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A Convivência com o Semiárido é a prática da Agroecologia no bioma Caatinga

A Convivência com o Semiárido é a prática da Agroecologia no bioma Caatinga

No dia 3 de outubro é comemorado o Dia Nacional da Agroecologia, uma data que chama a atenção para a importância da Agroecologia na saúde da sociedade e do meio ambiente. A agroecologia se caracteriza pela produção de alimentos em harmonia com o ambiente natural, conservando a biodiversidade, diferentemente do modo mais comum de agricultura utilizada pelo agronegócio, que destrói o meio ambiente.

Na região Semiárida, a Agroecologia está presente através das práticas de Convivência com o Semiárido, que também traz como premissas a conservação do meio ambiente, Recaatingamento, produção apropriada, segurança alimentar e nutricional para as famílias, sistemas justos e sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos, dentre outras. Assim, para abordar mais sobre as inter-relações entre Convivência com o Semiárido e Agroecologia, conversamos com colaboradores e colaboradoras do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) que vão elucidar alguns pontos importantes sobre essa discussão, explicando que a Convivência com o Semiárido é a prática da Agroecologia no bioma caatinga.


Irpaa: A agroecologia é um conjunto amplo de diretrizes, práticas e saberes, que prezam pela produção em consonância com a preservação da vida. Aqui na nossa região, dizemos que a Agroecologia é a Convivência com o Semiárido. Quais princípios demonstram esta similaridade entre os dois conceitos?

Judenilton Souza: Na região semiárida, a Agroecologia está contemplada dentro da discussão da Convivência com o Semiárido. Não dá pra discutir as duas coisas como se fossem diferentes, uma vez que, a Convivência com Semiárido articula diversas dimensões que já estão contidas na discussão da Agroecologia. Por exemplo, se a gente pega a discussão do social que preza pela qualidade de vida, pela redução da pobreza, da miséria, as questões culturais, pensando na produção de novas formas de relações entre homens e mulheres, entre o meio ambiente, entre o natural e o social, a geração e distribuição de renda, através de uma produção apropriada e solidária, buscando a conservação e preservação dos bens naturais, principalmente, pensando o bioma Caatinga. Já, se a gente pensa a Agroecologia no bioma cerrado, ela usa os mesmos princípios, porém precisa ser contextualizada dentro daquele bioma com as particularidades das populações que vivem naquele espaço, assim como em outros biomas. Então, para cada região existem os princípios da Agroecologia que precisam ser adequados à realidade daquela região.

Então, a Convivência com o Semiárido já faz essa reflexão, buscando contextualizar as práticas agroecológicas dentro do contexto do Semiárido. Nesse sentido, a gente pode afirmar que a Agroecologia é a Convivência com o Semiárido.


Irpaa- No Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) realizado em 2014, em Juazeiro foi acordado que o termo Agroecologia no Semiárido seria chamado de Convivência com o Semiárido. O que motivou essa discussão e decisão?

Moacir Santos: O Encontro Nacional de Agroecologia de 2014 foi muito emblemático para a discussão sobre Agroecologia no Brasil, porque aqui no Semiárido estávamos passando por uma das maiores secas já vividas e, no entanto, você não tinha calamidade de fome, de morte, de imigração. As pessoas estavam no Semiárido e estavam bem, justamente, porque tinham desenvolvido técnicas de Convivência com o Semiárido que culminaram também em políticas e programas públicos de Convivência com o Semiárido. Então, tudo que o conceito de Agroecologia defende é a criação de conhecimentos a partir da experiência do povo e do conhecimento da academia e da pesquisa, que se torna política pública. E foi isso que aconteceu no Semiárido com a proposta de Convivência. Se discutia também que a Agroecologia precisa ser contextualizada ao clima e ao bioma onde ela é desenvolvida, daí se chegava à conclusão que o Semiárido brasileiro era uma das regiões onde já experimentavam o que de fato significa Agroecologia, contribuindo para o desenvolvimento legal e bom das pessoas daquela região. A partir daí, se convencionou que o Semiárido já faz Agroecologia quando faz a proposta de Convivência com o Semiárido. Convivência com o Semiárido é a prática da Agroecologia no bioma caatinga.


Irpaa- A agroecologia objetiva uma interação entre a conservação do bioma com o cultivo das culturas adotadas, na agricultura e na pecuária, por exemplo. Sendo assim, os princípios agroecológicos podem ser considerados estratégias de Convivência com o Semiárido?

André Luiz: Todos os principais fundamentos da Convivência com o Semiárido são Agroecológicos ou estão fundamentados na Agroecologia. Por exemplo, quando dizemos que as plantas cultivadas no Semiárido devem ser adaptadas ao clima queremos dizer que as mesmas devem ter uma pegada hídrica, ou seja, o que elas gastam de água, desde o preparo do solo, plantio, até chegar à mesa do consumidor final, devem ter uma pegada hídrica muito menor do que as plantas, os alimentos que são produzidos que não são adaptados ao nosso clima.

Outra questão a ser analisada é quando defendemos que no Semiárido, a criação muitas vezes é mais eficiente do que as lavouras, nós temos que analisar que para produzir alimentos para a criação nós também temos que levar em conta a adaptação dessas plantas que vão virar comida para os bichos. Então, se a cabra é mais adaptada, nós temos que produzir também alimentos para elas, já que a Caatinga só é produtiva para alimentar os pequenos ruminantes durante uma parte do ano, a outra parte do ano, nós temos que fazer estoque de alimento. Essas plantas também devem ser adaptadas, para que não tenhamos gastos com água e prejuízos ao meio ambiente.

Também quando a gente relaciona a Agroecologia e a Convivência com o Semiárido, temos que levar em conta que o bioma que os agricultores familiares usam como um pasto para os animais também precisa ser cuidado. Hoje, estamos tentando aumentar o número da realização dessa atividade que é fazer o cálculo da capacidade de suporte da área de Caatinga, ou seja, quantos animais esse pasto, essa Caatinga consegue alimentar durante um ano, sem degradar a mesma.


Irpaa- A agroecologia fortalece as técnicas do cooperativismo, associativismo e vai de encontro à prática do agronegócio, que insiste na produção de monoculturas e no uso de agrotóxicos, degradando o meio ambiente. Dessa forma, quais práticas da agroecologia, a Convivência com o Semiárido aplica em prol de proporcionar benefícios tanto sociais, quanto ambientais?

Adriana Nascimento: Dentro da Convivência com o Semiárido existem diversas práticas agroecológicas que fortalecem essa convivência. A gente traz as práticas agrícolas que se preocupam com o manejo e conservação do solo, o uso racional dos recursos hídricos, entre diversas outras ações que somam para o equilíbrio ambiental e que vem sendo realizado por agricultores e agricultoras familiares. Nesse processo, a gente traz muita questão da troca de sementes entre agricultores e agricultoras. Essa cooperação com a natureza de criação coletiva, o uso da terra coletiva. Então, pensar Agroecologia no Semiárido é pensar em produzir usando o mínimo de água possível e também utilizando o solo de maneira a preservar e potencializar a capacidade que a natureza tem. Com isso, é preciso que agricultores e agricultoras conheçam o clima, a fauna e a flora de sua comunidade, para conseguir trabalhar um cultivo e uma criação animal que adaptadas a esta região.

É geração de renda, melhoria da qualidade de vida para agricultores e agricultoras familiares, além de garantir a preservação da Caatinga, a gente também observa um trabalho do beneficiamento das frutas nativas que além de ter um extrativismo sustentável, valoriza o que é local. Tudo isso, soma para que as comunidades se tornem mais organizadas e fortalecidas, aumentando tanto a qualidade de vida das famílias, quanto à qualidade do meio ambiente onde estão inseridas.


Irpaa- O Irpaa executa o projeto Assessoria Técnica e Extensão Rural - Ater Agroecologia que visa estimular iniciativas agroecológicas, a partir de processos educacionais contextualizados, voltados para as famílias do campo, tendo como perspectiva uma assessoria técnica que valoriza os saberes populares locais e regionais, alinhando com outras formas de conhecimentos, fortalecendo a transição agroecológica nos municípios da Bahia. Assim, de que modo esse projeto colabora com a disseminação da Convivência com o Semiárido e o Bem Viver?

Alessandro Santana: As famílias e as comunidades atendidas já vêm praticando empiricamente há muito tempo a Convivência com o Semiárido. Por isso, o projeto Ater Agroecologia pretende fortalecer, dar visibilidade às experiências exitosas, promover troca de experiências através de intercâmbios sobre questões de gênero e juventude, autossustentação das famílias no campo, garantia da segurança alimentar e nutricional, inclusão sócio produtiva e melhoria da qualidade de vida. Potencializar e dar visibilidade às ações anima e fortalece as famílias para consolidar a Convivência com o Semiárido e o Bem Viver.


Irpaa- Ultimamente temos visto a mulher ocupando mais espaços nos diversos ambientes. Qual a ligação entre esse protagonismo feminino e a Convivência com o Semiárido?

Gizeli Maria: Atualmente, as mulheres vêm participando cada vez mais nesses espaços de discussão política, de organização social tanto na zona urbana quanto na zona rural. Isso reflete diretamente no protagonismo feminino, nas ações que diz respeito à Convivência com o Semiárido, já que essas mulheres protagonistas conseguem enxergar a região semiárida em que vivem com outros olhos, e tornar esse lugar, um lugar bom para viver, buscando sempre outras estratégias que possibilitam essa Convivência. Com as práticas de políticas públicas, de organização social que acontecem nas comunidades e ações, principalmente, voltadas para a Agroecologia que é um espaço onde a mulher está diretamente envolvida, fez com que a região semiárida fosse vista de outra forma pela mulher que consegue participar e provar que é possível sim, viver na região semiárida.

 

Texto e Foto: Eixo Educação e Comunicação
 


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