Software Livre
13.08.2016
Experiências de Mídia Livre da Bahia fazem parte de Rede apresentada durante encontro esta semana em Salvador
Encerra neste sábado (13) o I Encontro baiano de Mídia Livre, evento que acontece em Salvador desde o dia 10 e reúne dezenas de iniciativas de Comunicação existentes na capital e no interior do estado. Estas experiências hoje fazem parte da Rede Bahia 1798, uma alusão a Revolta dos Búzios ocorrida na capital baiana em agosto de 1798, fato histórico negligenciado pela historiografia oficial ou apresentado apenas com o nome de Revolta dos Alfaiates ou Conjuração baiana. A Rede se inspira em ideais e estratégias de comunicação presente nesse movimento por liberdade, a exemplo da produção e distribuição dos jornais pasquins.
O encontro marca a execução de um projeto garantido via edital público da Secretaria de Cultura da Bahia que teve o objetivo de mapear diversas experiências de mídia livre nos 27 territórios de identidade da Bahia. O mapeamento, idealizado pelo jornalista Pedro Caribé, identificou mais de 200 canais de comunicação nas modalidades de produção audiovisual, notícias, fotografia, ilustração, música, etc, todas com foco na divulgação da arte e cultura, temáticas de cunho social e interesses locais, defesa de direitos, comunicação comunitária, educomunicação, entre outras.
“Tem muita gente produzindo, diversos tipos de conteúdos. O objetivo desse encontro é se situar nesse contexto, conseguir agregar essas pessoas e criar fluxos de informações na Rede entre essas diversas iniciativas no estado”, relata Pedro Caribé, lembrando que nos últimos dez anos os meios digitais de produção de conteúdos só cresceram e que é preciso aproveitar isso para “construir um cenário de comunicação livre no estado”.
O território Sertão do São Francisco foi representado no encontro pelas experiências de comunicação do Irpaa, das rádios comunitárias Zabelê Fm, de Remanso, e Curaçá FM, além do Projeto Carrapicho Virtual, desenvolvido com jovens de comunidades do Salitre, em Juazeiro. Mais de 70 pessoas participaram do evento, que debateu também temas como mídia e democracia na internet, autonomia e sustentabilidade do midialivrismo, cultura livre e audiovisual.
Livre criação
A internet tem sido a base da difusão dos conteúdos de mídia livre, com destaque para blog's, canais no youtube e páginas no facebook. Contudo, o uso de plataformas e redes construídas a partir de software livres foi uma das discussões presentes no encontro, uma vez que “a gente não tem tanta liberdade assim, porque essas mídias pertencem a grandes corporações”, a exemplo da google, conforme destacou um dos debatedores, Vicente Aguiar, membro da Colivre (Cooperativa de Tecnologias Livres), que tem sede em Salvador.
O incentivo ao uso de softwares gratuitos e que possibilitam a modificação, reinvenção, adaptação de suas programações tem sido uma das vertentes da luta pela democratização da comunicação no Brasil. “Ou a gente se coloca como sujeito desses processos ou seremos programados”, reforça Vicente, afirmando que software livre significa nõ apenas uma opção mas sim um modelo de produção de informação.
O poder que as redes sociais vem tendo no país também foi um ponto trazido ao debate, mesmo reconhecendo a interferência das empresas que as criaram no processo de difusão de determinadas ideologias, especialmente ligadas ao esquerdismo. “A mídia hegemônica era indismintível até a chegada das redes sociais”, frisou a blogueira Cinara Menezes, que mantém o blog Socialista Morena basicamente a partir de doações de seus/suas leitores e leitoras.
A Rede
Todas as iniciativas mapeadas pelo Projeto estão acessíveis em um portal que utiliza a plataforma web livre Noosfero, desenvolvida pela Colivre e que está hospedada na rede Software Livre Brasil, também desenvolvida em Noosfero. O objetivo da plataforma é agregar, organizar e compartilhar as iniciativas selecionadas em um ambiente constituído por tecnologias livres, onde a/o internauta pode ter acesso a uma variedade de iniciativas que produzem conteúdos diversos em diferentes regiões do estado.
Para integrar a Rede, basta acessar o portal e submeter a experiência de mídia livre, a qual passará por uma triagem, considerando os princípios midialivristas construídos pela Rede Bahia 1798.
Texto: Comunicação Irpaa
Fotos: Lula Fernandes