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Mulheres marcham contra energia renovável centralizada e a devastação das comunidades rurais

Mulheres marcham contra energia renovável centralizada e a devastação das comunidades rurais

A 16ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia foi, mais uma vez, um momento de evidenciar a força, a resistência e a união feminina. Com muita animação, cerca de 6 mil mulheres de diferentes estados do Nordeste, incluindo do Rio de Janeiro e Paraná, marcharam em defesa dos territórios do Semiárido, que são invadidos pelos grandes empreendimentos de energias renováveis centralizadas que desrespeitam os povos. O evento foi realizado na última quinta-feira (13), no município Esperança, no Polo da Borborema-PB.

Esta é a quarta vez que a Marcha traz como tema o impacto das energias renováveis. Isso mostra o quão urgente é essa discussão, que questiona a forma como os empreendimentos chegam: sem diálogo com os/as moradores/as, promovendo rivalidades e divisões nas comunidades e ocasionando inúmeros prejuízos, que perpassam por questões ambientais, sociais, produtivas e de saúde física e mental.

“Esse momento é de unirmos forças, de construir a nossa resistência pelos modos de vida das mulheres, pela nossa vida, contra todo tipo de violência que esse modelo de produção de energia entra nos territórios e deixa vulnerável a vida das mulheres, a sua produção e a sua existência”, destaca Roselita Victor, coordenadora do Polo da Borborema, integrante da coordenação da Marcha e da coordenação executiva da ASA.

A jovem estudante da República do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) e do curso de Extensão do projeto Baraúnas dos Sertões, Dilma Reis, enfatiza a importância de vivenciar experiências como essa, que reafirmam a necessidade da organização da sociedade civil e das mulheres; principalmente porque, geralmente, são as mais prejudicadas em todos os processos que têm o capital como centro das negociações. “ Eu, enquanto mulher jovem do campo, me sinto em casa, estando nesse espaço, porque é o momento onde a gente vai buscar os nossos direitos e reivindicar os nossos espaços, porque nós somos mulheres guerreiras. Em tantos momentos a gente é negado aos nossos direitos, é negado de estarmos nesses espaços, ocuparmos os espaços que nós quisermos”.

Durante a Marcha, um dos relatos mais impactantes sobre a invasão dos empreendimentos eólicos foi partilhado pela agricultora, sindicalista e representante do Rio Grande do Norte no Movimento dos Atingidos pelas Renováveis (MAR), Francisca Barbosa. “Eu sofro com minha casa toda rachada, tá quase caindo, a minha cisterna já não existe mais, eu estou doente, tô quase surda, eu tenho problema de audição, eu tenho depressão, eu tenho ansiedade; para dormir, eu preciso tomar remédio. O barulho constante, dia e noite”.

Além de todos esses prejuízos, os empreendimentos de energia renovável raramente produzem energia para as comunidades e famílias atingidas diretamente pelas torres eólicas ou placas solares. Muitas vezes, elas continuam sem acesso à energia, recebendo apenas os danos desses megaprojetos. Inclusive, as empresas estrangeiras investem na produção de energia “limpa” no Brasil, pois encontram “facilidades” e até incentivos dos governos, que desconsideram a importância da Caatinga, dos povos e suas tradições e vendem o nosso sol e os nossos ventos. Nesse sentido, cabe a reflexão: qual o verdadeiro valor para o nosso povo?

A Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia é realizada pelo coletivo de sindicatos rurais do Polo da Borborema, que reúne 13 municípios, associações comunitárias e agroecológicas, cooperativas, movimentos sociais e redes compostas por organizações da sociedade civil. “Em especial, é a quarta vez que a gente caminha com a mesma temática, mas essa marcha, a gente quis reforçar esse sentido de resistência, de união dos povos, dos diferentes povos em defesa dos seus territórios. E acho que a gente conseguiu atingir esse objetivo”, reforça a integrante da coordenação da Marcha e da instituição Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA), Adriana Galvão.


Feira de Saberes e Sabores

A “Feira de Saberes e Sabores: comida de verdade no campo e na cidade” também fez parte da 16º Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. Todos os anos, o evento dedica um espaço para a comercialização de artesanatos e alimentos agroecológicos.

A agroecologia é o caminho para a conservação do meio ambiente, preservação das tradições culturais, alimentação saudável, respeito à biodiversidade, dentre tantos outros pilares fundamentais para o Bem Viver dos povos e comunidades rurais. Esse modo de vida não dialoga com o capitalismo predatório realizado pelos grandes empreendimentos de energia centralizada, que invadem as comunidades e deixam marcas profundas de destruição.

“Nós estamos demonstrando que a agroecologia é um caminho para o enfrentamento das mudanças climáticas, contra esse modelo de produção que agride a natureza, que não respeita a vida das mulheres. Portanto, recheadas de carinho, de trabalho, de resistência e demonstrando aqui a força das mulheres. A Feira é esse grande lugar que aponta que a agroecologia é o caminho para a vida de todas as pessoas e, em particular, pela vida das mulheres”, reforça Roselita.

Esse espaço da feira na Marcha é ocupado pela agricultora Cristina Moreira, do município Lagoa Nova-PB, todos os anos “É um momento muito bom, porque a gente aproveita para trazer os nossos produtos; é um produto natural, orgânico, para vender ao pessoal; porque é muito bom para a nossa alimentação. A gente sabe o que está comendo e sabe o que estamos vendendo para os nossos consumidores”, ressalta Cristina.

A participação de estudantes da República e integrantes da equipe do Irpaa contou com apoio do projeto Baraúnas dos Sertões, uma iniciativa da Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, Rede ATER Nordeste de Agroecologia, da Articulação Nacional de Agroecologia e do GT de Mulheres da ANA. Esse projeto é realizado em parceria com o Ministério de Desenvolvimento Agrário, Governo Federal, UFRPE, FADURPE, Núcleo Jurema, Unilab e UFPI.

Texto: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa
Fotos: Eixo Produção Apropriada do Irpaa
 


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