Todos os anos, cerca de 50 milhões de casos de dengue são registrados no mundo, sendo que 500 mil são considerados graves e 21 mil resultam em morte. Mesmo afetando mais de 120 países, ainda é considerada uma mazela negligenciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O Aedes aegypti é considerado vetor de doenças graves como a dengue, a febre amarela, a Febre Zika e a chikungunya.
A recente associação do vírus zika com os recentes casos de microcefalia tem mobilizado sociedade e comunidade científica para o combate ao mosquito. O controle das suas populações é considerado, emergencialmente, assunto de saúde pública. Atualmente, a única forma de prevenção da doença é o combate aos mosquitos, eliminando os criadouros de forma coletiva, com participação comunitária, e o estímulo à estruturação de políticas públicas efetivas para o saneamento básico e o uso racional de inseticidas.
Em busca de alternativas para contribuir no combate do mal, pesquisadores do Núcleo de Bioprospecção e Conservação da Caatinga (NBioCaat), rede articulada pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTI), obtiveram resultados promissores no combate à larva do principal mosquito transmissor das doenças utilizando plantas da Caatinga.
Biopesticida da Caatinga
O pesquisador Alexandre Gomes, do Insa, em colaboração com outros pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que também integram o Núcleo, recentemente publicaram duas pesquisas utilizando óleos essenciais da umburana ou umburana de cambão (Commiphora leptophloeos), planta amplamente distribuída em todo o domínio da Caatinga, e da Cutia (Eugenia brejoensis), espécie da família da pitanga e goiaba.
Segundo Alexandre, a atividade do óleo essencial contra o mosquito é considerada eficaz quando alcança a mortalidade de 50% de um grupo de animais de teste. A dose utilizada na pesquisa foi de 99, 4 ppm (parte por milhão).
Ainda de acordo com o pesquisador, os próximos passos serão isolar os compostos majoritários presentes no óleo essencial e testá-los separadamente contra os mosquitos. “A proposta é desenvolver um biopesticida com compostos de plantas da Caatinga que possa contribuir para amenizar um problema tão urgente hoje na sociedade brasileira”, afirmou Gomes.
Inovação no combate à dengue
O controle químico com inseticidas é uma das metodologias mais adotadas para o controle do Aedes aegypti, porém o seu uso indiscriminado tem favorecido a resistência dos mosquitos ao procedimento.
Neste contexto, um biopesticida ainda não explorado pode contribuir significativamente para a eliminação dos mosquitos transmissores e, consequentemente, na redução dos casos de doenças como a dengue, a febre amarela, o zika vírus e a febre chikungunya.
A pesquisa utilizou plantas coletadas no Parque Nacional do Catimbau, em Pernambuco, mas elas podem ser encontradas em outros lugares do Brasil. A cutia, também é encontrada em Sergipe e do Espirito Santo. Já a Umburana de Cambão, está muito bem distribuída em quase todo o território da Caatinga.
NBioCaat
O Núcleo de Bioprospecção e Conservação da Caatinga (NBioCaat), é uma rede de pesquisadores de várias instituições do Brasil e da Dinamarca e existe a mais de dois anos. Uma das suas principais linhas de pesquisa é a utilização de compostos de plantas da Caatinga no controle de pragas, mas também existem outras vertentes como as pesquisas direcionadas à utilização no setor de cosmético, farmacológico, veterinário. Estas outras também já possuem diversos resultados concretos com a utilização da flora do Bioma.
Texto e Foto:Ascom do Insa