Durante os dias 11, 12 e 13 de fevereiro o município de Uauá receberá diversas pessoas e organizações nacionais e internacionais no 3º Festival do Umbu. O evento, realizado pela Cooperativa de Agricultores Familiares de Canudos, Uauá e Curaçá – COOPERCUC, busca dá visibilidade ao trabalho desenvolvido pelas famílias que, desde 2004, sabem da importância do beneficiamento de frutas da caatinga, principalmente o umbu que já é considerado símbolo cultural e ambiental da região.
Na programação da terceira edição do festival, oficinas sobre ecogastronomia, segurança alimentar e nutricional, tecnologias de produção de mudas e enxertia de umbuzeiros, além de discussões sobre Economia Solidária e Comércio Justo, Produção e Certificação Orgânica, Venda de produtos da Agricultura Familiar para o governo, irão facilitar a compreensão da comunidade local e participantes do evento sobre as vantagens fortalecer a Agricultura Familiar, tendo por base o desenvolvimento com sustentabilidade social e ambiental.
A programação cultural do 3º Festival do Umbu: “árvore sagrada do sertão” contará com concurso de poesias, músicas e artes plásticas relacionadas ao tema do evento, show com artistas locais, visitas a stand e plantio simbólico de uma muda de umbuzeiro.
Entidades como o Irpaa, Sebrae, Ebda, Conab, sindicatos rurais e associações apoiam a iniciativa legitimando assim a viabilidade de um projeto social e ambientalmente sustentável voltado para a Convivência com o Semiárido.
O reconhecimento do trabalho da Cooperativa
A experiência da COOPERCUC hoje está voltada para o processamento do leite e de frutas como manga, goiaba, banana, maracujá amarelo e maracujá da caatinga, mas o umbuzeiro ainda é a principal árvore que fornece a matéria-prima para a produção da cooperativa.
A responsabilidade de estar entre as cinco cooperativas no Brasil que possuem o selo nacional da Agricultura Familiar, garante também que os produtos processados e embalados nas 13 unidades hoje existentes são resultados de um processo que se preocupa com a qualidade de vida e autonomia das famílias e, principalmente, com a preservação ambiental.
Todos os produtos utilizados na fabricação dos doces, geléias, iogurtes, compotas são de origem orgânica, assim como o açúcar. Outros materiais como as embalagens também são oriundos de empreendimentos da Agricultura Familiar.
No cuidado com a caatinga, a colheita do umbu, por exemplo, é feita seguindo normas que garantem o cuidado com a árvore e com a saúde dos/as produtore
s/as. Para isso, as pessoas usam roupas e calçados adequados e colhem os frutos com a mão, sem sacudir os galhos. Para produzir o picles do xilopódio de umbuzeiro (raiz ou batata da planta) mudas são plantadas especificamente para isto, sem precisar extrair a raíz das árvores já existentes, o que mataria o umbuzeiro.
Outro cuidado importante é com a lenha usada nas caldeiras das mini-fábricas, a qual deve, obrigatoriamente, ser de árvores mortas ou da algaroba que é uma planta exótica e de fácil proliferação. Nas comunidades onde a algaroba ainda não existe em grande quantidade, a cooperativa tem comprado de outros povoados para suprir a demanda de lenha necessária e assim contribuir também com a geração de renda para outras famílias da região.
A importância da criação da COOPERCUC
Ainda na década de 1990, a partir de uma mobilização realizada pelo Irpaa, oito mulheres de Uauá participaram de uma capacitação para o trabalho de beneficiamento do umbu. O pequeno grupo se tornou multiplicador da ideia e com o passar dos anos a experiência foi se fortalecendo, resultando na criação do grupo “Unidos do Sertão” que, em 2004, deu origem a COOPERCUC.
Antes de por em prática a ideia do beneficiamento, a colheita do umbu já era feita na comunidade, porém apenas para consumo ou venda para o atravessador. Hoje os produtos feitos nas mini-fábricas distribuídas em comunidades rurais dos três municípios e na unidade central que fica na sede do município de Uauá, fazem parte da merenda escolar de escolas estaduais de 13 municípios da região, sendo parte de uma parceria com a CONAB, o que envolve diretamente 134 produtores.
A compota de picles, usado como aperitivo, é um dos produtos mais novos e que tem tido uma boa aceitação no mercado. A calda para cobertura de sorvete, feita a partir do suco concentrado e do doce cremoso do umbu, é o mais novo experimento que está sendo consumido e avaliado em um impório em São Paulo e, de acordo com o atual presidente da cooperativa, Adilson Ribeiro, em breve estará sendo produzido em maior quantidade para comercialização.
As famílias cooperadas melhoraram as condições financeiras e hoje sabem da importância de preservar a caatinga, tendo em mente que o semiárido é viável, desde que saiba conviver com o mesmo. Esta discussão, bem como a experiência da COOPERCUC, vem sendo estimulada nas comunidades onde o Irpaa atua.
Para mais informações sobre a importância de se preservar a caatinga, acesse: Projeto Recaatingamento