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20 Anos de Peregrinação da Nascente à Foz do São Francisco
20 anos de peregrinação em defesa do rio São Francisco
Acompanhando os largos passos do bispo Dom Luiz Cappio na sinuosa trilha na Serra da Canastra, seguia a ofegante peregrinação para reencontrar o coração de um rio ferido. A nascente do São Francisco que pulsa suas águas entre tufos de capim, acumula-se no charco, e segue o estreito córrego formando pequenas cachoeiras e piscinas naturais antes de despencar da altura de 186 metros na majestosa Cachoeira Casca d´Anta. Os turistas que subiam com seus veículos a íngreme e poeirenta trilha ficaram surpresos com disposição dos peregrinos e manifestaram solidariedade ao Frei Cappio, que realizou duas greves de fome (11 dias em 2009 e 24 dias em 2007) para defender a revitalização do rio e protestar contra o projeto da transposição das suas águas para os estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Este projeto amplia a concentração de extensas áreas de terra e grande volume de água para produção agroindustrial, causando graves impactos sociais e ambientais na região do Semiárido Nordestino.
Reencontro aos pés do Santo
A estátua do padroeiro dos animais no alto da Serra da Canastra está castigada pelo tempo, mas adaptada ao santuário ecológico que protege as nascentes do rio e animais ameaçados de extinção, como o pato mergulhão, lobo guará, tamanduá bandeira e tatu-canastra, além de uma variedade de veados, macacos, cachorro do mato, lontra e, por ser rota de aves migratórias, atrai diversas espécies de pássaros. Após 20 anos, Frei Cappio voltou com seus peregrinos aos pés da imagem do São Francisco para realizar uma emocionante celebração, recordando as pessoas que participaram na longa trajetória de resistência em defesa do rio, e as emoções da peregrinação até a foz do rio, realizada entre os dias de 4 de outubro de 1992 e 4 de outubro de 1993, acompanhado pelo sociólogo Adriano Martins, o lavrador e garimpeiro Orlando Araújo e a irmã franciscana Conceição Menezes.
Com a imagem de São Francisco Peregrino em suas mãos, Frei Cappio conduziu a comemoração dos “20 anos de Peregrinação” que teve início no dia 10 de outubro, em Belo Horizonte (MG), e foi encerrada no dia 12 em com a celebração de uma missa na parte baixa da escarpada encosta da Serra da Canastra, emoldurada pelo límpido filete de água da Cachoeira Casca d´Anta, cercada pelo verde cintilante das folhagens, ao som das águas batendo nas pedras e do canto dos pássaros.
São Francisco Vivo!
A peregrinação iniciada há 20 anos impulsionou mobilizações massivas nas cidades ribeirinhas pelo direito do povo pobre à terra e à água, e ganhou repercussão internacional com a realização de protestos, audiências públicas, seminários, exposições de fotos, lançamentos de livros, ações de preservação, debates públicos, marchas, ocupações, acampamentos e outras atividades que atraíram a atenção de milhares de pessoas em diversas cidades brasileiras contra o projeto de transposição das águas do São Francisco. A longa caminhada dos peregrinos do São Francisco segue na luta do povo ribeirinho pela vida do rio que está poluído pelo esgoto das cidades e indústrias, com as margens desmatadas, e sofrendo as consequências da exploração de atividades econômicas que provocam assoreamento, altera seu curso e reduz o volume das águas. Aos peregrinos juntam-se todos que defendem o acesso à água como um direito humano universal, garantido às próximas gerações, pois como definiu Dom Luiz Cappio: “o rio e povo são a mesma realidade, pois o sangue que corre na veia do povo é a água do rio São Francisco: se o rio estiver bem, saudável, o povo estará bem, saudável. Se o rio estiver doente, o povo estará doente. E se o rio vier a morrer, o povo morre com o rio”.
Por Flaldemir SantAnna de Abreu - jornalista (Campina-SP)
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A Peregrinação é considerada a maior mobilização ecológica/religiosa em defesa do rio São Francisco, sendo realizada entre outubro de 1992 e outubro de 1993, por quatro peregrinos: Dom Luiz Cappio, Adriano Martins, Orlando Araújo e Irmã Conceição Menezes, mobilizando 350 comunidades nos 2.863 km de percurso do rio São Francisco.
Muitas iniciativas surgiram durante e depois do evento, por ela motivadas: plantios de árvore, preservação de nascentes e matas em propriedades particulares e comunitárias, mutirões de limpeza da beira do Rio, programas de educação ambiental e semanas ecológicas nas escolas, mutirões de arborização das cidades.
A Peregrinação foi motivada, na época, pela alarmante degradação do rio e foi uma das primeiras mobilizações organizadas em defesa do Velho Chico. Passados 20 anos, a degradação que impulsionou os peregrinos agravou-se. O rio São Francisco perdeu 35% da sua vazão nos últimos cinquenta anos e passou a sofrer com a construção de empreendimentos econômicos que tem degradado ainda mais o rio. Recentemente, pesquisadores da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) divulgaram uma pesquisa alertando para a extinção da caatinga e as consequências para o Rio, que segundo eles, corre o risco de ser extinto se a degradação continuar nesse ritmo.
Dom Luiz Cappio participa das comemorações pelos 20 anos da Peregrinação da Nascente à Foz do rio São Francisco
Dom Luiz Cappio, o bispo que ficou conhecido pela sua luta em defesa do rio São Francisco, participará neste dia10 de outubro, em Belo Horizonte, de uma série de atividades em comemoração aos 20 anos da Peregrinação da Nascente à Foz do rio São Francisco.
As festividades terão início às 13 horas, na Igreja São José na capital, com uma coletiva de imprensa, em que o bispo e representantes da Articulação Popular São Francisco Vivo falarão sobre as comemorações da Peregrinação, as principais lutas pela revitalização do Rio São Francisco, desde Minas até Sergipe e Alagoas, o processo de Transposição, além dos principais problemas vivenciados pelo ecossistema e pelas comunidades ribeirinhas ao Rio.
Logo após a coletiva haverá um ato público nas escadarias da Igreja São José, com apresentações culturais, exposição de fotos de resgate dos 20 de peregrinação, além de depoimentos e denúncias das comunidades ribeirinhas de toda a bacia sobre os problemas vivenciados pelo “Velho Chico”.
Já dos dias 11 a 13 de outubro, as atividades serão realizadas em São Roque de Minas, onde está localizada a nascente do São Francisco. Estão sendo planejadas exposições fotográficas, seminários e momentos místicos no local.
Programação
Dia 10/10:
13h - Ato Público (escadaria da Igreja São José)
13h30 - Coletiva de Imprensa ( Salão da Igreja São José)
16h30 - Momento cultural
19h - Seminário: O rio São Francisco nestes 20 anos pós-peregrinação (Auditório: Congresso/ Programa Polos-UFMG – Programa de pós-graduação em Direito/UFMG Av. João Pinheiro, nº 100, 2º Andar)
Dia 11/10:
08h – Saída para São Roque de Minas
19h- Celebração Eucarística na Igreja São Roque de Minas
Dia 12/10:
05h - Celebração Eucarística na nascente do rio São Francisco (madrugada) Caminhada para a Serra da Canastra seguida de celebração
Dia 13/10:
07h - Momento de Oração na Casca D’anta
13h - Retorno
Dom Luiz Cappio
Dom Luiz convive há mais de 30 anos com os problemas do Vale do São Francisco e, por duas vezes, ofereceu a sua vida em defesa do rio e das comunidades que vivem do Velho Chico. Em setembro de 2005, o bispo de Barra iniciou uma greve de fome que durou cerca de 11 dias, pela não realização da Transposição e pela Revitalização do rio São Francisco. Em 2007, depois do não cumprimento da promessa do governo Lula de promover debates sobre a transposição, de discutir as alternativas propostas pelo Atlas do Nordeste e de promover a revitalização do rio, Dom Cappio retomou a greve de fome que durou, dessa vez, 24 dias.
Em 2007 D. Luiz foi premiado pela Pax Christi International, organização criada em 1945, para promover direitos humanos. Em 2008, recebeu o Prêmio Kant de Cidadão do Mundo, na Alemanha.
Sobre a Articulação
A Articulação Popular São Francisco Vivo (APSFV) existe desde 2005, atuando em todos os estados por onde o Rio São Francisco perpassa. Sua finalidade é congregar e fortalecer movimentos populares e organizações sociais (associações, sindicatos, pastorais, ONGs) na luta em defesa das comunidades e de toda a vida dependente do grande rio e de seus afluentes.
Nestes cinco anos, cerca de 320 destas entidades de toda a bacia hidrográfica têm feito parte de uma permanente mobilização social por uma revitalização do São Francisco compreendido como Terra e Água, Rio e Povo.
Seja no enfrentamento de um Projeto de Transposição imposto como falsa solução para a questão hídrica do Semiárido e em completa desatenção quanto ao estado de degradação do rio, seja na luta por uma inexistente Revitalização verdadeira do complexo de vida que é o Rio São Francisco, a Articulação tem marcado o cenário político e social-ambiental brasileiro.
Divulgação: Ascom Articulação Popular São Francisco Vivo