Feminismo e juventude rural são destaques no IX Enconasa

A cidade de Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte, recebeu de 21 a 25 de novembro, caravanas de agricultoras e agricultores, técnicos de instituições não governamentais e populares, convidados/as, com ampla participação de jovens e mulheres, que protagonizaram o IX Enconasa – Encontro Nacional da Articulação Semiárido Brasileiro (Asa), que teve como tema “Povos e Territórios: resistindo e transformando o Semiárido”.

Inserido num momento de conturbado cenário político no Brasil e no mundo, o IX Enconasa discutiu os rumos da Asa, nesse momento em que as perspectivas são de que o Estado Brasileiro deixe de financiar as iniciativas da sociedade civil e os programas de Convivência com o Semiárido. Com mesas de debates, visitas de intercâmbio, oficinas temáticas, rodas de conversa, feira de saberes e sabores, reuniões, encontros e reencontros, o IX Enconasa debateu não só os rumos da Asa, mas caminhos da luta por mais direitos e pela defesa da Democracia, com a fixa ideia de que as conquistas até aqui não devem ser lançados numa marcha ré na História.

A agricultora Marcilene Oliveira, 34 anos, moradora de um assentamento em Vereda Funda, Rio Pardo (MG), destaca a troca de experiências como o ponto que mais agradou. “As oficinas, as visitas, você partilhar isso com outras pessoas, ver a experiência do outro, isso é muito bom”. Ela também elogiou a organização feminina. Durante o encontro as mulheres tiverem momentos específicos de formação e organização. “A gente percebe a importância das pessoas estarem reunidas para buscar seus direitos”, salienta.

A jovem agricultora Júlia Ana Luz Vieira, 19 anos, veio de Lagoa das Flores II, Caraíbas (BA) para participar do seu primeiro Enconasa. “Para mim está sendo uma honra, um privilégio. É uma oportunidade única. Eu posso levar, de uma certa forma, um conhecimento, um aprendizado para a comunidade que eu vivo”, conta. Júlia acredita que poderá contribuir muito na organização da comunidade e no protagonismo juvenil. Ela entende que o Enconasa deixará essa semente. “O tema [da oficina] que eu escolhi, Juventude e sucessão rural, é importante por que fala da minha realidade”, diz ela com propriedade do assunto.

Jéssica Luiza Dias Gomes, 20 anos, é outra jovem que também gostou da primeira experiência no Enconasa. Vinda da comunidade Santana, em Riacho de Santana (BA), ela já participa de uma organização de mulheres, mas diz nunca ter participado de algo tão grande, envolvendo tantos estados. Mesmo acostumada a participar de outros eventos, Jéssica diz ter vivido “muitas experiências novas”. Ela conta empolgada sobre sua participação numa visita que tinha como pauta a comunicação como um direito, onde conheceu a experiência de seu José Varela, um agricultor que mantém uma radiodifusora numa comunidade rural. Além da experiência de comunicação, Jéssica destaca o traço cultural vivido na comunidade. “Eu tive a honra de conhecer seu Antônio Francisco, que hoje em dia substitui Patativa do Assaré” na Academia Brasileira de Literatura de Cordel, conta orgulhosa.

Mais bela e forte que o sol em Mossoró, foi a presença marcante de mulheres e jovens, que acentuaram a necessidade de construir um Semiárido mais justo para estes dois segmentos.

Texto: Álvaro Luiz e Vinicius Gonçalves

Fotos: Álvaro Luiz e Áurea Olímpia