Ao longo dos seus trinta anos de existência pautando a Convivência com o Semiárido, o Irpaa adotou como estratégia a divulgação dos temas estratégicos que fundamentam a proposta e nessa perspectiva, desde 1992 tem realizado diversas iniciativas de educação não formal, dentre elas as escolas de formação. Inicialmente conhecida como Escola para Lavradores, o espaço formativo surgiu como uma estratégia para multiplicar o número de pessoas para entender e defender a Convivência com o Semiárido.
Segundo José Moacir, colaborador do Irpaa, “a proposta inicial foi convidar pessoas, representantes de organizações e movimentos, sindicatos, associações, para discutir a respeito do conceito e da prática da convivência com o Semiárido, partindo das discussões da produção, captação de água, mas também das políticas públicas”.
A proposta metodológica adotada na escola se baseia na Educação Popular, pregada por Paulo Feire, onde todos aprendem juntas/os, tendo o estudo e o trabalho como princípios essenciais. Por isso a escola é organizada para que todas/os participem das atividades práticas, culturais e de formação teórica. Além disso, há um processo de envolvimento nas tarefas diárias, desde a alvorada à limpeza dos espaços comuns, atividades realizadas por todas/os, independente de gênero.
Em suas vinte e sete edições a Escola de Formação vem contribuindo para a desconstrução do olhar equivocado e estigmatizado sobre a região semiárida e possibilitando que muitas pessoas que participaram das escolas ao longo dos anos pudessem dar sua contribuição em outros espaços, a exemplo de Rizomar Ferreira, que participou da escola no início dos anos 90 e atualmente está Secretário de Agricultura do município de Pilão Arcado. Para Rizomar a escola “foi um grande aprendizado, uma grande lição de vida, que naquele tempo estava iniciando a minha trajetória. Para mim ali foi a base de tudo e todo aquele aprendizado norteasse a minha atuação e o meu trabalho aqui no município”. Exemplos como de Rizomar reafirmam a importância do Irpaa dar continuidade nas experiências formativas, ajudando na construção de caminhos para a implementação da Convivência com o Semiárido.
Após anos de realização da Escola com agricultoras e agricultores, o Irpaa avaliou que era necessário contribuir mais com a continuidade dos debates sobre a Convivência, e por isso fez a opção de mudar o público que seria convidado para escola, apostando na importância e potencial político da juventude do Semiárido para dar continuidade aos debates nas comunidades.
Ana Flávia, jovem camponesa e liderança sindical na cidade de Apodi (RN), que participou da 23° escola em 2015, afirma que a formação foi importante “sobretudo por ser naquele momento que eu e outros jovens bebíamos da fonte da experiência, da troca de experiencia”. Ela ainda argumenta que “existe uma disputa ideológica sobre os jovens, onde o capitalismo, vê o jovem como mão de obra para exploração”. Ainda de acordo com a jovem potiguar, a Escola de Formação é o contraponto, “que fortalece a base, respeita as pessoas”. Para Ana Flávia, a escola é uma experiência fundamental e que precisa ser fortalecida pois contribui decisivamente na formação da identidade ideológica da juventude do Semiárido.
Diversos temas fundamentais para a consolidação da Convivência com o Semiárido são debatidos na escola: terra e território, povos e comunidades tradicionais, tecnologias sociais, saneamento rural, economia solidária, agroecologia, comunicação popular e educação contextualizada. Tais temáticas foram elementares para que o técnico em agropecuária Antônio Marcos de Oliveira Silva compreendesse os principais elementos da Convivência com o Semiárido e os estereótipos construídos sobre a região.
Antônio participou da 27 edição e explica que “além da formação ser um espaço para quebrar os esteriótipos de que a região não é um local bom para viver, me permitiu melhor conviver no Semiárido”. E acrescenta, “pretendo que meu filho, que hoje está com dois anos, quando chegar na idade adequada, possa conhecer e participar também da experiência enriquecedora que é a Escola de Formação do Irpaa, pois quero que meu filho conheça a realidade que ele vive”, pontua.
Ao completar trinta anos, o Irpaa reafirma sua disposição em contribuir com a ressignificação do olhar sobre a região semiárida, fortalecer a formação de lideranças que possam influenciar nas definições políticas apropriadas e auxiliar na construção de perspectivas que respeitem a pluralidade dos povos e fortaleçam as suas potencialidades no horizonte de um Bem Viver.
Texto: Comunicação do Irpaa
Fotos: Arquivo Irpaa