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Intercâmbio fortalece o debate do direito ao saneamento rural apropriado

Intercâmbio fortalece o debate do direito ao saneamento rural apropriado

A troca de experiências com foco no saneamento básico rural foi a pauta principal do intercâmbio realizado no Território Sertão do São Francisco/BA, entre os dias 08 e 11 de fevereiro. Na oportunidade, agricultoras/es, pedreiros e técnicas/os do Caatinga e Centro Sabiá, debateram com colaboradores do Irpaa, o direito ao saneamento básico no meio rural, visitaram famílias que fazem uso de tecnologias de reuso de águas em três comunidades de Juazeiro, bem como a Escola Família Agrícola de Sobradinho e até contribuíram na construção de uma Bacia de Evapotranspiração – BET no Centro de Formação Dom José Rodrigues.

“A importância não é só a gente vir olhar, é botar a mão na massa… Se eu chegar na minha região e disser assim, ‘eu não tenho condições de botar um pedreiro’, eu garanto a você que eu faço”, afirma com segurança Dona Maria Gerlane de Medeiros, agricultora que reside na comunidade Lagoa da Favela, em Flores-PE. Dona Gerlane garante que vai repassar tudo para seu marido, que é pedreiro e diz ter ficado impressionada com a produção de alimentos a partir da água de reuso, uma possibilidade que ela não conhecia. “O mais importante que eu achei foi ver aquelas fruteiras dando fruta em cima daquele projeto [BET]. Ali foi uma coisa maravilhosa!”

O pedreiro João Batista de Macedo, da comunidade Videl, em Ouricuri, considera como soluções simples e de fácil manuseio as tecnologias visitadas. Seu João destaca a eficiência na resolução de problemas comuns em locais com deficiência de saneamento. “É uma água que a gente reaproveita e dali para frente não tem mau cheiro, não causa muriçoca”, detalha Seu João. Ele acredita que é preciso haver persistência para que as tecnologias sejam utilizadas como políticas públicas. “Eu acho que para o futuro tem que bater na tecla, tem que se pensar para que a população, os governantes vejam com bons olhos” reforça.

A comunidade Videl, onde reside Seu João Batista, tem problemas semelhantes aos encontrados na maioria das localidades onde há traços de urbanização. Segundo o pedreiro, a coleta do esgoto é feita através de tubulações, mas os problemas de saneamento não foram resolvidos. “Eliminou um problema que era o esgoto nas fossas, criou-se canalização subterrânea, mas em compensação jogou [o esgoto] a céu aberto, colado no povoado”, explica.

Seu João Batista conta preocupado que o “esgoto é jogado a céu aberto, dentro de um barreiro onde os animais tomam banho, o gado às vezes chega a tomar aquela água de esgoto”. De acordo com o pedreiro, após a obra foi possível notar o aumento do número de muriçocas e mau cheiro. Segundo ele, desta maneira, o saneamento “ajuda a comunidade, mas no mesmo instante prejudica”.

Mobilização social em prol do saneamento básico rural

Na avaliação de Jucimar Brito, colaborador do Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas - Caatinga, é preciso haver uma mobilização da sociedade em torno do direito ao saneamento básico no meio rural, que segundo ele, hoje é executado basicamente pela sociedade civil. O técnico do Caatinga destaca a BET como “uma tecnologia muito simples de se replicar, só precisa de alguns cuidados e a orientação que a gente dá ao agricultor para que ele tenha um manejo correto”, explica.

Além de pessoas ligadas ao Caatinga, também participaram do evento representantes da equipe e convidadas/os do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá. Na opinião de André Rocha, colaborador do Irpaa, o intercâmbio cumpriu “o propósito de trocar conhecimentos, sobretudo a partir do interesse dessas duas entidades parceiras em implementar Bacia de Evapotranspiração”.

De acordo com André, o evento possibilitou a partilha da visão que o Irpaa tem sobre o saneamento, que vai além das tecnologias, alcançando inclusive o debate da contextualização do saneamento à realidade do Semiárido. O colaborador do Irpaa relata que as/os visitantes “puderam ver outros tipos de tecnologias e contexto no âmbito do saneamento básico e da Convivência com o Semiárido”. André ainda defende que a cultura do reuso de água faz-se necessária frente ao elevado crescimento da demanda de água no planeta, à irregularidade das chuvas no Semiárido e às mudanças climáticas que ocasionam chuvas mais concentradas no tempo, o que tornam mais longos os períodos de estiagens.

A formação sobre acesso e manejo, associada à implementação de tecnologias de coleta e tratamento de esgoto, de forma descentralizada, possibilitando o reuso agrícola da água residuária, vem sendo apresentada como uma proposta de saneamento básico rural apropriado ao Semiárido. O formato é passivo de inserção em políticas públicas, pois possibilita melhorias socioambientais nas comunidades, assim como incrementa a produção de alimentos para humanos e animais e a renda (monetária ou não), em virtude da redução da sazonalidade de safras de frutíferas e forrageiras, via prática da irrigação de salvação com água de elevado valor nutricional, decorrente da decomposição da matéria orgânica presente no esgoto.

O colaborador do Irpaa evidencia o papel importante que as entidades têm desenvolvido para a experimentação, divulgação e geração de conhecimentos no âmbito do saneamento. De acordo com André, as entidades vêm instigando, motivando a organização e a mobilização para exigir do poder público a garantia do direito que já está previsto em lei. No entanto, na opinião de André, falta orçamento, o que decorreria de falta de vontade política. “Falta colocar como prioridade na pauta dos órgãos governamentais e, diga-se de passagem, nas entidades, na própria sociedade, na pauta das famílias”, aponta.

André defende a mobilização popular, com vistas na melhoria de vida no Semiárido. “Se faz necessário para que a gente amplie essa consciência do direito ao saneamento básico, do direito aos saberes e a estrutura necessária para uma vida digna, apesar das variações climáticas”. Ele destaca a necessidade de articulação e mobilização da sociedade para que as pessoas da região digam que tipo de saneamento interessa, observando “as particularidades do meio rural que requer estrutura e metodologia diferentes” do que se faz na cidade, indica André.

 

Texto e foto: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa
 


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