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Desafios da Educação Contextualizada na zona rural no contexto da pandemia

Desafios da Educação Contextualizada na zona rural no contexto da pandemia

Manter o vínculo com os estudantes durante o ensino remoto emergencial, devido à pandemia do novo coronavírus é um grande desafio para todas as escolas do país. E quando se fala em realizar uma educação contextualizada que aproxima a escola da comunidade e valoriza as vivências dos estudantes, os desafios são ainda maiores.

Com a pandemia da Covid-19, estudantes vêm sofrendo com o isolamento social e educacional. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) que tem reunido dados sobre a situação educacional na pandemia, em outubro de 2020, o percentual de estudantes no Nordeste de 6 a 17 anos que não frequentavam a escola (ensino presencial e/ou remoto) foi de 1.380.891 estudantes fora da escola.

A evasão escolar aumentou comparada aos anos anteriores, pois a pandemia intensificou o processo de exclusão socioeconômica e tecnológica, tendo em vista que muitos estudantes não possuem computadores, celulares e um ambiente apropriado para os estudos. Essa exclusão foi maior nas comunidades rurais, já que muitas não possuem o acesso mínimo à comunicação via internet, sendo obrigados a ficar isolados da educação, sem os materiais de estudos e as aulas remotas. Fato que prejudica de forma significativa a formação das crianças e jovens.

“Uma população que já vivia, historicamente, o processo de negação de uma educação de qualidade, com a pandemia isso aprofundou ainda mais, porque as escolas do Semiárido não tiveram condições para o desenvolvimento de um processo de ensino remoto que tivesse condições necessárias para consolidar o projeto educativo”, aponta o integrante da Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (RESAB), Elmo Lima.

Tentando contornar o desafio da tecnologia, alguns municípios e escolas entregaram kits impressos aos estudantes das comunidades, como os municípios de Curaçá e Uauá, ambos na Bahia, com o objetivo de inserir todos os estudantes no processo de ensino-aprendizagem. Os estudantes recebem as atividades impressas, acompanhadas de cartas de orientação, respondem os exercícios e devolvem para correção dos professores e professoras. No entanto, nem todos os estudantes devolvem as atividades respondidas.

A entrega das atividades impressas aos estudantes acarretou em outro desafio, como explica Elmo Lima, “Os pais não têm tempo de dar um acompanhamento sistemático aos filhos para a realização dessas atividades de forma remota em suas próprias residências, e por outro lado, tem um baixo índice de escolarização dessas famílias. Muitas vezes, os pais não têm as condições de formação suficiente para ajudar os filhos no desenvolvimento dessas atividades”.

Para a realização das aulas, os professores e professoras utilizam a rede social WhatsApp, para manter uma comunicação mais próxima dos alunos, mas devido a falta de conexão à internet, esse formato não abrange todos os alunos, como conta a professora Lilian Carolina Ribeiro, da Escola Municipal João Honorato de Oliveira, na Fazenda Barriguda, em Uauá, e também coordenadora pedagógica das escolas municipais de Poço de Fora, em Curaçá. “Pois alguns (estudantes) não têm internet em casa, e mesmo os que têm, utilizam dados móveis e dificulta muito a interação. Na maioria das vezes, envio áudios e nem sempre são ouvidos no horário da aula. Depende muito do sinal. Envio também vídeos, mas nem todos conseguem abrir”.

Victor França, estudante do 9º ano da Escola Municipal João Francisco Félix localizada na comunidade Poço de Fora, diz que apesar de ter fácil acesso à internet e os professores tentarem realizar uma educação contextualizada, o ensino remoto prejudicou a aprendizagem. “Prejudicou porque eu não tenho aquela troca direta com o professor quando eu tenho alguma dúvida, sabe. Isso fica um pouco complicado em relação à aprendizagem”.

Nesse sentido, a estudante Noemy Araújo, também do 9º ano da Escola Municipal João Francisco Félix, considera que as aulas remotas são um prejuízo para sua aprendizagem. “Falando por mim, pela experiência que eu estou tendo, estou absorvendo muito pouca coisa. Porque a gente tenta o máximo possível, acredito que os professores também, mas no final das contas não é a mesma coisa e acaba perdendo muito tempo, e eu não estou absorvendo a quantidade certa, não estou aprendendo o que eu queria estar aprendendo”.

Por outro lado, Sávio da Silva, estudante do 9º ano da Escola João Honorato de Oliveira, localizada na Fazenda Barriguda, em Uauá, afirma que as aulas remotas são boas, é melhor do que não está estudando. “Se não tivesse essas aulas on-line, ficaríamos sem tá estudando, aí atrasaria demais nas aulas”, explica Sávio.

Mesmo diante tantas dificuldades, os professores e professoras buscam trabalhar com a educação contextualizada, trazendo para os conteúdos, a história e vivência da comunidade do estudante. “As atividades foram pensadas, planejadas, a partir de temas que fazem parte das vivências dos estudantes, das famílias, para tentar de alguma forma facilitar esse retorno”, explica a gestora das escolas municipais de Poço de Fora, Diana Rocha.

Apesar do empenho das escolas e professores, Lilian Carolina destaca que “É um pouco complexo trabalhar Educação contextualizada de forma virtual são muitas tentativas para atingirmos nossos objetivos. Agora mesmo com a iniciação científica fiz muitas intervenções para conseguir um feedback proveitoso, e me encho de orgulho quando os vejo (os estudantes) produzindo”.

Em relação à educação contextualizada, a estudante Noemy Araújo, expõe que “A escola sempre tentou nos deixar o mais conectado possível com a comunidade, sempre teve o contato e a gente sempre estudou sobre isso”.

A professora Érika Ribeiro que leciona na Escola Estadual Poeta Carlos Drumond de Andrade, no Projeto Senador Nilo Coelho, NM10, Petrolina-Pernambuco, que busca promover uma educação contextualizada voltada às particularidades socioculturais de cada lugar e as pluralidades dos estudantes, aponta a baixa participação dos alunos nas aulas remotas, muitas vezes, pela dificuldade de acesso à internet banda larga ou aparelho celular, visto que às vezes há apenas um celular para toda a família. Mas a baixa participação ainda é maior em relação aos alunos e alunas que não dispõem de nenhum acesso digital e retiram seus roteiros de estudo e atividades impressas na escola.

“O desestímulo, a pouca participação não se restringem às aulas virtuais, mesmo durante os encontros presenciais percebemos alunos desmotivados, entristecidos pelo contexto de medo, perdas e dificuldades acentuadas pela pandemia. É também um desafio enorme que precisa ser considerado como lidarmos com as questões emocionais, econômicas, que atingem aos alunos e alunas, suas famílias e a nós trabalhadores em educação, de forma tão acentuada”, reflete Érika Ribeiro.

Sem dúvidas, a pandemia trouxe muitos problemas para a educação como todo, porém, é inegável que a desigualdade social, atrelada à falta de políticas públicas de educação estruturante, atenta as questões locais e regionais, os mais prejudicados estão sendo os estudantes mais pobres e da zona rural. Nesse recorte, a defesa da Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido torna-se ainda mais necessária na retomada para um processo educativo que tenha significado para a vida das pessoas e seus contextos, inclusive pensando em uma educação pós-pandemia, que esteja atenta a responder as necessidades reais dos estudantes e do mundo que lhes cerca.


Texto: Eixo Educação e Comunicação
Fotos: Escola Municipal João Francisco Félix

 

 


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