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Impacto dos grandes empreendimentos de energias renováveis em comunidades do Semiárido nordestino é tema de Seminário de mulheres

Impacto dos grandes empreendimentos de energias renováveis em comunidades do Semiárido nordestino é tema de Seminário de mulheres

Acolhimento, animação, relatos, rodas de diálogos e vontade de construir uma sociedade mais justa para as mulheres do campo e da cidade. Foi assim, o I Seminário das Mulheres do Projeto Baraúnas dos Sertões, que traz como tema “Fortalecendo a ATER Agroecológica e Feminista no Semiárido Brasileiro”, realizado entre os dias 13 e 15 de março, em Campina Grande-PB.

O Encontro que reuniu mulheres do Semiárido nordestino tem como objetivo contribuir para o fortalecimento da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) Agroecológica e Feminista em localidades sob influência de empreendimentos de “energias renováveis” na Região Semiárida, a partir das lutas das mulheres por igualdade, justiça climática e social. Durante a programação foi apresentado um breve histórico da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, destacando como surgiu o movimento e as pautas abordadas como Violência contra a Mulher; Perpetuação do machismo na juventude; Sem cuidado não há vida; Divisão justa do trabalho doméstico, por exemplo. Além de denunciar pelo terceiro ano, os impactos negativos das eólicas na vida das mulheres.

A integrante do Movimento de Mulheres do Polo da Borborema, Roselita Vitor Albuquerque, destacou sobre a importância da Marcha. “Quando as mulheres vêm a marcha, ela faz, mas não sou eu que passo por algumas situações, mas eu também encontrei muitas outras como eu, e isso é construir identidade de mulheres camponesas. A marcha também tem ensinado muito as mulheres que elas não podem passar por situações de violação de seus direitos. E isso, a marcha dá o recado de uma forma singela, a partir do teatro, a partir das músicas. Então, é todo um conjunto que é construído, que vem desde as comunidades, dos encontros de formação e culmina num grande dia de luta e de celebração dessas grandes mulheres”.

Relacionada às defesas da Marcha, foi discutido sobre o avanço dos empreendimentos eólicos e solares, tidos como energias renováveis, que trazem impactos ambientais, sociais e psicológicos, muitas vezes irreversíveis, às famílias e comunidades, visando apenas o lucro dos grandes empresários. A integrante da AS-PTA, Adriana Galvão, deixou claro o posicionamento dessas mulheres e destacou os diversos impactos gerados por esses empreendimentos. “Nós somos a favor da energia renovável, mas não nesse mega projetos como chega aos nossos territórios (...) São inúmeros problemas desses grandes parques, desde incompatibilidade da agricultura familiar com a produção de energia, mas sobretudo, os problemas causados pelas famílias. As mulheres acabam ficando mais em casa, e tanto o barulho audível quanto o barulho não audível vem causando muitos impactos na saúde dessas mulheres, desde problemas de circulação, coração, mas, sobretudo, problemas no campo da saúde mental, ansiedade, insônia, depressão e além disso todos os aspectos relacionados à natureza do local”, frisou Adriana.

Ainda em relação a esse cenário, algumas mulheres compartilharam sobre os impactos dos megaprojetos de energia renovável no Semiárido brasileiro. São histórias de territórios diversos que se entrecruzam em relação ao aumento de violência, invasão das terras, desrespeito aos povos e suas culturas, seus modos de vida, e devastação das terras e do mar. Sobre esse projeto de morte, a integrante do Conselho Pastoral das Pescadoras e Pescadores do Piauí (CPP-PI), Raquel Silva, conta a situação em Parnaíba. “Existe a instalação de parques eólicos na terra. E esse processo de instalação foi muito doloroso e continua sendo até hoje, as comunidades são bem impactadas por esse processo (...) Existe aerogerador até dentro do cemitério da cidade, e agora a gente está cotado para receber a eólica no mar, que são as offshores. Vai ser instalado na linha de praia, na área pesqueira dos pescadores e vai causar um grande impacto na nossa comunidade”.

Nesse sentido, a integrante do Movimento de Mulheres Camponesas (MMM), de Alagoas, traz uma afirmação importante: “Nós não queremos esse tipo de transição energética. Queremos uma transição que seja popular, construída com os povos no território do Semiárido. A captação de água foi descentralizada a partir das cisternas, porque não se pode pensar nessa transição para a energia”.

Diante dos avanços dos grandes empreendimentos de energias renováveis no Semiárido nordestino, é preciso refletir porque as empresas, geralmente advindas da Europa, investem na destruição do território brasileiro. Nesse sentido, a chefa de Assessoria de participação social do Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Elisabeth Cardoso questiona “Porque as empresas vêm da Espanha, por exemplo, e fazem a produção energética aqui? Por lá tem lei, por aqui não. Precisamos de março regulatório para implementação das empresas de produção energética. E o Congresso que temos hoje defende as comunidades? Precisamos olhar para o Congresso e fazer incidência”.

A cada relato é evidente o projeto de morte dos grandes empreendimentos de energias renováveis passam por cima de tudo e de todos em prol do capitalismo. Um modelo de economia que nega as tradições, culturas alimentares, histórias, meio ambiente e vidas a favor do lucro financeiro.

Espaços como este Seminário, proporcionam a partilha de realidades que se entrecruzam, como destaca a Ana Lúcia Santos, presidenta do Comitê das Associações Comunitárias Agropecuárias de Massaroca, em Juazeiro-BA. “Os empreendimentos que vêm trazendo impactos na vida dessas mulheres são diferentes, porém a luta é uma só, a luta é comum pela garantia desse território. A gente fica fortalecido quando chega em outras redes, construindo essa rede, entrelaçando diferentes saberes. Isso só nos fortalece, nos anima e com convicção de que mais cedo ou mais tarde a gente consegue vencer essa luta”, reforça Ana Lúcia.

A coordenadora do Projeto Baraúnas dos Sertões, Letícia Jalil, fala sobre a relação tecida entre a ATER, o projeto, a realização do Seminário e a Marcha das Mulheres. “Esse seminário de mulheres, casa com a Marcha das Mulheres pela Vida e pela Agroecologia que é a maior ação de mulheres rurais do Brasil, depois da Marcha das Margaridas. E essa perspectiva de ATER que a gente vem apostando, que a gente vem construindo, vai dialogar com o que as mulheres estão vivenciando nos seus territórios. Então, a temática vai dialogar com o que as mulheres aqui, sobretudo, que estão puxando a marcha, e estão trazendo como grande questão para a gente pensar as energias, esse modelo de energia renovável que está chegando no Nordeste do Brasil, a partir do impacto na vida das mulheres (...) energias renováveis sim, mas não assim, para a gente poder também compreender, construir compreensão coletiva e, sobretudo, construir estratégias de enfrentamento coletivo que passe, sobretudo, pelo reconhecimento do que as mulheres estão vivendo.

Assim, o Seminário faz parte do projeto Baraúnas dos Sertões que valoriza os saberes e conhecimentos locais, visibilizando a luta das mulheres em seus territórios. O Projeto é realizado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em parceria com a Rede Ater Nordeste e a Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).


Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa


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