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“A gente gostaria de não precisar existir mais”, diz Marina Rocha, da CPT

“A gente gostaria de não precisar existir mais”, diz Marina Rocha, da CPT

A Comissão Pastoral da Terra – CPT comemora neste mês de novembro 40 anos de trabalho na região de Juazeiro. Fundada pelo bispo emérito da Diocese de Juazeiro, D. José Rodrigues, a pastoral reuniu lideranças das comunidades rurais do Sertão do São Francisco, organizações parceiras e agentes pastorais no Seminário “40 anos de luta pela terra: da Barragem de Sobradinho aos parques eólicos” no último dia 18, em Juazeiro (BA).

Nesse aniversário, os diversos relatos apontaram para a contribuição da CPT na organização das comunidades para o enfrentamento aos projetos desenvolvimentistas que impactam diretamente o modo de vida da população, especialmente nas comunidades tradicionais do sertão da Bahia. Este trabalho teve início no contexto da relocação das famílias devido a construção da Barragem de Sobradinho entre 1973 e 1979. Na época, o país vivia período de Ditadura Militar, ou seja, “ninguém podia falar, todo aquele policiamento, tudo era perigoso”, lembra Eduardo Terrin, um dos primeiros agentes da CPT na região. Mas “foi preciso provocar a fala de quem estava sofrendo”, conta Eduardo, recordando que como resultado “nasceram formas diferentes de organização. O papel da CPT foi provocar as lideranças, nós tínhamos que provocar o protagonismo desses grupos”, expõe.

Ao longo dos anos, muitas comunidades tem contado com o apoio da instituição nas diversas frentes de luta em defesa da terra e do modo de viver. Esta luta é feita pelas comunidades organizadas, tanto pela via institucional, com assessoria política e jurídica, quanto por meio da resistência, vivendo nas comunidades e adquirindo cada dia mais informações para fortalecer a busca pela garantia de direitos. “A CPT tem dado essa força. Em paz ninguém tá e nem sabemos se vamos vencer, mas nós estamos na luta”, afirma Josefa de Barros, da comunidade de Brejo de Dentro, interior de Sento Sé. Ela conta que as famílias da comunidade foram atingidas pela Barragem de Sobradinho e agora enfrentam problemas com a implantação de parques eólicos. “A gente não é contra a [energia] eólica. A gente é contra a forma que as pessoas agem”, esclarece Dona Josefa, citando os processos de grilagem que tem surgido com a chegada desses empreendimentos.

Militante da luta pela terra na região de Areia Grande, José Wilson dos Santos também reconhece a contribuição desta pastoral social na formação de uma visão crítica da sociedade e emponderamento das comunidades rurais. Membro da Articulação Regional de Fundo de Pasto, o agricultor destaca que a comunidade não sabia o que significava grilagem, mas após participar de um processo de sistematização realizado pela CPT, ficou claro: “no final a gente foi ver quem eram mesmo os atuais grileiros, que era o próprio sistema capitalista; o próprio Estado, que não ouve os trabalhadores; o próprio juiz que tem na Comarca e diz que a gente não cria lá. Mas a gente tem provas que tá lá a mais de cem anos”, ressalta.

Nesses 40 anos, muitas mudanças ocorreram na região de Juazeiro, porém os conflitos, a injustiça social e a luta pela terra permanecem, embora, muitas vezes, com novas roupagens. Marina Rocha, agente pastoral da CPT de Juazeiro, diz que “o papel da CPT é de ouvir a situação do povo e a partir dessa realidade a gente tem que apoiar as lutas dos camponeses e camponesas nas diversas situações”. Marina ressalta que a pastoral tem procurado “ser presença na vida desse povo e tentou de alguma forma colaborar no processo de organização deles para que sejam protagonistas das lutas e processos de transformação social”.

A situação de conflitos, apesar disso, ainda é uma realidade na região de Juazeiro, inclusive sendo uma das mais problemáticas no estado da Bahia. Marina informa que há uma articulação que perpassa os próprios órgãos do Estado para facilitar a grilagem de terra na região e provocar a perda dos territórios das comunidades tradicionais. “A gente gostaria de não precisar existir mais aqui no Vale do São Francisco e no Brasil, mas o que a gente tem percebido é o aumento do conflito”. Por outro lado, o aspecto animador, para ela, é que muitas comunidades estão renascendo nesses processos, estão fortalecidas e são capazes de enfrentar e impedir “a perda de seus direitos, principalmente à terra, à água e seu território de vida”, conclui.

Texto: Comunicação Irpaa
Fotos: Thomas Bauer (CPT)

 


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