Troca, partilha de experiências de conservação das sementes, celebração de comidas tradicionais e culturais, e lançamento de publicações marcaram a IV Feira da Agrobiodiversidade, que aconteceu nesta quinta-feira (28), como parte da programação do Semiárido Show. Este ano, a Feira trouxe como tema “Agrobiodiversidade na perspectiva da Convivência com o Semiárido e Agroecologia” e reuniu cerca de 200 participantes entre guardiões, guardiãs e expositores de sementes crioulas.
O momento contou com apresentação de experiências das organizações Cooperativa dos Pequenos Produtores Agrícolas Bancos Comunitários de Sementes (Coppabacs), Associação Regional de Convivência Apropriada ao Semiárido (Arcas) e Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), destacando o quanto o acesso a políticas públicas é fundamental para fortalecer as sementes crioulas, as famílias agricultoras e consequentemente, a Segurança Alimentar e Nutricional e a luta contra as sementes transgênicas.
Nessa perspectiva, Silvio Porto, diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), destaca a importância da retomada do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), após o período do desgoverno.

“O PAA deixou de existir em 2022, passou a ser chamado de Alimenta Brasil, que não alimentava nada. Foi deixado pelo governo anterior uma proposta de orçamento para 2023 de apenas R$ 2 milhões para o PAA todo. Essa semana, nós recebemos o primeiro repasse de 2025 pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) de R$ 500 milhões. Nós já executamos mais de R$ 1 bilhão de 2023 para cá”.
Sobre o PAA Sementes, Silvio relembrou: “A Conab em 2003 começou a fazer a compra de sementes crioulas pelo PAA, algo que até então não existia, no âmbito do governo federal”. Ele complementa que a Conab foi assessorada pela AS-PTA- Agricultura Familiar e Agroecologia, a partir da experiência do Polo da Borborema, que havia conseguido que o governo da Paraíba incorporasse ao programa estadual de distribuição de sementes, com destaque para as sementes crioulas, visando definir os parâmetros técnicos para diferenciar sementes de grãos.
“Nós temos que valorizar e incorporar cada vez mais a política pública, seja pela pesquisa, seja por ações que garantam a compra e também, sobretudo, a questão do crédito, precisamos romper de fato essa barreira para que se consiga dar escala a agroecologia”, enfatiza Silvio.
Maria de Jesus, do Movimento dos Pequenos Agricultores e Agricultoras (MPA), de Sergipe, destacou que este momento reforça a ancestralidade que é a essência da vida da humanidade. “Se a gente não discute o que é as sementes, se a gente não se reúne para falar sobre as sementes e a importância dela para a vida do povo, a gente está caminhando para o fim, inclusive, da própria humanidade. Pois, a gente pode sobreviver sem muita coisa, mas sem água e sem alimento, a gente não sobrevive. E o alimento, ele só vem de uma coisa que a gente aprendeu a cultivar muitos anos, que são as sementes, patrimônio do povo e que deve estar ao serviço da humanidade”.
Sobre a IV edição da feira, Clérison Belém, coordenador institucional do Irpaa, reforça:

“A gente também traz inovação nesta feira, pois além das espécies vegetais, a gente tem a semente animal, porque a semente não é só vegetal. E a principal semente dessa região se chama bode. A gente não poderia fazer essa feira sem a presença dos caprinos e ovinos que se adaptaram aqui nessa região”.
A programação contou também com o lançamento das publicações, como o Caderno do Pró-Semiárido “Sementes Crioulas: resiliência produtiva e adaptação às mudanças climáticas” e o “Sementes da Resistência: Catálogo de sementes crioulas dos territorios de atuação do Movimento dos Pequenos Agricultores em Alagoas”, publicações que sistematizam experiências de agricultores e agricultoras guardiãs e movimentos sociais com foco na valorização das sementes crioulas.
Além disso, durante o evento, guardiões e guardiãs de sementes crioulas, receberam certificados pelo trabalho que realizam no cuidado, preservação e partilhas de saberes.
A IV Feira da Agrobiodiversidade é uma realização do Irpaa, MPA, Companhia De Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (Sasop) e Embrapa.
Programa Arroz da Gente
Durante a Feira aconteceu também a entrega simbólica de 467 acessos de Germoplasma de Arroz (material genético de organismos vivos) para agricultores presentes. A ação se deu no âmbito do Programa Arroz da Gente. Essa iniciativa do Governo Federal, lançada em julho de 2024, visa fortalecer a produção de arroz pela agricultura familiar e comunidades tradicionais.
Evandro Holanda, pesquisador da Embrapa reforça: “Essas sementes elas vão ser repatriadas para os territórios e vão gerar aí todo o potencial de uso para a alimentação em uma cultura que é fundamental do país e para uma segurança e soberania alimentar do Brasil, numa perspectiva de que nós precisamos alimentar bem a população com alimentos produzidos de maneira saudável, com a agroecologia, com processos ecológicos de produção”.

Nesse processo, a Conab realiza a articulação entre o material genético cedido pela Embrapa e as comunidades. “Isso aqui é um tesouro, que foi coletado nos anos 70, 80, nesses territórios, e que agora, quando você vê, está sendo democratizado pela Embrapa”, enfatiza Silvio.
O programa busca retomar o cultivo em áreas que já possuem histórico de produção, oferecendo apoio técnico, crédito com juros reduzidos e incentivos à produção agroecológica. Além disso, o uso de práticas agroecológicas é incentivado, sendo que a Conab atuará como principal compradora do arroz produzido, evitando a perda de produção e garantindo renda para os agricultores.
O arroz adquirido pela Conab será destinado, preferencialmente, a regiões com maior vulnerabilidade social, com preço máximo de venda ao consumidor.
Silvio apresenta uma perspectiva para as próximas ações visando atender as realidades de cada região. “A nossa expectativa é que a gente comece a trabalhar com aquilo que, de fato, a agricultura familiar tem, que é a diversidade. Então, nós queremos trabalhar com o milho, mandioca, feijão, e avançar também em relação à pecuária no território que é fundamental nos sistemas de produção da agricultura familiar, que são os subsistemas de roçados, de animais que se encontram, que produzem a agroecologia”.

Semiárido Show
O Semiárido Show é realizado pela Embrapa e conta com a parceria do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa). Os patrocinadores do evento são: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf); Banco do Nordeste; Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene); Companhia Nacional de Abastecimento (Conab); Banco do Brasil; e Governo do Estado da Bahia.
Matéria: Lorena Simas | Irpaa
Fotos: Vagner Gonçalves | Irpaa










