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Organizações da sociedade civil e FIDA agem para ampliar adaptação de populações rurais às mudanças climáticas

Organizações da sociedade civil e FIDA agem para ampliar adaptação de populações rurais às mudanças climáticas

Se as crises sanitárias, ambientais, climáticas e alimentares afetam todo o planeta, fazendo-o parecer uma grande aldeia, as soluções para estas crises podem passar pela conexão entre as diversas partes do globo e pelo intercâmbio entre as suas populações.

Na América Latina, há três áreas secas, mais suscetíveis aos efeitos das mudanças climáticas, que afetam o regime de chuvas, tornando-as mais irregulares na distribuição dos meses e no índice pluviométrico. Nestas regiões, vive uma população rural dedicada à agricultura familiar, que tem muitas limitações para viver em condições minimamente humanas e para satisfazer as necessidades básicas por alimento, água, serviços de saúde e acesso à renda, entre outras.

Duas destas áreas são semiáridas - uma no Brasil, o Semiárido brasileiro, e outra na região do Grande Chaco, que abrange áreas da Argentina, Paraguai e Bolívia. A terceira região seca do continente tem características subúmidas, que é o Corredor Seco, que corta a América Central passando por sete países, quatro deles com ações prioritárias para a Organização das Nacões Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO): El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua.

Em uma iniciativa inédita, as comunidades tradicionais e de agricultores/as, que já estão conectados pelas suas semelhantes pelejas estarão unidos de uma forma mais concreta por quatro anos. O responsável por isso é o projeto Iniciativa de Conhecimento sobre a Adaptação às Terras Secas (Dryland Adaptation Knowledge Initiative, Daki na sigla em inglês).

Chamado 'Daki - Semiárido Vivo', o projeto será desenvolvido no Chaco argentino, no Nordeste do Brasil, e na parte do Corredor Seco em El Salvador. O lançamento da ação será no dia 18 de agosto, às 16h, por meio de um webinar que será transmitido no Brasil pelo Facebook e Youtube da ASA @articulaçãosemiárido.

Ao longo destes quatro anos, a iniciativa vai identificar e sistematizar práticas bem-sucedidas de Agricultura Resiliente ao Clima (CRA) e capacitar técnicos e agricultores para que acompanhem e orientem a transição de um sistema agrícola convencional para um sistema resiliente ao clima.

O projeto é financiado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), uma agência de financiamento ligada ao sistema das Nações Unidas (ONU) e voltada para as populações rurais. No Brasil, a atuação do FIDA é concentrada no Nordeste rural, onde está metade dos estabelecimentos da agricultura familiar do país.

Na avaliação de Claus Reiner, gerente de programas do FIDA para o Brasil, apoiar de forma separada um trabalho nas áreas semiáridas do continente implicaria numa perda enorme de oportunidades. "As experiências técnicas, econômicas e sociais que os projetos do FIDA estão desenvolvendo numa área podem servir como insumo de alto valor em outras áreasDessa maneira o desenvolvimento dessas áreas pode ser mais diversificada, mais sustentável e também mais rápido", assegura.

O Daki-Semiárido Vivo foi articulado por duas redes que atuam nas áreas secas do continente: a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e a Plataforma Semiáridos da América Latina. Em cada país envolvido no projeto, uma organização da sociedade civil ancora a sua execução. No Brasil, a Associação Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC), responsável pela gestão física e financeira das ações da ASA. Na Argentina, a Fundação para o Desenvolvimento da Justiça e Paz (Fundapaz) e, em El Salvador, a Fundação Nacional para o Desenvolvimento (Funde).

"Esta iniciativa coloca a ASA em outro patamar que permite, por meio das experiências das organizações da sociedade civil, influenciar na política pública dos países latinos. Além das parcerias com as organizações, este projeto têm parcerias com as universidades e centros de pesquisa, posso citar a Embrapa, no Brasil, o Inta [Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária], na Argentina, e o Centro Nacional de Tecnologia Agropecuária e Floresral (Centa), em El Salvador", assegura Antônio Barbosa, coordenador do Daki - Semiárido Vivo, além de dois programas da ASA que favorecem o estoque de água para a produção de alimentos e criação animal e o estoque de sementes crioulas.

São organizações que já se encontraram antes e trocaram experiências. Agricultores/as do Brasil já estiveram no Corredor Seco de El Salvador e Guatemala em 2017 e estes/as visitaram comunidades campesinas no Nordeste brasileiro a partir de uma ação apoiada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Em outro momento de intercâmbio de experiências, as cisternas de placa de cimento que captam água da chuva se alastraram por todo o Chaco Trinacional (Argentina, Paraguai e Bolívia). Por outro lado, "o processo de Mapeamento Participativo que a organização argentina desenvolveu também está disseminado no Semiárido brasileiro e no Corredor Seco da América Central. Esta nova aliança regional permitirá o alcance de uma escala continental às boas práticas", comenta Gabriel Seghezzo, diretor executivo da Fundapaz.

Verbos - Na sua essência, o projeto Semiárido Vivo se baseia praticamente em dois verbos: identificar e capacitar. Identificar experiências bem sucedidas, que ampliam ou promovem a resiliência ao clima junto às populações rurais, para sistematizá-las e registrá-las. E capacitar técnicos agrícolas e agricultores de referência, a partir de capacitações em agricultura resiliente ao clima, que tenham como parte do material didático as sistematizações das experiências identificadas na fase anterior. As pessoas capacitadas serão responsáveis por transmitir o conhecimento a outros técnicos e agricultores, apoiando assim a transição de sistemas agrícolas convencionais para sistemas agrícolas resilientes ao clima.

“O projeto DAKI-Semiárido Vivo apresenta uma oportunidade inestimável de conhecer e compartilhar conhecimentos, experiências e aprendizado de comunidades rurais, camponesas e indígenas de três grandes regiões da América Latina. Sem dúvida, o conhecimento que as comunidades rurais dessas regiões desenvolveram e praticam é uma riqueza enorme para outras comunidades rurais da América Latina que estão em busca de opções que lhes permitam desenvolver meios de vida resilientes e sustentáveis, e, acima de tudo, viver em condições de dignidade humana”, destaca Ismael Merlos, diretor de Desenvolvimento Territorial da Funde.

O representante da ASA acrescenta que o Daki vai priorizar a sistematização do que existe nos territórios de atuação da iniciativa. "As experiências a ser sistematizadas não serão escolhidas a partir da técnica, mas do impacto que elas trazem para cada região". Barbosa explica que uma das fortes intenções do projeto é provocar uma mudança no campo da gestão, no olhar dos gestores públicos para a agricultura familiar praticada destas regiões secas para as iniciativas das comunidades tradicionais sejam apreendidas como uma forma de desenvolvimento.

Para promover esta mudança no olhar, o projeto pretende desenvolver suas ações para pessoas do setor público, estudantes, professores de escolas rurais e agricultores/as familiares. Cerca de duas mil pessoas serão beneficiadas de forma direta e 6 mil, indiretamente. O custo total do projeto é de quase US$ 2 milhões. Deste total, o FIDA financia 78% e as organizações executoras (no projeto tem a expressão destinatário) cobrem os 22% restantes como contrapartida.

Áreas secas da América Latina - As regiões selecionadas estão entre as mais pobres de cada país. No Brasil, a região Nordeste é a área semiárida mais populosa do mundo e abriga 59,1% de todos os brasileiros em extrema pobreza do país (9,6 milhões de pessoas). No Nordeste, estão 32,7% dos municípios com alta vulnerabilidade alimentar e nutricional do Brasil.

Na Argentina, a região semiárida do Chaco tem 80% de seus moradores na pobreza, com alta incidência de pessoas desnutridas, uma das consequências da fome. É no Chaco que se concentra a maior quantidade de comunidades indígenas da Argentina, com nove grupos étnicos diferentes, compostos principalmente por comunidades de caçadores-coletores. Como o índice sociais estão intimamente ligados aos ambientais, o Chaco ostenta também a maior taxa de desmatamento da Argentina.

Nas áreas do Corredor Seco da América Central, 2,2 milhões de pessoas vivem em situação de pobreza e vulnerabilidade climática. Deste total, 54% dependem da produção de grãos básicos - milho e feijão - como principal meio de subsistência. A pobreza afeta particularmente os setores mais vulneráveis e tradicionalmente excluídos da sociedade: povos indígenas, crianças, jovens, mulheres e idosos. Cerca de 38% da população jovem rural (de 18 a 35 anos) está em situação de pobreza, sendo altamente afetados por crimes e violência. 42% do total de mulheres nas áreas rurais são pobres, sendo as mais angustiadas pela falta de emprego e pela violência doméstica.

Texto e Foto: Asacom 


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