*MANIFESTO DAS ORGANIZAÇÕES SOLIDÁRIAS AO POVO TRUKÁ*
*"Morre o homem, mas não morrem os sonhos" (Neguinho Truká*)
*"A exemplo de Xicão Xukuru, o sangue das lideranças indígenas que
escorrem fecundam a terra e faz nascer novas lideranças" (Zé de
Santa – Vice-Cacique Xukuru)*
Nordeste: foi brutalmente assassinado, no dia 23 de agosto de 2008
mais uma grande liderança indígena Truká: Mozeni Araújo. Este dia
é mais um dia de sangue para o povo Truká. Mozeni Araújo foi
abatido covardemente na cidade de Cabrobó por um pistoleiro, a
crime de mando, em razão da luta histórica de seu povo pela
efetivação de seus direitos. O assassinato é mais uma tentativa de
fragilizar, fragmentar e desarticular o processo de organização
dos povos indígenas. Mozeni exercia um papel primordial de
ponderação, como facilitador, nos momentos de resolução de
conflitos nas lutas enfrentadas e sua morte é resultado de uma
ação premeditada, que busca silenciar a voz Truká.
se organizando há mais de 70 anos para retomarem seu território e
concretizarem o sonho dos seus ancestrais. Esse processo de
retomadas se inicia na década de 80 e se acelera na década de 90.
A retomada realizada em 1999 é divisor de águas para demarcação e
homologação em grande parte do território, e como conseqüência
surge uma série de ameaças e violência contra os Truká. Além do
embate com posseiros, o Povo representa forte resistência contra
grandes projetos desenvolvimentistas, como a transposição do rio
São Francisco, onde o território Truká encontra-se invadido pelo
Exército brasileiro, e as barragens de Pedra Grande e Riacho Seco,
que poderão trazer grandes impactos para a região ("Tudo isso é
uma serpente. A cabeça tá nos nossos irmãos Truká e Tumbalalá;
aqui, no Povo Anacé, está o rabo que é onde tá o pior veneno" –
João, do povo Anacé, no Ceará, referindo-se à transposição).
É nesse contexto da resistência heróica às fortes pressões
imprimidas contra esta comunidade que se inserem os motivos e
interesses que envolvem o assassinato de Mozeni Araújo, assim como
foi o brutal assassinato da liderança Truká Dena e de seu filho
Jorge, com apenas 17 anos, no dia 30 de junho de 2005, estes
assassinados por 4 policiais militares que estavam à paisana.Dena
como Mozeni eram lideranças importantes nos períodos das retomadas
de terra.
sistemático processo de criminalização com o forte aval de
segmentos do Estado brasileiro, principalmente, no caso do povo
Truká, por agentes policiais e pela promotoria local. Os caminhos
da criminalização e violência se estendem a outros povos indígenas
no Nordeste e no Brasil, destacamos: Xukuru de Pesqueira, os
Indígenas da Raposa Serra do Sol, os Guarani em Mato Grosso do
Sul, os Cinta Larga em Rondônia e os Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe na
Bahia.
"Nós que somos lideranças corremos este risco. Vivemos num
País sem lei. Aqui se tira a vida de uma pessoa como se matam os
passarinhos, principalmente em Pernambuco. É preciso que o mundo
possa nos ajudar. Hoje se não bastasse matar nossas lideranças
ainda tem o processo de criminalização. Vivo cercado de dois
seguranças, sobretudo depois que sofri um atentado e morreram dois
jovens que andavam comigo". (Marquinhos Xukuru ao desabafar e
lembrar de seu pai – Xicão Xukuru – que teve sua vida ceifada por
pistoleiros).
Há quinhentos anos que os povos indígenas são violentados nas
terras do Brasil. Escravizados, perseguidos e mortos, tiveram que
silenciar por séculos suas identidades indígenas como estratégia
de sobrevivência. É visível o nível de vulnerabilidade das
lideranças indígenas, constantemente ameaçadas e mortas; a força
do modelo político-econômico que violenta seus direitos; a
impunidade sobre os crimes contra lideranças; a demora nos
processos de demarcação e titulação-posse dos territórios
indígenas, como é o caso dos Truká e dos Tumbalalá, aceleram ainda
mais acontecimentos dessa natureza, apresentando-se como uma
verdadeira estratégia de vulnerabilizar, desgastar e intimidar a
luta dos povos indígenas.
"Hoje a gente sofre, com essa dor, mas tudo que Mozeni foi
para o povo Truká, nós não vamos deixar cair. A história do povo
Truká continua. Hoje tão matando o nosso povo, mas não vão
conseguir. Como fez o seu avó Acilon Ciriaco, Mozeni deixou seus
filhos, deixou seu povo e nós não vamos desistir não." (Pretinha
Truká).
MOZENI ARAÚJO era um homem de natureza terna e pacífica.
Conhecido pela forma ponderada com que lidava com a intensidade
dos conflitos iniciou muito jovem como liderança, construindo-se
nas lutas pela retomada de seu território, em seguida, trabalhando
como agente de saúde comunitário. Também era agricultor, logo cedo
entrou na luta em defesa da terra, da água e do Povo Truká. Foi
Vereador e atualmente era militante do PT e candidato a Vereador.
Sua história não permite que os Truká se calem e sua passagem para
o Reino dos Encantados nutre em seus herdeiros a força dos maracás.
Nós, diante deste crime repugnante, manifestamos nossa
indignação e principalmente nossa solidariedade com a família de
Mozeni Araújo e com o povo Truká. Exigimos as devidas
investigações sobre os crimes cometidos e que os responsáveis
respondam pelos seus atos. Exigimos que o Estado Brasileiro supere
a violência neocolonizadora e venha garantir em sua integralidade
os direitos fundamentais dos povos indígenas determinados nos
tratados internacionais e legislação nacional.*
povo Truká: seu grande espírito de luta! *
*ASSINAM ESTE DOCUMENTO:*
*APOINME, Articulação Popular do São Francisco, Articulação de
Mulheres Trabalhadores da Pesca do Estado da Bahia, Articulação do
Semi-Árido, MST, Movimento dos Pescadores da Bahia, MAB, MPA,
NECTAS-UNEB, CPP, CPT, CIMI, AATR, IRPAA, AGENDHA, CENTRO
MACAMBIRA, SINTAGRO, CONSEA – Petrolina, Centro de Cultua Luiz
Freire, Plataforma DhESCA Brasil.*
Postado por baixosaofrancisco no Articulação Popular do Baixo São Francisco