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Caatinga - Patrimônio do Semiárido Brasileiro

Caatinga - Patrimônio do Semiárido Brasileiro

Único bioma exclusivamente brasileiro, a caatinga precisa de cuidados. Rica em recursos naturais, a “Mata Branca” – do tupi-guarani caa (mata) e tinga (branca) – é um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta. Atualmente, mais da metade de seu território apresenta diferentes graus de degradação e apenas 2% de sua área estão protegidos em unidades de conservação.

A Caatinga é frequentemente associada com a seca, pobreza e pouca biodiversidade, mas ao contrário do que se pensa, esse bioma confere valores biológicos e econômicos significativos para o país. Assim como nas demais florestas, a conservação da “Mata Branca” evita a emissão do gás carbônico (CO2). A Caatinga em Pé também é fonte de matérias primas como frutos silvestres, forragem, fibras e plantas medicinais, que são essenciais para o sustento das comunidades tradicionais e pode, através do uso sustentável, garantir o bem-estar e a permanência das famílias no campo, se tornando uma atividade econômica segura, mesmo nos anos de seca, em substituição da atividade agrícola de plantas anuais altamente dependentes de chuvas abundantes e regulares.

Diante das ameaças ao futuro do bioma, o Irpaa, vem implantando o “Recaatingamento” em parceria com as comunidades agropastoris e extrativistas. Um projeto de vanguarda, que tem a população das próprias comunidades como os agentes responsáveis pelas transformações socioambientais.


Recaatingamento com comunidades agropastoris e extrativistas

O Projeto inicial (ou piloto) abrange sete comunidades do Território Sertão do São Francisco: Angico, no município de Canudos, Melancia, em Casa Nova, Pau Ferro, em Curaçá, Fartura, em Sento Sé, Poço do Juá, em Sobradinho, Serra dos Campos Novos, em Uauá e Curral Novo, em Juazeiro, tendo como objetivo contribuir para inverter a desertificação do Bioma Caatinga através do uso sustentável de seus recursos naturais, a partir de: 1. Conservação da Caatinga; 2. Recomposição da Caatinga; 3. Educação Ambiental Contextualizada; 4. Melhoria da Renda; e 5. Políticas Públicas.


O Recaatingamento busca capacitar as famílias das comunidades de Fundo de Pasto em conservação e recuperação do ambiente onde elas vivem, através de cursos e oficinas. O projeto promove a Educação Ambiental Contextualizada por meio da assessoria à educação escolar e como tema transversal da educação ambiental é trabalhada a conservação de recursos naturais, a valorização da Caatinga e a Convivência com o Semiárido.

As comunidades elaboram e implementam, de forma participativa, os Planos de Manejo Ambiental Sustentável para conservar a Caatinga onde ela ainda está preservada, e recuperar onde ela já está fragilizada. Também são elaborados os Planos de Manejo do Rebanho e o uso de plantas forrageiras para diminuir a ação herbívora, evitando o super-pastoreio e melhorando a qualidade da produção da ovinocaprinocultura. Paralelamente, o Recaatingamento promove capacitações para a geração de renda, agregando valor aos produtos oriundos das atividades agroextrativistas sustentáveis, como o beneficiamento das frutas silvestres, a exemplo do umbu e maracujá do mato.

Hoje são sete comunidades e uma área total de 560 hectares isolados e em processo de recuperação. Nessa área foram plantadas 38.564 mudas e 98.125 estacas e brotos de plantas da caatinga, além disso foi feito a dispersão de coquetel de sementes de plantas nativas. O início do projeto coincidiu exatamente com estes anos passados de extrema baixa precipitação. E nesses cinco anos de projeto, a chuva média anual foi de 150mm, pluviosidade inferior à necessidade de qualquer planta para a germinação e desenvolvimento. E muito abaixo da média, pois em todas as áreas do projeto costuma ser acima de 500 mm/ano. A maioria das mudas e estacas plantadas morreram, porém é possível perceber o surgimento de plantas novas nascidas das sementes dispersadas. Fato muito positivo é a quantidade de folhas secas pelo chão que irão se transformar em matéria orgânica, melhorando o solo, propiciando o surgimento de mais plantas nas próximas chuvas.

Estamos chegando à conclusão que o plantio de estacas e mudas se mostrará eficiente somente nos anos de “la niña”, quando temos chuva acima da média. Como não é possível prever as chuvas com muita antecedência, continuaremos fazendo o plantio de mudas e estacas e, principalmente, a dispersão de coquetel de sementes nativas e o isolamento das áreas. Estando as áreas isoladas, toda a matéria orgânica produzida permanecerá no solo e as plantas que nascem terão mais chances de se desenvolver. No Recaatingamento o isolamento da área é a principal prática a ser implementada, seguida das técnicas de manejo de solo, como curva de nível, sulcos, bacias, para contenção de solo e água. Só depois podemos pensar em plantio de mudas e estacas.

Da mesma forma que os termos “Convivência com o Semiárido e “Educação Contextualizada”, os termos “Recaatingamento e “O valor da Caatinga em Pé” são termos que extrapolam uma técnica ou um projeto, nos levam a uma mudança de paradigma com relação ao Semiárido. O Recaatingamento é hoje uma metodologia de recuperação de áreas degradadas no Semiárido que precisa ser difundida e implementada.

Outras quatro comunidades estão entrando no grupo das comunidades Recaatingueiras: Vereda da Onça – Remanso, Ouricuri - Uauá, Assentamento Nossa Senhora do Rosário – Monte Santo e Comunidade Prainha – Correntina, somando mais 250 hectares isoladas e em recuperação.
 

Texto: Irpaa

Foto: Florian Koop e Irpaa


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