o Encontro Estadual do Consórcio das Juventudes da Bahia

Para:


Suas informações:



(500 caracteres no máximo) * Preenchimento obrigatório




Campanhas

Newsletters

Cadastre seu e-mail para receber notícias.

Formulário de Contato





Faça sua doação


Copyright © 2005 - 2009 IRPAA.ORG Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada - IRPAA
Avenida das Nações nº 04 - 48905-531 Juazeiro - Bahia, Brasil
Tel.: 0055-74-3611-6481 - Fax.: 0055-74-3611-5385 - E-mail: irpaa@irpaa.org - CNPJ 63.094.346/0001-16
Utilidade Pública Federal, Portaria 1531/06 - DOU 15/09/2006 Utilidade Pública Estadual, Lei nº7429/99
Utilidade Pública Municipal, Lei nº 1,383/94 Registro no CNAS nº R040/2005 - DOU 22/03/2005