IRPAA - Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada

Viver no sertão é conviver com o Clima

Formulário de Busca


Notícias

Feira da Agrobiodiversidade e Soberania Alimentar coloca em pauta no Semiárido Show o valor dos saberes ancestrais e a força da agricultura familiar

Feira da Agrobiodiversidade e Soberania Alimentar coloca em pauta no Semiárido Show o valor dos saberes ancestrais e a força da agricultura familiar

Reconhecimento das famílias agricultoras que zelam pela agrobiodiversidade, abundância de sementes crioulas oriundas de vários cantos do Semiárido brasileiro, debates, cordel, poesia e música. Foi assim que ao longo desta quarta-feira (2), o Espaço da Agrobiodiversidade, do Semiárido Show 2023, evidenciou a potência da agricultura familiar e dos/as guardiões/ãs de sementes crioulas.

Com o tema “Superando a Fome e Fortalecendo a Vida no Semiárido”, a terceira edição da Feira da Agrobiodiversidade e Soberania Alimentar reuniu mais de 30 expositoras/es, dezenas de participantes de caravanas, representantes de organizações da sociedade civil e do poder público, integrantes de movimentos sociais e visitantes da Feira.

Somente na barraquinha da agricultora familiar, Adelice Pereira, da comunidade Paraíso, do município de Jacobina-BA, tinha 104 tipos de sementes vegetais. Quando questionada sobre a quantidade impressionante, que inclusive rendeu o primeiro lugar na homenagem feita no final do evento, ela respondeu entusiasmada. “É só alegria! É porque eu vou plantando, toda coisinha de semente que eu consigo, eu planto. E aí, vai rendendo, eu vou juntando, pondo no sol, os que são de vasilha grande, boto na vasilha grande, o que é pequenininha boto nas pequenininhas pra tornar plantar pra render. Graças a Deus eu gosto de fazer isso!”.

Satisfação compartilhada também por Dona Valdomira de Brito, da Comunidade Tradicional de Fundo de Pasto Algodão dos Ribeira, de Remanso-BA, que levou para a feira, por exemplo, sementes de feijão, angico de resina, jatobá, andu e sorgo. “Eu achei muito ótimo, fiquei agradecida de chegar até aqui, me sinto até um pouco orgulhosa, porque eu tô me sentindo bem, feliz de eu estar aqui com minhas sementes”, afirma a agricultora familiar.

“Pra mim essas feiras é tudo pra nós. Porque aquilo que a gente já conseguiu, em matéria de resgate de semente crioula, a gente vai adquirindo tudo aquilo que tava perdido, que a gente está conseguindo resgatar, graças a essas feiras, esses encontros de pessoas como a gente”, enfatiza Dona Maria Silvani Gonçalves, da Comunidade Tradicional de Fundo de Pasto Sariema, distrito de Pinhões, em Juazeiro-BA.

Maria Silvani foi quem representou os/as colegas guardiões/ãs de sementes na abertura da feira. Ela deixou um recado importante sobre o cuidado com a Caatinga e o papel das políticas públicas de assessoria técnica. Ficou muito forte o: “Não nos abandone!”. Depois, ela nos contou porque deixou essa mensagem. “Se nós não tivermos um amparo técnico, um amparo de uma entidade que possa nos apoiar, a gente vai terminar perdendo tudo, porque a gente faz muita coisa, mas uma andorinha só não faz verão, ela precisa de mais andorinhas. E, no caso, nossas andorinhas são esses técnicos, essas pessoas que nos dão assistência”.

Na Feira da Agrobiodiversidade não poderia faltar a semente animal. O criador, Bruno Gonçalves, trouxe da comunidade Barbeiro, também em Juazeiro, “[...] semente de caprinos da raça moxotó e canindé e abelha nativa mandaçaia. Então, elas (as sementes) têm grande importância, porque a maioria dos criadores aqui da região semiárida tem como sua principal fonte de renda, e até atrelada à tradição animal, o ovino, o bode, as ovelhas e também muito atrelada às abelhas nativas”.

Durante a programação do evento, desde a abertura até o final, houve falas importantes sobre as sementes crioulas e as ações desenvolvidas nos projetos com as famílias agricultoras. A chefe-geral da Embrapa Semiárido, Maria Auxiliadora Lima, ressaltou a importância do trabalho dos/as agricultores/as que adotam a prática de guardar sementes, de passar os conhecimentos para as próximas gerações e que isso “É um valor econômico, é um valor social e cultural que precisa ser fortalecido. Estamos aprendendo junto com vocês e a Embrapa Semiárido, a Embrapa como um todo, está disponível a contribuir, na habilidade que a gente tiver, para fortalecer essa ação de vocês”.

O integrante da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), Sílvio Porto, destacou, durante o debate, o quanto as políticas públicas comprovam a sabedoria das pessoas que convivem com o ambiente e contribuem para a preservação dos biomas. Porto enfatizou a retomada e alguns dados do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que demonstram a importância da agricultura familiar do Semiárido.

“O PAA evidencia a agrobiodiversidade que existe na região. Só no Semiárido são 220 tipos de alimentos diferentes que chegaram ao Programa. Quando a gente olha os dados de safra da CONAB, que todo mês é publicado, a gente vai ver que dos grãos, 90% é milho e soja. Os 317 milhões de toneladas são de milho e soja. Só que a diversidade não está nessa produção, não tá no agronegócio. A diversidade, ela está na mão de homens e mulheres, agricultores e agricultoras, indígenas, quilombolas, pescadores e pescadoras artesanais, caatingueiros, vazanteiros. Ou seja, essa é a riqueza e a diversidade da nossa cultura alimentar, da nossa genética, da nossa biodiversidade”, ressalta Silvio.

Ainda de acordo com Sílvio Porto, os números do PAA demonstram o protagonismo das mulheres. “74% de participação são de mulheres, 70% em nível nacional e 74% aqui no Nordeste. Então, isso mostra o quanto que as mulheres têm força, no sentido da produção, da organização e do acesso ao mercado. E nós queremos que isso avance ainda mais e que, de fato, os quintais produtivos possam ser cada vez mais valorizados, que as experiências que acontecem em cada comunidade possam chegar a esse tipo de Política e que essa política seja uma ferramenta efetiva para transformação da realidade”. Porto complementou defendendo a necessidade de repensar as normas sanitárias, que são adequadas para indústrias, mas que ainda limitam o acesso de pequenos/as produtores/as, que também têm qualidade nos seus produtos.

A dirigente estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), de Pernambuco, Jucilene Xavier reforça a importância desse encontro, até pela localização, já que na região é crescente a monocultura. “Trazer essa agricultura familiar camponesa, trazer toda essa diversidade de alimentos, olhando também o contexto de onde estamos, no Sertão do São Francisco, onde o agronegócio cresce com muita força. (...) Construir um espaço como esse, com tanta diversidade de sementes, de falas, de pensamentos que colaboram para a reconstrução do país, para tirar o país do mapa da fome. Então, segue sendo um marco para a gente e é muito importante no sentido tanto de resistir, mas também de construir outras possibilidades”.

Jucilene enfatiza a soma de esforços para essa construção coletiva, que acontece “Quando a gente dialoga com setores que pesquisam, que propõem políticas públicas, com setores que lutam, a gente constrói, de fato, uma unidade forte, uma aliança e uma ideia de trabalho em rede que só tem a engrandecer mais o nosso trabalho”.

Nesse mesmo sentido, o coordenador institucional do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), Clérison Belém, destaca que a feira e tudo o que ela representa é fruto de “Uma articulação da Assessoria Técnica das organizações, dos projetos apoiados pelo governo do estado e também pela articulação em rede. A gente sai daqui fortalecido com uma grande rede para discutir a agrobiodiversidade e com propostas de continuidade em pesquisas, em ações de extensão, práticas de multiplicação, em debates sobre biodiversidade da Caatinga. Para a Convivência com o Semiárido, a gente vê que, dentro do Semiárido Show, foi essencial trazer a Agrobiodiversidade como pauta estratégica para o Bem Viver no campo e a vida digna no Semiárido”.

O Coordenador de Desenvolvimento Produtivo e Sustentabilidade Ambiental, da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), do Estado da Bahia, Carlos Henrique Ramos, afirma que essas práticas destacadas no evento são importantes principalmente para o resgate do saber local e que marca a posição da agricultura familiar de base agroecológica. Ele ressalta ainda que a CAR “tem um dado hoje, que cada guardião desse conseguiu passar sementes para mais dez. Então, isso para a gente é muito salutar, é muito legal. E, eles estarem aqui, você vê o grau de satisfação”.

No evento também aconteceu o lançamento e distribuição de livros sobre Saneamento Básico Rural e o Biodigestor.

A III Feira da Agrobiodiversidade foi realizada pelo Irpaa, MPA, Serviço de Assessoria a Comunidades Populares Rurais (Sasop), Projeto Pró-Semiárido da CAR e a anfitriã do Semiárido Show, a Embrapa Semiárido.

Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa


Veja também

< voltar    < principal    < outras notícias

Página:

Feira da Agrobiodiversidade e Soberania Alimentar coloca em pauta no Semiárido Show o valor dos saberes ancestrais e a força da agricultura familiar

Para:


Suas informações:



(500 caracteres no máximo) * Preenchimento obrigatório




Campanhas

Newsletters

Cadastre seu e-mail para receber notícias.

Formulário de Contato





Faça sua doação


Copyright © 2005 - 2009 IRPAA.ORG Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada - IRPAA
Avenida das Nações nº 04 - 48905-531 Juazeiro - Bahia, Brasil
Tel.: 0055-74-3611-6481 - Fax.: 0055-74-3611-5385 - E-mail: irpaa@irpaa.org - CNPJ 63.094.346/0001-16
Utilidade Pública Federal, Portaria 1531/06 - DOU 15/09/2006 Utilidade Pública Estadual, Lei nº7429/99
Utilidade Pública Municipal, Lei nº 1,383/94 Registro no CNAS nº R040/2005 - DOU 22/03/2005