Editorial
Não Aécio, história conta sim e muito!
No debate da Rede Globo, dia 24/10/14, a candidata Dilma se referia aos anos de governos do PSDB e o candidato Aécio Neves, sem ao menos tentar justificar, apenas dizia que passado é passado, como se dissesse que a memória do povo não tem importância, com se dissesse que histórico não queira dizer nada. Não Aécio, história conta sim e muito.
Hoje eu me dirijo a minha comunidade de origem no Salitre (Tapera) para votar na sessão 27, em Alfavaca. Eu sei que quando eu chegar na minha casa, vou tomar banho de chuveiro, vou ver o quintal cheio de plantas, vou ver motos e carros na estrada conduzidas por salitreiros e salitreiras que hoje vivem da agricultura, sem precisar sair de suas comunidades ou até que voltaram pra casa agora. E estas conquistas, eleitores/as de Aécio ou indecisos, datam de 2010, 2013, governo Dilma (PT). Em 1997, nós caminhávamos 6 km a pé para cursar o ensino fundamental na sede do distrito de Junco, eu tinha apenas 10 anos. Hoje temos ônibus escolares, temos 05 escolas com ensino médio em todo o Vale.
Ainda não tá bom, por isso quando necessário, a gente critica a Codevasf, as prefeituras, a gente cobra, vai pra imprensa, pra rua. E que bom que podemos exercer este direito! Nesse momento, minha mãe está lá navegando na internet pelo celular. Sim, isto também é fruto de um governo que quer popularizar regalias que antes eram restritas à elite. Assim, a gente tem mais voz na Internet, já que não temos na Rede Globo e Cia.
Nossa memória é boa, por isso não queremos repetir a dose de sofrimento. Sim, sofrimento, mal viver. Não quero mais ver minhas companheiras com dores de coluna por carregar água. Eu já senti o peso de uma lata d’água na cabeça. Quando criança, íamos a pé mais de 01 km pra tomar banho, chegava em casa com poeira e suada. Junto com minha irmã e primas trazíamos garrafas pets com água para lavar os pés. Nosso programa do domingo era ir com mãe em busca de chafarizes em outros povoados para lavar nossa farda do colégio, muitas vezes atravessando o rio Salitre seco. Lembro que nos períodos de maior seca, a cacimba cavada no leito do rio era uma das opções. A água tinha cheiro de mijo de sapo, tinha cor e gosto, ao contrário dos que os livros ensinam. Hoje meus primos, afilhados, filhos de amigas/as nem sabem o que é uma cacimba.
Lembro que nestes períodos, distribuíam cestas básicas, lá em casa não recebia, pois minha mãe era assalariada (professora) e minha vó e meu avô aposentados/as. Mas uma vez mandaram cesta para todo mundo, não lembro, mas devia ser ano eleitoral. Aí veio uma cesta lá pra casa e a gente (crianças) adorou, pois veio suco da Arisco e ioiô creen, produtos que a Xuxa fazia propaganda na Tv. Ah! veio também arroz, daqueles pacotes de 5 kg e ervilha. Foi uma farra, a gente até recortou a foto da Xuxa que vinha no saquinho de suco em pó... mas naquele tempo eu já achava estranho e me questionava como aqueles alimentos serviriam pra quem tinha fome.
Na década de 2000, muita coisa começou a mudar. Sim, foi depois de Lula, depois de Dilma. Foi sim. Hoje todo mundo tem cisterna, agora tem água encanada, o povo é mais feliz. Tem Pronaf, tem garantia Safra, tem Ater, tem transporte escolar, tem Universidade, vai visitar os parentes em SP de avião sem se preocupar com a seca que acabava a criação, sem pagar absurdos por uma carroça de água, sem brigar com os vizinhos na fila da disputa da água do carro pipa... Ah! Hoje tem Bolsa Família, que não deve ser um Programa eterno, mas é melhor que as Frentes de Serviço (Emergência) que botava o povo pra derrubar a Caatinga. Sim, a orientação do governo era “limpar” as comunidades, derrubando e tocando fogo em nossa rica Caatinga, sem falar que uns trabalhavam e outros não, o que gerava briga, disputa.
Corrupção? Claro que não somos a favor. Mas que bom que está havendo investigação e punições. Nos governos anteriores não havia corrupção? Ou a mídia silenciava? Quem já viu aqui uma mãe denunciar à polícia um ato criminoso de um filho? Acho que isso responde a postura dos grandes veículos de comunicação. Este segundo turno das eleições foi o melhor momento para o povo brasileiro perceber como funciona o jogo de influência da mídia golpista.
Mas para ir além, reforço o que disse a minha candidata no debate desta sexta. O Brasil precisa de uma Reforma Política que vá além de acabar com a reeleição. O Brasil precisa continuar investindo no mercado interno, no fortalecimento da Agricultura Familiar, na qualidade de vida do povão. Depois a gente vende o excedente. O Brasil precisa também de uma nova Lei da mídia, da mídia democrática, que bote freio na ousadia dos meios de comunicação que tomam partido nas campanhas políticas da forma mais descarada possível, sendo que são uma concessão pública. O Brasil precisa de uma candidata humana, que desperte o apoio espontâneo do povo e que mencione num debate que aquele eleitor/a que ora lhe questiona, pode vir a ser um dia também candidato/a a presidente da República.
Não tenho medo de posicionar, por isso declaro, em 2014, meu voto é 13!
Autor(a): Érica Daiane Costa, mulher, jovem, nordestina, salitreira, jornalista