Proporcionar aos/as agricultores/as familiares a oportunidade de conhecer práticas de manejo sustentável adaptadas às condições do Semiárido e sistemas de produção agroecológica que respeitam a biodiversidade local. Esse foi um dos objetivos de um Intercâmbio do Projeto Assessoria Técnica e Extensão Rural (ATER) Bioma Caatinga, realizado pelo Irpaa no Território Sertão do São Francisco.
Cerca de 50 agricultores/as familiares assessorados/as pelo Projeto nos municípios baianos de Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Sento Sé e Sobradinho, participaram da troca de experiências. A programação incluiu visitas à Escola Família Agrícola de Sobradinho (EFAS); Centro de Agroecologia, Energias Renováveis e Desenvolvimento Sustentável (Caerdes), no campus da Uneb em Juazeiro; e participação no Seminário Territorial de Educação Ambiental Contextualizada, em Curaçá.
Vivenciar atividades nesses espaços possibilita uma partilha de conhecimentos e experiências, o que é fundamental para a construção de uma ATER contextualizada e voltada às necessidades dos/as agricultores/as. Nesse sentido, o colaborador do Irpaa e um dos coordenadores do ATER Bioma Caatinga, Alessandro Santana, ressalta que o intercâmbio “Buscou incentivar e divulgar técnicas e estratégias que ajudam os agricultores a lidar com a atual emergência climática, como educação ambiental, recaatingamento, preservação, recuperação da mata ciliar e recuperação de áreas degradadas. Além de aumentar a conscientização sobre a importância da Convivência com o Semiárido como estratégia para o desenvolvimento das comunidades, sem comprometer os sistemas naturais para as futuras gerações, garantindo a renda e a segurança alimentar e nutricional dos agricultores”.
A jovem agricultora, Aline Dimas, da comunidade Café da Rosa, no município de Sento Sé, destaca que durante a visita ao Caerds foi possível obter conhecimentos importantes tanto para a formação pessoal quanto profissional. “Trouxe os aspectos da qualidade e salinização do solo, que é importante, principalmente para quem é agricultor familiar saber o teor de sal que a sua propriedade tem, porque assim você pode fazer uma análise do solo para poder ver qual cultura cultivar”.
Na EFAS, o grupo conheceu e discutiu sobre diversas tecnologias, a exemplo do viveiro e matrizeiro voltados à produção de mudas nativas da Caatinga, como umbu e maracujá do mato e de espécies econômicas como: acerola, goiaba, pinha e mamão. A experiência chamou a atenção da agricultora Analice Nascimento, do povoado São Bento, em Curaçá. “A gente viu na prática como montar a diversidade que tem no quintal produtivo, como também a enxertia, que eu só tinha visto falar, mas não tinha visto na prática, como fazer a enxertia que a gente viu lá do umbuzeiro (umbu nativo e umbu gigante)”, explicou a agricultora.
Através do intercâmbio, a agricultora Rosineide Gomes, do povoado Barra Bonita, distrito Itamotinga, em Juazeiro, percebeu que na sua propriedade, a família desperdiçava muitos nutrientes que podem ser utilizados para restaurar a terra. Ela conta que tinha o hábito de varrer o quintal e queimar a folhagem de banana, por exemplo, e agora, aprendeu que usar a folhagem contribui para o fortalecimento do solo. “Uma coisa que eu achei muito interessante, é a questão da rotação da terra, porque meu marido sempre plantava feijão no mesmo lugar e eu aprendi que enfraquece a terra. Então, isso foi um grande aprendizado pra mim também. Fazer essa rotação pra terra descansar e voltar a produzir proteínas”, complementa, animada, Rosineide.
Alessandro enfatiza que a partir dessas discussões e práticas apresentadas, os/as agricultores/as vão poder potencializar as práticas agroecológicas e repassar os conhecimentos. “Tudo isso foi discutido com o grupo e feito práticas para que eles possam aplicar e discutir também nas suas propriedades, ao retornarem, sem precisar fazer uso de defensivos convencionais ou gastar seus recursos de fontes externas”.
Os participantes também destacaram como fundamental a participação no Seminário Territorial de Educação Ambiental Contextualizada, realizado no município de Curaçá, pois foi possível ter acesso a diversas informações e reflexões coletivas sobre o Bioma Caatinga, Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido e geração de renda. Além disso, o colaborador do Irpaa e um dos coordenadores do projeto Ater Bioma Caatinga, Júlio Cézar Lopes, reforça que este espaço “vai dar oportunidade de construir uma proposta e apresentar para o poder público, para que possam ser realizadas políticas públicas específicas para a agricultura familiar, para a realidade local, considerando o meio ambiente, a produção, outras economias e a Convivência com o Seminário, que é a nossa base”.
O Irpaa executa o projeto ATER Bioma Caatinga nos municípios de Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Sento Sé e Sobradinho, atendendo 1.080 famílias. As ações são financiadas pelo Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) e Bahiater.
Texto: Lorena Simas | Edição: Vagner Gonçalves
Eixo Educação e Comunicação
Fotos: Equipe Irpaa