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Pesquisa aponta como famílias agricultoras do Semiárido enfrentam impactos ambientais

Pesquisa aponta como famílias agricultoras do Semiárido enfrentam impactos ambientais

 

A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e o Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTI) divulgaram nesta quarta-feira (21) os primeiros resultados qualitativos da pesquisa “Sistemas Agrícolas Familiares Resilientes a Eventos Ambientais Extremos no Contexto do Semiárido Brasileiro”. A apresentação ocorreu para um público de assessores técnicos de entidades da sociedade civil, gestores públicos, pesquisadores, professores e agricultores que estão participando de um seminário internacional sobre o tema, na sede do Insa, em Campina Grande (PB).

Desde 2013, a pesquisa vem acompanhando a trajetória de vida de 100 famílias, distribuídas em 10 territórios dos nove estados do Semiárido com o objetivo de identificar as estratégias ecológicas e sociais implementadas pelos agricultores e agricultoras que lhes têm possibilitado resistir e/ou recuperar-se de impactos ambientais extremos, como a desertificação, as mudanças climáticas e os períodos longos de estiagem. Os territórios estudados são: Sertão do São Francisco (BA), Ibiapaba (CE), Alto Rio Pardo (MG), Cariri/Seridó e Borborema (PB), Sertão do Araripe (PE), Vale do Guaribas (PI), Sertão do Apodi (RN), Alto Sertão (SE) e Médio Sertão (AL).

Experiências estudadas - No Seminário foram apresentadas informações referentes a quatro propriedades, entre elas, a do casal Maria do Socorro e Júlio Rodrigues, da comunidade Jaquinicó, no município de Curaçá, no território do São Francisco (BA). Na propriedade de 15 hectares, a família desenvolve diversos subsistemas agrícolas como o roçado, o plantio de hortaliças e a criação de galinhas. Além disso, criam animais (caprino e bovino) soltos na Caatinga e praticam o extrativismo numa área coletiva de 3000 hectares. Essa prática é conhecida tradicionalmente como fundo de pasto.

A pesquisa aponta que o acesso à área coletiva favorece o pastejo de 200 animais e o extrativismo vegetal de forma sustentável. Mesmo no período da pior seca dos últimos 50 anos, que assolou a região nos últimos quatro anos, a família conseguiu manter o mesmo número de animais.

O acesso à terra e ao território também são aspectos importantes apontados pela pesquisa. No agroecossistema do casal João Almeida e Sueli, na comunidade geraizeira de Vereda Funda, no território do Alto Rio Pardo, em Minas Gerais, a conquista da terra possibilitou o maior controle e autonomia da família em relação às fontes de água, ao trabalho de recuperação ambiental, reaparecimento de nascentes e fortalecimento da prática agroextrativista, por meio da coleta de frutos nativos e plantas medicinais numa área coletiva do assentamento.

Antônia Iva Ferreira, uma das bolsistas do Projeto, acompanha a pesquisa com o casal de agricultores, dona Maria Aparecida e seu Claudionor, no povoado Sítio Verde, município de Porto da Folha, estado de Sergipe. Ela observa que a participação de dona Maria Aparecida na Associação de Mulheres Resgatando sua História, que promove formação, intercâmbio e partilha de experiências, permitiu o acesso a informações e conhecimentos que possibilitou inovações no sistema agroecológico. Dentre as alternativas adotadas pelo casal em um pequeno espaço de terra (0,3 hectare), está a organização de um quintal diversificado onde possui frutas, hortaliças, criação de aves, abelhas e produção energética, que contribuíram para aumentar a resiliência de seu sistema produtivo.

De acordo com Paulo Petersen, da AS-PTA, uma das entidades que coordena a pesquisa, a resiliência não pode ser analisada por um ou dois indicadores, e sim pela interação de vários fatores ecológicos e sociais articulados num sistema. “Você não explica a resiliência só pelo solo, só pela vegetação, pelo tamanho da terra, pela participação da mulher, mas tudo isso em conjunto. Essa é a grande complexidade e dificuldade de fazer esse tipo de pesquisa”, avalia.

A Pesquisa - A pesquisa busca a sistematização de práticas acumuladas pelos agricultores e agricultoras e o mapeamento das estratégias adotadas para a convivência com o Semiárido. O projeto utiliza a metodologia de pesquisa participativa, incentivando que os próprios atores realizem as avaliações de resiliência dos agroecossistemas. É uma experiência de pesquisa inédita que reúne uma rede formada por organizações sociais, um centro de pesquisa em ciência, tecnologia e inovação para o Semiárido brasileiro e os próprios agricultores experimentadores. Deste modo, inaugura na região uma estratégia sem precedentes de mapear, construir e aperfeiçoar conhecimentos, visando subsidiar a formulação de políticas públicas.

Paulo Petersen destaca a pesquisa como um processo de construção do conhecimento que envolve diversas entidades da agricultura familiar e o desafio é que os resultados levantados possam influenciar as políticas públicas. “Nosso desafio é entender as estratégias das famílias e tirar ensinamentos que possam inspirar a formulação de políticas que sejam sensíveis ao que as experiências estão dizendo”, conclui.

Nessa perspectiva, o último dia do Seminário Internacional Construção da Resiliência Agroecológica em Regiões Semiáridas prevê um painel sobre diretrizes para o desenho de políticas públicas para o semiárido no contexto das mudanças climáticas com a presença de gestores públicos, entre eles, o diretor de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Francisco Campelo, e o representante da Comissão Interministerial da Política de Agroecologia e Produção Orgânica do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Cássio Trovatto.

Texto e foto: Catarina Buriti (Insa) e Gleiceani Nogueira (Asacom)


 


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