Editorial
O “pão de cada dia” e o salário mínimo
Nesse segundo turno votarei no salário mínimo.
As informações nos dizem que 80 milhões de brasileiros vivem desse salário. Outros 40 milhões sequer recebem um mínimo.
Nele eu vejo o rosto de trabalhadores do campo e da cidade, desde os aposentados rurais, pescadores, a maioria dos dependentes da previdência social, balconistas de lojas e redes de supermercados, inclusive a juventude dependurada nos telefones dos call centers. Vejo inclusive gente da minha própria família.
Nas grandes cidades essas pessoas gastam quatro horas nos ônibus, trabalham duro oito horas por dia, se arrebentam a semana inteira para ao final do mês ganhar um salário mínimo. É o povão brasileiro, cujas referências não vão muito além da família, do grupo de amigos, ou de alguma igreja do bairro.
No tempo de FHC o salário mínimo valia em torno de 60 dólares, correspondendo hoje a cerca de 150,00 reais. Mesmo com a desvalorização do dólar, hoje ele não passaria de 400,00 reais. Muito distante dos 724,00 reais do mínimo atual. E esse longe do cálculo do DIEESE, pelo qual o mínimo deveria estar em 3.079,00 reais para sustentar uma família de cinco pessoas.
Armínio Fraga, o homem que será o dirigente econômico caso Aécio seja eleito, já disse que o “salário mínimo do Brasil está muito alto” (Youtube, TV Estado). Aécio disse que o importante é a economia, não o salário mínimo. Portanto, quando for fazer os ajustes econômicos tão pedidos pelo mercado, já sabemos por onde ele vai começar.
Quando as pessoas votam normalmente olham seus interesses. A classe média tradicional quer estabilidade para poder fazer suas viagens, manter o nível de seus salários, poder comprar o carro do ano, assim por diante. Digamos que, numa sociedade como a nossa, seus interesses sejam legítimos.
A elite, aquela que pode ter dinheiro na especulação financeira, pensa se os juros permanecerão altos, se o governo central vai ter dinheiro para honrar seus compromissos com os pagamentos da dívida pública, se teremos exportações para garantir a entrada de dólares e assim garantir o superávit primário, que no fundo redunda na manutenção do status bilionário de aproximadamente 2% da população brasileira.
O povo quando vota quer saber se o que ganha vai pôr a comida na mesa, pagar o aluguel, o gás, a luz, a água, se vai sobrar algum dinheiro para a roupa, para o celular, para a TV ou um lazer de fim de semana. Os mais idosos e doentes pensam inclusive no dinheiro dos remédios. Enfim, trabalham por necessidades básicas e algum desejo de consumo da sociedade contemporânea.
Então, para mais de 100 milhões de brasileiros o salário mínimo é seu pão de cada dia, para utilizar uma expressão evangélica.
Nesse sentido, parafraseando Gandhi, simplesmente voto no salário mínimo para que multidões simplesmente vivam.
Autor(a): Roberto Malvezzi (Gogó)