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Lutas, sonhos e inovação são ingredientes para uma história de sucesso em Alagoas

Lutas, sonhos e inovação são ingredientes para uma história de sucesso em Alagoas

Passar pela BR 316 ou pela AL 115, à altura de Palmeira dos Índios-AL, é ter quase a certeza de que vai encontrar famílias comercializando frutas às margens dessas duas rodovias. Seguindo de Palmeira dos Índios, sentido Bom Conselho-PE, o viajante passa pela comunidade conhecida como Serra das Pias ou Serra da Espias, nome que pode ter relação com a astúcia e resistência de escravizados na região. Ali está o modesto, porém significativo ponto de comercialização chamado de Espaço Camponês.

O empreendimento comercializa a produção de agricultoras/es de comunidades vizinhas, inclusive a produção beneficiada na agroindústria, que assim como o Espaço Camponês, divide o terreno com a casa sementes, construída através das ações da Articulação Semiárido Brasileiro - ASA.

É na agroindústria que encontramos Marleide Oliveira, 33 anos, mãe, agricultora, dona de casa e cooperada da Coooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa – Coopcam. Em um dia de recepção de um intercâmbio promovido pelo Irpaa, Marleide demonstrava para as/os visitantes o trabalho que tem mudado a sua vida: o beneficiamento de frutas.

Marleide conta que um dia recebeu um convite de outra agricultora para integrar o grupo de beneficiamento de frutas da Coopcam, como uma forma de melhorar a renda, que “era só da roça ou do Bolsa Família”, aponta. Como produzia poucas frutas, ficou com medo de entrar para a cooperativa e não conseguir fornecer o suficiente, mas uma vizinha garantiu dar o apoio necessário para suprir a demanda da cooperativa.

 

O apoio dado conduziu Marleide a uma experiência que hoje a deixa muito feliz, pois além de ter participado de várias formações e ter adquirido novos conhecimentos, a agricultora pode melhorar a renda e a moradia. “Quando foi o primeiro pagamento [pelas frutas e trabalho de beneficiamento] aí eu fiquei toda feliz. Eu não gastei o dinheiro, eu disse: esse aqui tem um destino próprio. Então fui juntando todo mês meu pagamento e quando chegou no final do ano eu consegui comprar o tijolo, a madeira e as telhas para minha casa”, revela a cooperada. “Minha casa era pequenininha, tinha dois quartos e cozinha. Não tinha banheiro, nem mais quartos, nem alpendre […] Consegui fazer o alpendre, outra cozinha, um quarto e o banheiro. Minha casa ficou enorme”, conta orgulhosa Marleide.

Quando o grupo de visitantes chegou à unidade de beneficiamento de frutas, Marleide trabalhava com o fruto que tem sido o símbolo das grandes mudanças na região de Serra das Pias: a jabuticaba. O pequeno fruto negro, originário da Mata Atlântica é encontrado em algumas áreas de microclimas mais frios do Semiárido, como é o caso de Palmeira dos Índios.

De acordo com Vera Lúcia de Brito, uma das primeiras cooperadas, o beneficiamento das frutas surgiu da necessidade de aproveitar melhor a produção. “É uma região produtora e a gente perdia a maior parte das frutas”, lembra. “No caso do vinho, a gente viu a possibilidade de uma renda a mais”, acrescenta Vera.

A transformação da jabuticaba em vinho é um costume antigo, que passa de geração em geração. “Há mais de 70 anos as famílias já produziam, de forma artesanal”, revela José Hélio, presidente da Coopcam. Segundo ele, o vinho, produzido em baixa escala, não era para ser comercializado, estava presente nas celebrações e nos festejos da comunidade, uma bebida cheia de sabor e tradição.

O vinho caiu no gosto das/dos visitantes e o grupo resolveu tentar comercializar o produto. “Numa primeira experiência de 500 litros, na casa de uma família e a gente vendeu tudo”, conta. A partir daí as/os agricultoras/es integraram a produção do vinho artesanal às atividades da cooperativa, aumentando a produção e a renda para mais famílias. Segundo Salete Barbosa, também cooperada, “a perspectiva é produzir de dois a três mil litros de vinho”.

Além do vinho de sabor marcante e suave, a Coopcam produz uma variedade de produtos, dentre estes o suco fermentado de jabuticaba (não-alcoólico) e a casca da jabuticaba cristalizada, uma das últimas inovações do empreendimento, para aproveitar essa parte do fruto, que antes servia apenas de adubo natural para os quintais produtivos das famílias.


Novos horizontes

“Nosso maior sonho é a adequação da agroindústria e também [conquistar] uma câmara fria para poder armazenar as frutas para trabalhar na entressafra”, expressa Vera Lúcia. O grupo de cooperadas/os sonha há anos com a possibilidade de ampliar o espaço de armazenamento de frutas para beneficiamento e adequar a estrutura.

Em 2017, com o início do projeto Semiárido Produtivo, as famílias da região viram ficar mais real a possibilidade de fazer melhorias na unidade de beneficiamento. “A gente deu passos dentro do projeto Semiárido Produtivo […] e tinha o investimento coletivo, que era a parte de câmara fria e reestruturação [...] a gente sonhou muito com a implantação da câmara fria e a reestruturação da agroindústria, mas por uma decisão política do Governo Federal, o BNDES cortou essa parte das ações do projeto”, lamenta José Hélio, presidente da Coopcam.

A interrupção dos investimentos na agricultura familiar deixou decepcionados vários grupos de agricultoras/es pelo Semiárido. Em Palmeira dos Índios, o que era quase certo voltou a ser pura incerteza. No entanto, as famílias não desistiram de seu objetivo. “Não vamos ficar de braços cruzados! Queremos conquistar esses sonhos nossos”, demarca Hélio.

Segundo a cooperada Vera Lúcia de Brito, outras alternativas estão sendo tentadas. “A gente continua no sonho de conseguir a reestruturação da agroindústria e a câmara fria. O nosso sonho foi colocado por muito tempo no projeto Semiárido Produtivo, mas infelizmente foi abortada essa adequação da agroindústria [...] Mas nós continuamos tentando”, explica ela ao citar a parceria com a Associação de Agricultores Alternativos – AAGRA, na tentativa de viabilizar a câmara fria. “Produtos nós temos, potencial a região tem. O que nós não temos é uma estrutura [...] O grupo é composto por famílias que não tem uma renda alta, então é muito difícil a gente, por conta própria, fazer essa estruturação”, pontua Vera.

A conquista do equipamento de refrigeração deverá potencializar a produção. Segundo dados apontados pela cooperativa, apenas 5% das frutas são beneficiadas. “Só um agricultor tem 150 pés de jabuticaba. Nós não conseguimos comprar nem a safra dele, imagina de tantos outros”, explica Vera, dando ideia da quantidade de produção desperdiçada ou que segue para o mercado via atravessador.

A expectativa do grupo é armazenar aproximadamente 400 kg de fruta para fabricar doces (mamão, caju e goiaba), polpa (acerola, caju, manga, goiaba, maracujá), vinho de jabuticaba e geleia premium. “É uma geleia com 95% de frutas, uma geleia premium, de boa qualidade”, enaltece Vera, que conta ainda sobre outras geleias feitas com menor teor de frutas e até flores, como de hibisco, demonstrando a inovação e diversificação de produtos apresentada pela Coopcam.

A rapidez com que passa a safra de frutas como a jabuticaba, exige o armazenamento, para que a produção que hoje é sazonal passe a ser realizada na maior parte do ano. “Nossa próxima safra de jabuticaba deve ser entre março e abril e nós precisamos ter essa estrutura organizada”, projeta Salete Barbosa, cooperada da Coopcam. Segundo ela, como há baixa capacidade de armazenamento, é preciso escolher trabalhar com geleia e compota ou com polpa.

A reestruturação da agroindústria também não saiu do foco da cooperativa. Segundo Salete, além do diálogo e ações como a elaboração do projeto, realizada em parceria com o poder executivo, está sendo feita uma articulação que envolve o poder legislativo estadual para garantir uma emenda parlamentar que viabilize as obras necessárias no empreendimento e assim concretizar o grande sonho da Cooperativa.

Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa e Coopcam
 


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