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Agricultoras do Semiárido adotam cadernetas agroecológicas e ampliam valorização do trabalho da mulher rural

Agricultoras do Semiárido adotam cadernetas agroecológicas e ampliam valorização do trabalho da mulher rural

 Anotações possibilitam evidenciar o papel das mulheres na garantia da soberania e segurança alimentar e na conservação da sociobiodiversidade, além de subsidiar o debate acerca da desigualdade de gênero ainda predominante

Aparentemente é apenas uma caderneta, mas para 909 agricultoras de sete estados do Nordeste, trata-se de um instrumento que tem contribuído para que mulheres e homens entendam o significado da frase “Sem feminismo, não há agroecologia”, grito de ordem normalmente ecoado por diversos movimentos sociais do Brasil.

Foi assim, por exemplo, em Sento Sé, município do interior da Bahia que conta com sete beneficiárias do Projeto Pró-Semiárido, as quais receberam as cadernetas agroecológicas, passaram a fazer as anotações, participar de formações e hoje compreendem qual a relação do feminismo com a agroecologia, conforme relata com alegria a agricultora Jaciara Ladislau, coordenadora da Rede Mulher Sertão do São Francisco.

As cadernetas são instrumentos pedagógicos usados para anotar toda movimentação em torno da produção de base familiar que conta com o protagonismo das mulheres. A intenção é que as agricultoras possam registrar tudo que sai do quintal, pequenas áreas de cultivo ou produtos manufaturados por elas, a fim de calcular a renda monetária e não monetária gerada com o trabalho destas mulheres, algo que geralmente é invisibilizado na família, comunidade e sociedade em geral.

A partir da anotação dos produtos destinados às vendas, trocas e doações, é possível obter mensalmente uma média financeira, ou seja, a contribuição da mulher com a renda familiar a partir das diversas atividades que ocupam muitas horas do seu dia. A surpresa acontece quando se observa os números, pois na maior parte das famílias, o trabalho, sobretudo de cuidado, repetido diariamente pelas mulheres, não é valorizado.

A Agente Comunitária Rural (ACR), Aidraiane Ferreira dos Santos, do município de Ourolândia (BA), tem como uma de suas tarefas estimular e acompanhar as agricultoras quanto ao uso da caderneta. “Depois que param pra olhar os resultados, “elas dizem ‘eu não sabia que eu produzia tanto’”, relata Aidraiane que, após o trabalho com esta metodologia, também passou a colocar em prática em seu quintal o que aprendeu no curso técnico de agroecologia. “Elas se sentem empoderadas, com desejo de produzir mais, dizem ‘não perco mais nada’”, complementa a ACR.

Isso acontece porque, em muitos casos, quando soma o valor das vendas e do consumo, “a gente percebe que quem sustenta a casa é a gente mulher”, explica Jaciara, que diz ter ficado surpresa ao perceber que girava em torno de R$ 200 por mês o valor dos alimentos produzidos por ela e que ficam para o consumo em casa. É um montante que não precisa ser gasto no comércio, ao contrário, ela também produz para vender em restaurantes da cidade, entregas em domicílios e na Feira agroecológica que acontece semanalmente, iniciativa da Rede Mulher em parceria com outras instituições.

De onde surge esta proposta? - De 2017 a 2018, o Grupo de Trabalho de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (GT Mulheres da ANA), numa pesquisa participativa de perspectiva feminista executada em diferentes regiões do Brasil, trabalhou a metodologia de sistematização das Cadernetas Agroecológicas.

A experiência foi adotada no âmbito do Programa “Capacitação para uma Gestão com Base em Resultados e Melhoria Contínua de Inovações em Políticas Públicas para o Combate da Pobreza Rural no Nordeste Brasileiro – Semear Internacional”, celebrado entre o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (Iica).

As cadernetas chegaram às mãos das agricultoras através de projetos que contam com financiamento do Fida em estados do Nordeste: Viva o Semiárido (PI), Paulo Freire (CE), Procase (PB), Pró-Semiárido (BA), Dom Távora (SE), Dom Hélder (PE). Neste mês de julho, foram apresentados resultados relativos ao uso da caderneta no período de setembro de 2019 a fevereiro de 2020, cruzando a sistematização das anotações feitas pelas agricultoras com os Questionários de Caracterização Socioeconômica (QCS).

De acordo com relatório divulgado, todo processo metodológico e pedagógico que envolve o uso das cadernetas ajuda a “demonstrar a contribuição econômica das agricultoras agroecológicas do semiárido brasileiro” e evidencia “seu papel na garantia da soberania e segurança alimentar e na conservação da sociobiodiversidade”.

Para a Integrante do GT de Mulheres da ANA e Assessora de Gênero do Projeto Pró-Semiárido, Elizabeth Siqueira, na verdade, “a caderneta só trouxe elementos que a gente já sabia, mas não tinha como comprovar. E hoje a gente diz: ó, a gente tá baseado nessa pesquisa”, demarca. Exemplo disso é o dado de que 86% das mulheres acompanhadas informaram ser a principal pessoa responsável pelo trabalho doméstico, um dado já conhecido empiricamente. Ou seja, a sobrecarga de trabalho das mulheres, o protagonismo das mesmas na manutenção da renda familiar, a garantia do alimento saudável, a cultura da troca e da doação, são também algumas das constatações que já eram discutidas e que a pesquisa reafirma.

Outros dados que a pesquisa elenca referem-se à cor e etnia e de como estes aspectos se revelam como desafios para o acesso ao direito a melhores condições de vida e trabalho para as mulheres negras agricultoras. Esse olhar demarca a passagem do Dia Internacional da Agricultura Familiar e Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, que é também o Dia Internacional da Agricultura Familiar.

Texto: Érica Daiane - Asacom / Foto: Arquivo Pró-Semiárido Manuela Cavadas

 


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