No último dia 24, a cidade de Cana Nova (BA) sediou reunião da Câmara Consultiva do Submédio, instância que é parte do Comitê de Bacia Hidrográfica do São Francisco – CBHSF. Na oportunidade, os membros do Comitê puderam expor posições acerca de alguns pontos de pauta previamente estabelecidos, bem como houve espaço para a plenária se manifestar.
Um dos temas mais discutidos foi a redução da vazão do lago de Sobradinho e Xingó, ação autorizada pela Agência Nacional das Águas – ANA no último dia 08. O CBHSF lançou nota de repúdio apontando que haverá “consideráveis impactos ao meio ambiente e aos usuários e populações, sobretudo do Submédio e do Baixo São Francisco”, diz a nota.
A redução das vazões é resultado de uma demanda apresentada pelo setor elétrico, através do Operador Nacional de Sistema – ONS e, segundo o Comitê, a ANA não levou em conta os prejuízos que isso causa aos demais usos que é feito da água, como por exemplo o abastecimento da população e a pequena irrigação. Para Carlos Eduardo, um dos representantes da sociedade civil no CBHSF esta decisão "ocorre sem que tenha tido uma negociação com a população na questão de se cobrir os impactos na vida das pessoas", lamenta.
No período de 2007/2008 a ANA também autorizou a redução da vazão do reservatório de Sobradinho e assim como desta vez a intenção era atender o setor elétrico, conforme denunciaram os membros do Comitê na reunião. "Quem paga a conta? A Chesf diz que não é ela", questiona Carlos Eduardo que integra a ONG Canoa de Tolda no estado de Sergipe, região do Baixo São Francisco. O presidente da Associação dos Barqueiros da Ilha do Rodeadouro, Israel Barreto, externou sua preocupação, temendo que a baixa do Rio possa comprometer a navegabilidade no acesso à Ilha que fica situada em áreas dos municípios de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE).
Além deste assunto, pescadores, educadores/as, militantes sociais e outros membros do Comitê chamaram atenção para os diversos impactos que o Velho Chico vem sofrendo. O lançamento de esgotos urbanos diretamente no rio, o uso desordenado da água para irrigação e outros projetos voltados para o agronegócio, a morte dos afluentes, e os futuros projetos de retiradas de água são alguns elementos que preocupam hoje os ribeirinhos.
A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba – Codevasf e a Companhia Hidroelétrica do São Francisco – Chesf foram convidadas, porém não compareceram para falar dos temas que as mesmas tem intervenção direta.
Visita ao Rio
No segundo dia da reunião, o grupo percorreu o trecho do Rio São Francisco partindo do Porto de Chico Periquito, em Sobradinho, até a Ilha do Rodeadouro. No percurso, diversas irregularidades foram percebidas, a exemplo de construções na beira do rio, queimadas, lixo, retiradas de água irregulares até recomposição da mata ciliar feita com plantio de eucalipto.