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Água subterrânea é potencial que deve servir como fonte secundária, aponta gestor ambiental

Água subterrânea é potencial que deve servir como fonte secundária, aponta gestor ambiental

A cada ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) propõe um tema gerador para os debates referentes à água. No Dia Mundial da Água, 22 de março, a temática domina os debates ao longo do mundo. Em nossa região, a água envolve várias disputas, algumas que desrespeitam inclusive o direito humano de ter acesso à água para beber.

Este ano, a ONU propôs o debate sobre a água subterrânea, com o tema “tornar o invisível, visível”. A temática tem muita relevância para a nossa região que pode recorrer à reserva subterrânea como uma forma de ter acesso à água, mas não a principal, como afirma em entrevista, o Mestre em Gestão João Gnadlinger.
Pesquisador de temas relacionados à água, João faz parte da equipe do Irpaa, representa a instituição no Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco e integra a Associação Brasileira de Captação e Manejo da Água de Chuva (ABCMAC), tendo participado devários congressos nacionais e internacionais sobre o tema.

 

Irpaa - Por que a Organização Nações Unidas trouxe para a pauta esse debate da água subterrânea?


João Gnadlinger - As Nações Unidas chamam a atenção a cada ano para um tema diferente. O Dia Mundial da Água é celebrado desde 1993, e este ano, o tema é água subterrânea e o sentido desse tema é tornar essa água subterrânea, que não se vê, visível. O que não se vê, não existe. Mas, na realidade, a água subterrânea é pelo menos 50 vezes mais do que toda a água superficial nos rios, nos mares... Muito mais água está embaixo da terra, o que normalmente não se vê. E nós dependemos sempre mais da água subterrânea, pensando nos poços, em quanta água se bombeia para irrigar. Tem cidades inteiras que vivem da água subterrânea. Essa é a importância e hoje em dia está sendo sempre mais usada [a água subterrânea], mais gente precisa de água, a agricultura precisa de mais água e muitas vezes se tira tudo do subsolo. Sem essa água seria muito mais grave a crise hídrica.

 

Irpaa - A cada ano, a ONU lança o debate sobre uma temática voltada para o Dia Mundial da Água que pode ser trabalhado com as escolas, com as instituições de pesquisa, de extensão rural entre outros. Nos últimos anos, a ONU vem trazendo sempre temas próximos da gestão, do acesso à água. Como você analisa isso?

João Gnadlinger - A comemoração do Dia da Água é uma campanha pedagógica. Um bilhão de pessoas ainda não tem acesso à água de beber. Essa discussão sobre a água de beber, nós conseguimos avançar no Semiárido com projeto Um Milhão de Cisternas que não está completo [não alcançou todas as famílias que precisam] por causa de problemas políticos. Todo ano tem um tema: esse ano é água subterrânea; ano passado foi o valor da água, a água é vida e não pode ser dinheiro, é um direito; outro tema foi não deixar ninguém para trás, todo mundo precisa ter acesso à água, seja água de beber, água para a plantação, para os animais [...]. Outro tema foi como a natureza resolve o problema da água. Imagine aqui no Semiárido [...] olha o umbuzeiro ou o Mandacaru... Eles resolveram o problema. Então, nós aprendemos com a natureza. Outro tema foi reúso da água, nós descobrimos que se temos mais água, então temos mais água poluída, podemos aproveitar essa água e não jogar fora, não criar sujeira ao redor da casa.

 

Irpaa – Por que em algumas áreas do Semiárido tem tanta água subterrânea, enquanto em outras têm tão pouco e muitas vezes de má qualidade?

João Gnadlinger - Ter muita água não quer dizer que é infinita, que é uma fonte que tem à vontade. Mas embaixo da terra tem lugares que têm mais água subterrânea e tem lugares que não existe ou existe de má qualidade. Por exemplo, no centro do Semiárido [área da depressão sertaneja] tem um subsolo de granito, e no granito, a água subterrânea existe muito pouca, só nas rachaduras e a qualidade não é tão boa. Essa água é muitas vezes salobra. Então, em nossa região, muitos poços que não tem água ou, se tiver, a água não pode ser bebida.

No oeste baiano e na região de Feira de Santana tem um subsolo arenito. É uma Areia endurecida, que pode depositar muita água subterrânea, é o contrário do centro do Semiárido. Aqui, ficamos felizes de ter um poço com dois ou quatro mil litros de água. Nessa região, que tem arenito têm poços de 10 mil até 50 mil litros de água por hora.
Tem ainda o subsolo de calcário, por exemplo, na região de Salitre [Bahia], nesse subsolo tem grutas, tem riachos, tem águas subterrâneas [...] mas tem que cuidar muito da qualidade, porque a poluição também pode ser grave.

 

Irpaa - Muitos lugares têm uma gestão ruim da água dos poços. A região de Barreiras, por exemplo, tem o uso de muitos pivôs centrais que desperdiçam bastante água do subsolo. Como se pode melhorar a gestão?

João Gnadlinger - Ainda puxa-se essa água de maneira descontrolada. É importante controlar, ter outorga desses poços. Como já disse, lá é arenito tem muita água subterrânea, mas também precisa colocar ordem nisso. Imagina, lá tem 1.500 pivôs centrais ativos e se usa essa água para irrigação, uma parte é dos rios, mas a maior parte é do subsolo. E mesmo tendo muita água no subsolo, quando baixa essa água, tem consequência para os rios.

Os rios do oeste baiano são alimentados pela chuva, mas também pela água subterrânea na época da seca. O Rio São Francisco recebe, na época da seca, metade da água ou mais do oeste baiano. Então, lá tem muita água, mas se baixa um pouco, as fontes secam, por isso precisa realmente gerenciar bem essa água [...] não deve usar de maneira desordenada.

 

Irpaa - Como as mudanças climáticas podem influenciar o cenário das águas subterrâneas?

João Gnadlinger - As mudanças climáticas influenciam tudo a nossa vida, na natureza e, sobretudo, o ciclo da água o que muda o regime da chuva, então, água subterrânea é reabastecida a cada época da chuva. Se não chove, se usa demais, o poço seca. Com o aumento das secas vai ter problema sobre a água subterrânea. Essa é a mudança climática, mas também é o uso demasiado para irrigação. Depois vem uma mineradora que perfura um poço [para a exploração mineral] mais profundo e a comunidade vizinha tem outro poço mais raso e fica sem água. Tem que ser regularizado o uso para a natureza e para os seres humanos.

 

Irpaa - No semiárido, a gente tem muitos poços perfurados, utilizados de maneira individualizada. Em que medida isso é ruim?

João Gnadlinger - Não é bom porque é um sinal de má gestão. Se perfura poços, sobretudo na época de eleições [...] no Semiárido, em cima do Granito, só tem água nessas rachaduras, então tem que descobrir água [...] No cristalino, mil litros de água boa já é uma coisa importante para as cabras, mas não é a primeira opção. A primeira opção é a captação de água de chuva, por isso, se faz as adutoras, uma opção mais segura. Isso significa a importância do cuidado do manejo da água, tem que se pensar no ciclo da água toda: água superficial, os riachos que secam na época da estiagem, a chuva que tem numa certa época do ano, a grande evaporação e também tem água subterrânea. Isso, nós chamamos de manejo do ciclo da água. Temos que pensar o ciclo da água todo.


Imagem: Cartilha a Busca d’Água no Sertão


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